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sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Holojogo do Animauta.



O Holojogo do Animauta.

Não sabem o que é um Animauta... Claro... Não faz parte de nosso quotidiano. E também não sabem o que é um holojogo... Evidentemente, pela mesma razão, mas é apenas uma impressão. Ambos fazem parte de nosso quotidiano. O difícil de tudo isso é perceber onde estamos. O Animauta não se vê, já o holojogo, esse é jogado a cada segundo, centésimo de segundo, microssegundo... Mas vejamos o que são e como começou tudo isto.


Eram uns cérebros gordos, descomunais recobertos por uma película, uma membrana pegajosa cor de rosa. A caixa craniana há muito se fora, senão não poderiam ser paridos pelas mães. Cérebros tão grandes tinham que ficar apoiados numa plataforma fixa perto do corpo. Este já não era necessário em sua totalidade. Por exemplo, não tinham pernas, mas seus dedos eram mais finos e exímios, com braços fortes e curtos. O resto era abdômen. Há alguns milhares de anos já não eram muitos. Depois ficaram poucos e finalmente sobrou apenas um. Um apenas, num planeta que já fora imenso, ficou extremamente pequeno e finalmente voltara às origens: Era um vasto planeta para tão pouca gente. Ficara despovoado depois que a vontade de viver foi ficando comprometida pelo conforto de ter tudo o que era necessário sem ter que se mover muito, e pela frustração de não haver nada mais para descobrir. Todos os segredos do Universo já eram conhecidos. No banco de óvulos e de esperma havia espécimes de todo o tipo, mas nas ultimas centenas de anos ninguém se animara a forçar a reprodução para repovoar o planeta, agora um ambiente natural, povoado por uma fauna primitiva, diversa, em meio a luxuriante vegetação. Durante o crescimento populacional seus antecessores tinham extinguido toda a fauna e flora e tiveram que repovoar o planeta com espécimes originados de manipulação genética. Nenhum fruto era proibido. Havia rios, lagos, mares, atmosfera com aves nos céus. Era um paraíso. As velhas cidades estavam cobertas de vegetação, e do que fora outrora a última cidade, restava um imenso edifício, automatizado, suprido por energia eólica e solar. O único ser vivo, um cérebro imenso, locomovia-se em um veículo que percorria todos os andares do edifício. Trabalhava num projeto muito particular. O derradeiro projeto. O projeto dos projetos. Sabia que não teria ninguém para o aplaudir, mas isso não tinha a menor importância. O que o movia era o estudo da eternidade saudável, não aquela “eternidade” longeva que aborrecia os seres vivos e os fazia desejarem a morte, o esquecimento. Ele mesmo tinha já uma idade de quatro mil anos. Levou seu carrinho até um enorme salão cheio de aparatos eletrônicos e vários dispositivos de potentes raios laser. Dirigiu-se a um enorme telescópio eletrônico dotado de um dispositivo que o mantinha sempre fixado em um ponto do espaço. Era um planeta médio na escala dos planetas sólidos, perto de uma estrela.
Antes de iniciar o projeto, dar-lhe vida, colocá-lo para funcionar, olhou para o seu planeta. Precisava avaliar o que iria fazer embora tivesse tido muito tempo para isso, consciente de que sempre é necessária uma revisão global e minuciosa. Nada poderia dar errado. O planeta em questão, onde instalaria o seu projeto tinha sido uma massa ígnea até alguns poucos milhares de anos atrás. Agora os oceanos eram de hidrocarbonetos. A temperatura era elevada ainda, entre sessenta graus durante o dia e trinta graus à noite. A atmosfera era irrespirável, mas não para todos os seres vivos possíveis. Tinha duas opções: Ou realizava seu projeto numa fase adiantada, e para isso teria que esperar alguns milhões de anos, talvez bilhões, ou o realizava numa fase inicial, como quem faz uma estátua de barro e lhe dá vida depois. Resolveu que o barro não era adequado. A vida deveria brotar por si mesma, evoluir. Cada ser vivo sofreria a morte de uma forma natural, e seus corpos evoluiriam ao longo de gerações. Mas por onde começar? Resolveu que começaria do átomo, que evoluiria para um conjunto de átomos para constituírem moléculas, e destas moléculas uma delas adquiria a vida. Ela se reproduziria inicialmente por divisão de si mesma. Outras formas surgiriam, e delas algumas teriam a capacidade de cruzar com outros de sua espécie para gerar novos seres “vivos”.  

