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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O orgulho nacional. O que é isso ?


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Portugal, como pais independente, que dura até hoje, tem as fronteiras mais antigas da Europa. Trata-se de um feito notável, num continente sempre em guerras, cheio de nações enormes e poderosas. Mas vale uma observação: A  Península Ibérica parece ter sido uma armadilha para povos que vinham de todos os lados da Europa, do Mediterrâneo, do Oriente Médio, Índia... Chegados às praias e costas marítimas portuguesas, ficavam presos e desanimados para voltar atrás. Chegaram alanos, suevos, alamanos, romanos, árabes, nórdicos, judeus, celtas, godos e visigodos, a misturar-se aos que já existiam desde a idade da pedra lascada e construíram antas. etc. Não há uma raça portuguesa!
Mas deve isso ser um motivo de orgulho nacional? Nasci em Portugal, e creio que sim. Mas quão forte e consistente, ou mesmo sensato é este meu sentimento
?
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Por um lado, fico orgulhoso disso, porque denota um "espirito" de justiça e de determinação, força e valentia, união, solidariedade, independência, constância, sintomas de muitas coisas boas. Ao pensar que meus ascendentes participaram de tantas batalhas, e que eu nasci, faz-me pensar que não houve nenhuma derrota que tivesse sido determinante para impedir o meu nascimento e minha boa saúde. Como ninguém gosta de ser perdedor, orgulho-me de ser um vencedor e agradeço a todo este mundo onde já vivi e a meus antepassados. Por outro lado, em qualquer nação do mundo fala-se na história da Inglaterra, da França, da Espanha... Mas nada de Portugal. Como se nos vissem diferentes do modo como nos vemos. Quando se fala fazem referência a "tráfico de escravos", felizmente não a piratas, e nem sabem que fomos das primeiras nações a acabar com o esclavagismo, talvez a unica a, de forma muito natural, não impedir as relações sexuais entre índios, negros, hindus e brancos. Talvez esse "desinteresse" ou "desaplauso" internacional por Portugal advenha dessa "promiscuidade" inter-racial que para eles, povos "brancos" da Europa (e depois dos EUA) era quase um pecado. Que lhes importa que meus antepassados tenham descoberto os segredos da navegação em alto mar, a indústria naval, aberto os caminhos para desvendar este planeta? Ainda hoje, se perguntarem a qualquer estrangeiro sobre o mapa da Península Ibérica, acham que toda a península é a Espanha.

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Mas onde nos pode levar toda essa "euforia" do orgulho nacionalista? A história, ou melhor, os ventos da história se encarregaram de transformar o meu pais, que tinha nascido pequeno, que cresceu até ficar do tamanho do mundo inteiro, e levá-lo de volta a seu tamanho original. De uma outra forma, aconteceu com Roma, o Egito, os Hunos, a Alemanha de Hitler, a França de Napoleão, a Espanha que já quis ser dona do mundo incluindo países baixos e Itália. Esta "ambição" não pode ser apenas financeira. Trás embutida uma sensação de "supremacia" de suas populações, algo tão próximo do endeusamento, e do não se misturar para não se conspurcar, que tem levado nações inteiras ao mesmo futuro: Voltarem a reduzir-se a suas dimensões originais por total incapacidade de de miscigenarem e passarem a fazer parte da "sociedade" invadida. Não sou admirador de Alexandre o Grande, mas nesse ponto ele estava certo ao promover a miscigenação entre seus soldados e as populações invadidas. Se Maquiavel lhe tivesse escrito "o príncipe", o extremo e o Médio Oriente falariam uma língua derivada do grego, mas Maquiavel veio muito depois, era veneziano pensava mais ou menos como Napoleão. Cada um por si não valem muito mas juntos poderiam ir muito pra lá do Rio Indo.Resultado de imagem para mistura de racas brasil

Não... O nacionalismo não nos trás coisa boa. Posso ver até as terras internas das fronteiras portuguesas atuais virem a ser preenchidas por gentes que nem queiram saber quem foi Afonso Henriques, Pedro Álvares Cabral, Santo António, Camões, João XXI, Fernando Pessoa, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, D. João I, Infante D.Henrique, Vasco da Gama... Nem nada da cultura portuguesa do vinho, dos enchidos, da vida familiar das aldeias portuguesas. Talvez venham a falar língua diferente, mas o que isso importa? O que importou ao poo judeu quando teve que se exilar para a Babilônia, o Egito, a Europa e a Alemanha, o que importou aos portugueses que tinham vindo para o Brasil e foram apanhados em meio a um movimento de independência? O que aconteceu aos espanhóis apanhados pelos movimentos bolivarianos de independência? E aos ingleses nos EUA depois que o "May Flower" jogou a carga de chá ao mar em Boston? Seus lugares já não eram Israel, Portugal, Espanha ou Inglaterra... Na verdade nem importava se havia ou não lugar para eles em sua terra natal. A Verdade é que eles já não eram de "Lá"...

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Quem fica sofre mais, por que vai vendo aos poucos o mundo lhes "invadir" as portas sem perceberem que são produto de um mundo em que "nós" é um termo muito complexo e indefinido. As individualidades vão ficando cada vez mais reduzidas a insignificantes hordas sem corpo nem cabeça, de suicidas que ainda querem ser "puros", individualistas, que não se querem misturar com gentios. A ortodoxia deve ser respeitada, mas o mundo é muito maior que isso e tem apelo muito maior.
Quem compuser o último rock, o último fado, o último tango, que me mande o link por favor, pra ver como ficou e matar saudades... E segurem as crianças... Ensinem-lhes sobre o que seja "viver neste mundo" cheio de gentes e "coisas" diferentes, e não numa ilusão confortável que lhes construímos para as poupar. Não se poupam crianças. Elas percebem e acabam por nos criticar por não lhes mostrarmos o mundo como é... Sei disso perfeitamente porque já fui uma e me lembro muito bem. 


Quanto ao orgulho de ser descendente disto ou daquilo, ser desta ou daquela nacionalidade, você nem imagina que genes você carrega...



Rui Rodrigues

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