Chegou a pensar que, se tudo desse certo, iria ao centro de reprodução, manipularia óvulos e espermatozoides e voltaria a povoar o seu próprio planeta, porque haveria uma grande motivação para viver, como num jogo. Daria a esse jogo o nome de Holojogo, porque seria baseado em um sistema complexo de holografia. Mas pensando bem, para quê voltar a repovoar o seu planeta, se logo acabariam com a flora e a fauna, poluiriam rios, lagos e mares, e a própria atmosfera? Talvez o melhor fosse ter em seu próprio planeta os seres que iriam povoar o tal outro em que o telescópio se fixava. Ele assistiria a toda a evolução, como num jogo da vida. Para gerir o sistema, ele o automatizaria sem necessidade de auxiliares de sua própria espécie. Uma faísca pulsou em seu cérebro como uma tempestade com raios e trovões: Há muito não se falava em como eles próprios se tinham originado, os de sua espécie, e toda a vida naquele planeta. Os velhos livros falavam de deuses, depois de um só deus, e finalmente de vários deuses todos dizendo que o seu era o “original”. Mudavam-lhe o nome, mudavam-lhe os conceitos de suas características, e cada um via seu deus de sua forma de acordo com as suas necessidades de fazerem o que queriam e simultaneamente terem a aprovação de seus deuses para os seus atos. Era uma forma cômoda de viver, de acalmar a consciência para seus nefastos e desastrados atos. 

Passaram muitos anos até que se decidisse. Pensou de uma forma lógica a que estava habituado, sem paixões, fixando-se no que é absolutamente necessário: Sentir que se está vivo; ver que tudo evolui para ter uma motivação a continuar vivendo; ter esperanças de que o “mal”, tal como as doenças, possam ser neutralizadas; ter conhecimento paulatino do mundo que o rodeia na medida em que sua capacidade de entendê-lo também evolui para não sofrer choques culturais; sentidos e sentimentos, ou a falta deles. Tudo de uma forma aleatória porque todas as formas e estados de vida podem ser úteis no sentido de se adaptarem às alterações do ambiente em que vivem. E decidiu-se. Lá longe, no planeta que esfriava, perto da estrela, num mar de hidrocarbonetos, um raio laser provocou a divisão de um conjunto de moléculas, e cada um dos dois pedaços deu origem a mais dois, e logo, em poucos anos, o planeta estava povoado por moléculas que se dividam e dividiam até que uma delas “nasceu’ com uma diferença substancial: Era um ser realmente vivo, que se alimentava das outras moléculas e tinha a capacidade de se reproduzir a si mesma. Estas se dividiram em moléculas que se alimentavam do substrato do planeta transformando os hidrocarbonetos em moléculas de água que liberavam oxigênio, e outras se alimentavam destas. Os dois primeiros reinos da vida estavam formados. Através da holografia, seu planeta recebia as imagens desse outro distante. Era um prazer ver a evolução que nele tinha lugar, tudo sendo reproduzido em cada canto de seu planeta. Estava satisfeito. Sua vida agora tinha um sentido, uma diversão. Lamentava que umas células – agora já eram células – se alimentassem de outras frustrando-lhes e interrompendo-lhes a vida, mas isso era fundamental para manter a atividade do planeta, uma luta constante, descobertas constantes, manter os princípios que o levaram a implantar o seu projeto. Logo apareceram os primeiros seres vivos. E quando já seres vivos palmilhavam o planeta caminhando com seus próprios pés, olhando tudo ao redor, viu que sua obra era perfeita. Seu equipamento holográfico seria perene, num edifício auto-sustentável, num planeta absoluta e completamente natural, sem nenhum ser vivo que o conspurcasse. Na verdade, e sem falsa modéstia, julgava-se um pequeno deus. Os seres holográficos que povoavam agora o seu planeta, à mistura com outros, eram a cópia exata dos que povoavam a Terra, aquele planeta que tinha uma estrela a que dera o nome de Sol. Nenhum ser que nele vivia tinha controle estranho. Todos tinham o poder de agir como queriam dentro de suas possibilidades reais. Era o livre arbítrio. Quando ainda mais tarde viu que alguns seres humanos monstruosos, enormes, destoavam em tamanho e poder sobre os demais, pensou em eliminá-los usando seus raios laser, mas não foi necessário: Uma das catástrofes naturais se encarregou desse trabalho, um enorme meteoro que acabou com todos eles em função do inverno nuclear que adveio depois da queda do meteorito. Lembrava explosões nucleares como aquelas que seu próprio planeta sofrera quando havia ainda muitas raças, muitas religiões, muitas fronteiras e cada nação lutavam pela hegemonia de todo o planeta. Os bípedes, os homens e mulheres, à sua semelhança, surgiram logo depois de eliminados os enormes seres, os dinossauros.

Na verdade, criara um mundo tão independente e tão auto-suficiente, que nunca interferiu nele direta ou indiretamente. O interessante era ver como evoluía e como os seres vivos se adaptavam ao ambiente que sempre mudava. E de tudo tinha uma certeza: Como evitar pensar que lá longe, naquele planeta distante, não pensassem que havia um deus que tudo fazia? Mas não... O interessante não era fazer tudo, mas que do nada o tudo surgisse com a capacidade de evoluir, de se transformar senão não haveria o Holojogo e isto é o que mantinha vivo, apesar de só, com uma perspectiva de vida eterna. Como passar o tempo eterno senão assim?


(© by Rui Rodrigues)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O livro vermelho do Crack – Tiragem bilionária.



O livro vermelho do Crack – Tiragem bilionária.

São dois assuntos: O livro e o Crack. Comecemos pelo livro.

Um bom livro tem uma capa bonita, atraente, endossos de gente famosa ou figuras públicas que o recomendam, conteúdo que tanto pode ser polêmico quanto francamente construtivo, ficção, romance, qualquer tema que tenha bom público e o texto esteja dentro da lei, admitindo-se que não haja censura num regime democrático. Assim os livros se vendem. Alguns têm tiragens de milhões de exemplares, os famosos “best-sellers”. Fato interessante, o livro vermelho de Mao (Mao Tse Tung, o líder chinês que fez uma grande marcha e foi o líder máximo do comunismo na China) teve uma das maiores tiragens mundiais. Um tema interessante ainda que polêmico apoiado por figuras públicas internacionais que o recomendavam, mas não foi vendido. Foi imposto por uma ditadura que obrigava à sua leitura por pequenos comitês que invadiam salas de aula, empresas, templos, casas e liam trechos de sua Eminência o líder máximo do comunismo chinês, Mao Tse Tung.
Imaginemos que esse livro fosse editado hoje, pela primeira vez para venda na China... Venderia muito pouco porque o livro não diz nada com nada, é uma ficção e por isso mesmo a China já não é comunista. Seria um fracasso editorial, ainda mais quando, aqui pela América do Sul, as FARC – Forças revolucionárias da Colômbia, que se supunha estar do lado dos “campesinos”, pobres e miseráveis, se uniram ao tráfico de drogas, dando como justificativa que precisavam de dinheiro. De dinheiro todo mundo precisa, muito mais nos países já mortos ou moribundos de comunismo, exatamente onde, por lógica, falta dinheiro. O comunismo, tal como no livro vermelho de Mao, foi muito bonito enquanto os países comunistas se ajudavam “socialmente” uns aos outros. Quando o dinheiro acabou, o “comunismo” sumiu. Mas o capitalismo nem é muito melhor, e o capitalismo “selvagem” é até pior. O socialismo está em cima do muro balançando sem saber para que lado cairá, mas há fortes indícios de que está caindo para o lado do capitalismo. Parece até que os cidadãos são o que menos interessa, desde que estejam dispostos a votar em cômodas eleições [1]e eleger novos governantes a cada quatro ou cinco anos. Basta passar uma vista de olhos na história e nos últimos governos socialistas da Itália, de Portugal, da Grécia, na Europa em crise disseminada pelo continente afora, para vermos que os “socialistas” acumulam capital com pobres pelas ruas. Alguns julgados, condenados, livres vivendo em Londres e outras cidades com o dinheiro desviado das verbas públicas...
E a necessidade de “fazer dinheiro”, aliada à “necessidade” de deter o poder, nos remete à guerra do Ópio entre a Inglaterra e a China, cada uma destas nações lutando para definir quem distribuiria o ópio entre a população chinesa e mundial. Com o final da guerra do ópio surgiu a Republica de Taiwan com Chiang Kai-shek no poder. Sim, o Reino Unido já desejou no passado controlar a venda do ópio sem se incomodar se o ópio destruía vidas, famílias, sociedades.

Visto que o mais importante lhes parece ser faturar, quer a comunistas, socialistas ou capitalistas, vamos agora nos deter no crack para vermos se vale a pena escrever um livro sobre esse assunto, e obrigá-lo à leitura em templos, salas de aula, lares, empresas privadas e públicas.

O crack é uma droga feita à base de pasta de cocaína com adição de bicarbonato de sódio. Normalmente é fumado. Em cerca de dez segundos chega ao sistema nervoso central e ao cérebro onde produz enorme onda de euforia que dura de 3 a 10 minutos. É tiro e queda. A vontade é tomar mais uma dose para sentir aquela euforia toda. Não dá para sair mais. Entrou no crack, não pára mais. Há tratamento, sim, mas é necessário - dizem todas as fontes de pesquisa médica - que o dependente químico esteja disposto a sair do crack. Não se sai dele sem ajuda e vontade de largar. Não há a mínima hipótese. No Brasil há cerca de seis milhões e seiscentos mil dependentes químicos de diversas drogas entre elas o crack[2]. Os traficantes têm lucros fabulosos porque os dependentes químicos fazem qualquer coisa para pagarem as suas doses: Uma boa parte rouba e mata. Não pagam impostos. Ao tráfico não interessa como o dinheiro chega até as suas mãos. O que interessa é que cheguem com dinheiro para comprar. É comum mulheres bonitas, com instrução, se transformarem em escravas sexuais dos traficantes como forma de pagar o consumo. Depois as largam na sarjeta. É nesta fase de completo desespero e abandono que homens e mulheres sentem a necessidade de largar as drogas, mas o seu centro de prazer, o cérebro, comina em contrário e os obriga a voltar ao consumo. O custo de uma diária para tratamento em clinica particular chega aos R$ 100,00. Uma internação mensal custa hoje, em maio de 2013, cerca de R$ 1.500,00.

Façamos as contas...

Seis milhões e seiscentos mil dependentes, se obrigados à força ao tratamento em clinicas particulares, ao custo de R$ 1.500,00 produziriam nesse mercado um capital mensal de R$ 9.900.000.000,00 Ou seja, dez bilhões mensais, e em um ano, R$ 118.800.000.000 (cento e vinte bilhões de reais). É um mercado considerável, se o associarmos ao tráfico de drogas que “emprega” tanta gente. Um “senhor” hiper-mercado...

E perene, como um negócio para “toda a vida”, visto que são raríssimos os que, mesmo com vontade de deixar as drogas, fiquem “limpos” por mais de dois anos após o tratamento, e muitos menos ainda ao final de três, quatro, cinco anos. Em outras palavras, os dependentes químicos entram nas unidades de tratamento, ficam por lá uns tempos, saem e voltam, saem e voltam, saem e voltam... É um comércio perene. Podemos fazer vários exercícios financeiros sobre a movimentação do mercado do tráfico no Brasil e verificar que movimenta bilhões por dia, não por mês. Mas há vários problemas. O primeiro deles é que os dependentes químicos deixam de produzir dinheiro porque acabam incapacitados para o trabalho. Segundo, que uma sociedade tem um limite para suportar cidadãos inertes que não produzem nada (os aposentados que trabalharam a vida inteira são os primeiros a sofrer). Terceiro, que com tanto dinheiro envolvido e que é necessário “lavar” podemos apostar que se os traficantes resolveram investir na política decerto já fizeram eleger algum deles, ou muitos, ou feito eleger “simpatizantes” da causa (esses eleitos fariam uma revolução nas leis, soltando quem deveria estar preso, repondo em cargos públicos quem foi condenado). E as leis estão sendo revertidas de forma drástica. Quem não toma drogas está perplexo, quem as toma se sente mais livre para tomá-las. Quem mata e fere pelas drogas sente-se no paraíso por saber que está impune, e mesmo sendo preso terá excelentes “salários-presídio”. O planeta transformou-se num cubo, a geografia do Brasil em duas dimensões: No comprimento a escala das drogas, na altura, o valor do faturamento.

Então a novidade: O Estado Brasileiro aprova lei de internação compulsória de dependentes químicos e a união pagará a conta, isto é, nós, os trabalhadores, pagaremos a conta. Como o consumo de drogas está aumentando, logo se falará de trilhões que o Estado pagará às empresas que tratam de dependentes químicos. E aparecerá o quarto problema que está na base da lei: Não há intenção de acabar com as drogas nem com o tráfico de drogas porque dão dinheiro e movimentam trilhões de reais, de dólares, libras, coroas, pesos... Teremos presidentes, senadores, deputados, egressos do tráfico de drogas e as empresas de tratamento, ricas da noite para o dia, contribuirão para as campanhas políticas que elegerão novos presidentes, quem sabe, vindos do tráfico. Afinal, o que quer uma clinica de tratamento de dependentes químicos senão que o consumo de drogas aumente?

E aí está, senhoras e senhores, a história do livro vermelho de Mao que, depois que o comunismo acabou em todo o mundo, renasce agora no Brasil com o governo do PT como uma elegia ao “consumidor” através de “bolsas-tipo”,que induzem o cidadão a esperar uma ajuda do Estado, um modo de vida... Poderia ter como título “O livro vermelho do Crack”.

Muitos e muitas não entendem que o PT e a base aliada são realmente capitalistas altamente selvagens. Dizem que são socialistas com tendências revolucionárias ao comunismo e vão transformar o Brasil num país igual a Cuba, à Venezuela de Chavez Maduro que são a expressão do paraíso... Pura ilusão! E os 6.000 médicos cubanos certamente não irão trabalhar em clínicas para recuperação de dependentes. Talvez Cuba esteja atravessando um mau momento econômico por ter formado exclusivamente médicos... Seis mil disponíveis na ilha, dá o que pensar...  Mas sempre mais vale prevenir do que remediar. Por isso, mantenham seus filhos longe do crack, longe do PT...


Rui Rodrigues.


Para consulta sobre custo de internações:




[1] Cômodas porque deixamos que votem nas Câmaras o que nós mesmos poderíamos votar via redes sociais.
[2] Em maio de 2013, o Brasil já é considerado como o maior consumidor de crack em todo o mundo. 

terça-feira, 28 de maio de 2013

RecaPiTulando...O PT

RecaPiTulando...
 Dilma em interrogatório no DOPS

Ainda que fora de ordem, a desordem governamental e a da listagem a seguir, há que fazer um balanço da gangorra guilhotinante em que se transformou o partido dos larápios que já foi um dia o digno partido dos trabalhadores. É o que se vê nos jornais, nas ruas, na net:

  1. Brasil (entenda-se sempre o PT de Lula e Dilma) perdoa dívida aos países africanos – 1 bilhão e oitocentos milhões de Reais – Claro que todos nós somos muito bonzinhos e temos pena de cidadãos desprotegidos do capitalismo, mas aqui no Brasil há tantos milhões, que, a bem da verdade, se não se permitissem loucos no governo, estes teriam preferência para a aplicação de 1 bilhão e oitocentos milhões de Reais em seu desenvolvimento para poderem enfrentar o mercado de trabalho, ter assistência médica decente sem ideologias políticas, mais segurança, e também redes de água potável, coleta e tratamento de esgotos, etc... Os petistas devem estar felizes. São todos ricos e têm tudo. Ou não, dona Dirma ???? Claro que não, Dona Dirma.. Todos sabemos que esse perdão é um “investimento” da iniciativa privada com dinheiros públicos, para que ganhem projetos, investimentos e obras nos países perdoados. Não é, dona Dirma ???? [1] O que a Polícia Federal tem que investigar é se a senhora dona Dilma, o Lula, ou a cúpula dos aliados no governo está ou não sendo beneficiada “p-a-r-t-i-c-u-l-a-r-m-e-n-t-e” com isso...
  2. Brasil (entenda-se sempre o PT de Lula e Dilma), perdoa cem milhões de reais à Bolívia[2]... Esse perdão foi do Lula...O raciocínio é o mesmo do item anterior e para o perdão da dívida cubana.
  3. Brasil (entenda-se sempre o PT de Lula e Dilma) agem sobre a Petrobrás, da mesma forma que sobre a Vale do Rio Doce... E em todas as empresas com participação mista do governo e da iniciativa privada. O caso da Petrobrás é triste: Em Pasadena[3], nos EUA, envolveu-se na compra de uma refinaria e perdeu nada mais nada menos do que dois bilhões e quatrocentos milhões de reais; o que nos coloca na situação de sermos bonzinhos (perdoamos dívidas) e burros para negócios; Evo Morales da Bolívia, incitado pelo já falecido Chavez da Venezuela e de quem Lula e Dilma são muito amigos, tomou as instalações da Petrobrás[4] no grito; Com tantos poços em perspectiva em território nacional, a Petrobrás investe fora das fronteiras[5] onde tomam instalações, lhe passam a perna, como se a Petrobrás estivesse interessada no prejuízo que dá lucro, mas não sabemos ainda a quem dá lucros, e nos faz pensar em depósitos fenomenais em contas particulares como “agrado” pelas perdas ou perdões de dívidas, assunto para a Polícia Federal...; Com tantas perdas e para dar lucro, a Petrobrás aumenta o preço da gasolina, um absurdo lulesco, petista, de filho que desperdiça a fortuna do pai e do país[6], causam consternação na população, inflam os preços dos produtos que dependem do petróleo;
  4. Sobre o mensalão que Lula nunca admitiu existir, já todo o Brasil sabe que existiu. Houve indiciamentos, julgamentos e condenações. Os condenados estão livres, atuam em suas funções anteriores ao julgamento. A sensação para o brasileiro comum é que não há justiça. O supremo juiz que com tanto empenho conduziu os julgamentos, foi uma indicação de Lula. Os julgados, ex-colaboradores de Lula. Pode chegar-se a diversas conclusões: 1- Lula usou o juiz supremo para liquidar com seus ex-colaboradores, 2- O Juiz julgou com isenção em suas funções, indo contra a vontade “natural” de Lula, que seria a de absolver os seus ex-colaboradores, 3 – Como o mensalão se destinava (ou ainda se destina) a comprar votos de senadores, então Lula sabia direta ou indiretamente do esquema embora negue veementemente, 4- Os senadores que participaram do mensalão como receptores de valores devem também ser julgados por traição à Pátria, assim como os já condenados, visto que o fator “traição à pátria” não foi considerado no julgamento, e deveria.
  5. Ninguém consegue viver com quatro reais (ou dois dólares) por dia. O Banco Mundial estabelece este valor para definir o patamar abaixo do qual se considera um ser humano como pobre. Usando este fator, Lula, Dilma, o PT em geral, afirmam que, através da Bolsa-família tiraram cerca de cinqüenta milhões de brasileiros da pobreza. Estes “pobres” continuam pobres, e com quatro reais ninguém deixa de ser pobre e dificilmente se agüenta vivo ainda mais num país como o Brasil com altos índices de inflação. Como política social o bolsa-família é uma desgraça porque embora não resolva os problemas financeiros de um ser humano, os alivia ao ponto frear a necessidade de trabalhar, uma vez que são “vitalícias”. Não há controle sobre os gastos do bolsa-família que deveriam ser usados como um sistema de “cartão de crédito”. Assim se saberia se o dinheiro foi ou não usado em drogas ou para pagar prestação de automóvel.
  6. Dona Dilma costuma fazer “pequenas” mas custosas demonstrações de riqueza [7] com o dinheiro público. Certa vez foi ao Vaticano com farta comitiva, hospedando-se em hotel de luxo e gastando milhões de reais. De uma pirua deslumbrada com a riqueza do marido até se pode esperar uma coisa dessas. Não de uma presidente do Brasil. Haja catástrofes ou não, Dona Dirma está sempre se ausentando, até para visitar velhos amigos que lhe pagaram seus custos de guerrilha quando era mais nova e ainda tinha ideais. Ainda mais quando se sabe que comunista não costuma ter religião.
  7. A esquerda intelectual largou o PT, tem raiva do PT, despreza o PT. Enquanto era solidária, tivemos um PT respeitável embora se duvidasse de seus métodos. Foi um período de espera e avaliação. Quando o PT passou a incluir incompetentes guerrilheiros – não guerrilheiros vitoriosos, mas perdedores – em suas fileiras, o PT afundou, foi para o abismo do inferno. Hoje é um partido execrável, que usa métodos de moral e de ética no mínimo duvidáveis, certamente execráveis para sobreviver. Formou alianças com quem segue o mesmo desvio de comportamento e chama a isso de “base aliada”, impregnando tais partidos do mesmo mal. Nossa política está doente.
  8. As obras do PAC não andam. A presidente tomou o controle de tais obras e controle de custos. Os empreiteiros pedem e ela dá. É refém das empreiteiras. Isso não está de acordo com a capacidade que deveria ter como presidente e muito menos com a capacidade que se espera de quem é formado em economia. Os conhecimentos que Dilma demonstra ter de economia são mais parecidos com os de uma comum dona de casa habituada a fazer compras na feira com o dinheiro do marido rico.
  9. Marcada pela repressão da ditadura, Dilma mantem-se fiel aos idealismos comunistas já fora de moda e de uso. Só existe atualmente um país comunista e mesmo assim em transição: Cuba. Todos os outros abandonaram o comunismo. A posição retrógrada da presidente faz-nos meditar sobre sua saúde mental ou sobre sua clarividência do momento político atual. Ao que parece temos uma presidente do século passado governando o Brasil de hoje e do futuro, e que para cúmulo costuma usar uma bandeira do Brasil, ainda que de modo discreto, pintada de vermelho. Dona Dilma deve estar sonhando acordada.
  10. Tendo havido um vazamento de informação sobre o fim do bolsa-família, Dilma de dedo em riste afirmou que daria instruções à Polícia Federal para punir os culpados do boato. Mais tarde se soube que o vazamento partiu da própria Caixa Econômica federal. Como não vai punir ninguém, dona Dilma? Justiça é justiça. Se houver que punir que se puna, nem que seja a senhora.  Mas PT é assim: Duas palavras, duas injustiças. Se não é, que se expliquem, porque parece e é notório.
  11. Há muito mais.. Há muito mais, mas por agora chega que já estamos enjoados.  
 Dilma como nova rica gastando sem dó nem piedade
Rui Rodrigues

Rumos da política portuguesa.



A fuga das Galinhas, a fuga da Nação
Rumos da política portuguesa.

Faz parte da vida o não sabermos como acabarão os nossos dias.

Vivemos num planeta bondoso onde a alienação nos permite viver o dia a dia sem a preocupação com o dia de amanhã. É-nos proibido adivinhar o futuro. Dele temos apenas algumas indicações que mesmo assim nos parecem sempre como apenas indicações, mas nenhuma certeza de que correrá nessa direção. Tanto é assim que, apesar de dizermos á boca pequena que a história se repete, nunca acreditamos nisso. Encolhemos os ombros e seguimos em frente. Alguns religiosos rezam ao seu deus, os ateus não precisam disso e o sabem bem: Numa nação de religiosos e ateus, todos são apanhados, quase sempre de surpresa, pelo futuro. Nem perdem tempo com as rezas, mas também não o aproveitam para construir o futuro.

Uma ida aos cafés, a reuniões de amigos, ouvindo pelas ruas, escuta-se muita coisa, como por exemplo:

- O Paulo Portas afinal está a ser igual aos outros. É mais do mesmo...
- E o Isaltino de Morais? Grande ladrão. Como roubou aquele gajo.
- Dizem que o bochechas não era flor que se cheirasse debaixo daquela capa de buldog dos bonzinhos... Parece que até esteve envolvido no caso Camarate...
- Não se consegue viver assim... Sem empregos vamos viver de quê? Este governo não muda nada? Estávamos tão bem e de repente... Zás! Estamos na rua da amargura.
- Olha lá... Mas os ricos continuam bem... Só aumentou o numero de pobres. Há gente com fome.
- E  troika? E a troika?... Eles que mandam e não nos perguntam nada. 
- Hoje eu escrevi umas e boas no facebook com críticas ao governo. Até fundei um grupo contra a corrupção... Como se adiantasse alguma coisa. Ninguém lê... 
- E o que é que o Cavaco está a fazer? Não faz nada. Não pode fazer nada. É uma cara e custosa figura decorativa. Se pelo menos falasse alguma coisa que prestasse..

(E são muitas as reclamações... Não têm fim. Já se reclamava de Salazar, antes dele, depois dele, e logo a seguir ao 25 de abril tudo pareceu ser uma primavera portuguesa. Então, de repente, em 2003 e 2004 vendeu-se ouro do tesouro nacional às toneladas. Disseram que era uma exigência de Bruxelas. Não era. A administração pública não administrava nada, os cabides de emprego não podiam ser despidos, havia compromissos. O melhor seria prorrogar a crise vendendo ouro e mantendo os cabides, os armários, os anéis. Os dedos ficariam para depois)

As perguntas e as afirmativas acima sempre recebem frases conclusivas e paralisantes:

- Sempre foi assim e será. É só mais uma crise.
- Isto logo passa, vais a ver...
- Olha que atrás de mim virá quem de mim bom fará...
- Então? As coisas são mesmo assim. Temos é que estar preparados.
- Olha... Manda quem pode e obedece quem tem juízo...
- E querem o quê? Que se mude tudo da noite para o dia?
- Não adianta!.  Eles não nos escutam e lá sabem o que fazem.
- Nas próximas eleições votem em outros.

(E há outras frases retumbantes, lapidares. A de que nas próximas eleições se vote em outros, é a mais castradora, a mais decepcionante e frustrante de todas: Seja qual for o candidato, ele faz parte de um sistema a que se obriga a acompanhar, apoiar, apadrinhar. É a oposição – quando a há – que aprova as contas da posição, que mais tarde será oposição e terá que aprovar também as contas de sua coadjuvante no governar. Nada muda, eternamente. Só os nomes dos políticos. Nossos avós podem atestar que sempre foi assim).

E passam-se os séculos nisto: Duas ou três revoluções em nossa história e, entra sistema sai sistema, continuamos num galinheiro onde todos fazem as suas necessidades políticas, com umas raposas de guarda e um galo apavoneado que se intitula de presidente do galinheiro mas não canta. O filme “a fuga das galinhas” é impressionante em sua semelhança com o nosso reino democraticamente constitucional. Enquanto isso olhamos para o galinheiro e vemos que nos roubam os ovos todos os santos e os diabólicos dias. A população do galinheiro diminui todos os anos, algumas galinhas e alguns frangos conseguem voar e pular a cerca. Chamam a isso emigrar. Eu chamo de um movimento de diáspora, porque uma empresa anônima, o governo, tomou conta de tudo, subverte a ordem com corrupção, troca uns por outros iguais, e obriga ao abandono da Pátria. Nenhum emigrante sairia se tivesse oportunidade de ficar. Não sai para arranjar emprego e não fica por que não tem emprego.

Com a crise do crescimento populacional, segundo a qual e pelas estatísticas seremos apenas cerca de sete milhões e meio em mais duas décadas, a crise se resolverá. Será um país que não encolheu a ser dividido por uma população 25% menor. Depois as coisas melhoram e alguns emigrados voltam por saudades, não por necessidade. Normalmente voltam bem de vida, com mais instrução e mais dinheiro no bolso, e serão obrigados a ouvir que são “portugueses de segunda”, ou “retornados”... O país é de quem fica, não de quem saiu, o que não nos torna mais patriotas nem mais sociais nem mais humanos. Alguns nem voltam. Querem é esquecer.

Mas para os que ficam, e para que não sejam obrigados no futuro a emigrar é necessário que se façam algumas mudanças.

A Democracia Participativa parece ser a única que pode discutir o sistema sem ser do sistema. Não há salvadores da Pátria dentro de um sistema de Democracia Representativa pelo simples fato de que os representantes não nos representam. Representam quem lhes paga as eleições, grupos de marketing que povoam os palácios.Com a Democracia representativa, seremos vistos sempre em Bruxelas e no mundo como fornecedores de mão de obra qualificada ou não, de trabalhadores assíduos e profícuos (mas isso é da índole e não uma dádiva política), e desperdiçadores de oportunidades em seu próprio país por corrupção generalizada.
Ou voamos ou continuaremos em galinheiro poluído dando os ovos a “pavoneantes e dissimulados governeiros” sem jamais mudarmos alguma coisa. Se pelo contrário tentarmos mudar, talvez possamos adivinhar o futuro de nossas vidas, que poderá ser exatamente como quisermos.  

Rui Rodrigues. 

PS - Podemos começar a mudar da seguinte forma:
Na Democracia Participativa, o governo se constitui dos órgãos que normalmente fazem parte de qualquer governo democrático do mundo. Cada povo poderá escolher qual o modelo que mais lhe convém, com os três poderes: Legislativo, Executivo e o judiciário. O sistema da democracia por voto direto pode ter quantos ministérios forem desejados pelos cidadãos.
Até aqui, valem os modelos democráticos tal como os conhecemos... o que muda?

 1.     Todos os membros são escolhidos por voto participativo dos cidadãos interessados. Poderão eleger através de voto em Bancos 24 horas de Votação e por Internet grátis ou celular evitando-se assim “arranjos políticos” entre partidos ou proteção de qualquer natureza.
 2.     Os votos podem ser retirados (deseleger – desaprovar), o que amplia a cidadania democrática a muito mais do que votar apenas de quatro em quatro anos.
  3.    As leis são propostas ao Senado por qualquer órgão ou cidadão, para que sejam previamente aprovadas ou negadas por voto popular. Se a população achar que algum político ou ocupante de cargo no governo não atende os seus interesses, retira-lhe o voto dado e ele sai imediatamente sem necessidade de impeachment, quando a quantidade de votos que permanecem for inferior ao mínimo necessário para ocupar o cargo.
   4.   Qualquer lei ou ato de governo devem ser submetidos a voto, o que inclui mas não se limita a: declaração de guerra; percentuais de aplicação de verbas publicas em educação, centros de pesquisa, infra estruturas, preservação do ambiente, saúde, segurança pública, transportes;  taxas de impostos,  e tudo o que normalmente se vota nos senados, câmaras, governos estaduais, prefeituras.
 5.    O processo de implantação da Democracia participativa começa com a aprovação popular, via NET, item por item, de uma Constituição que somente poderá ser alterada também por voto popular, impedindo a manipulação de interesses escusos de políticos. 
Cada nação crescerá e se desenvolverá segundo sua capacidade e vontade popular de progredir, segundo o que acha mais importante.

Ver mais detalhadamente em:

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os quatro cavaleiros do Petecalipse




 Cronos o rei apedeuta comendo os próprios filhos
O profeta vive só à beira de uma praia onde se alimenta do que consegue pescar.

É um pescador. Há muitos pescadores neste mundo, e não só de peixe. Os que não pescam peixes, não usam redes.Usam a palavra como uma rede que pesca ilusões, ambições, esperanças que povoam a mente humana desesperada com tantas provações, e nela ficam enredados, digerindo a palavra, enquanto os profetas se vão para outros lugares, pescar mais, cada vez mais, numa ânsia antropofágica de evangelizar ideais, virtualidades, seres que esqueçam a realidade e se dediquem ao virtual.

Este profeta não. É um observador que só usa a sua rede para pescar peixes. Olha os rios, os lagos, as montanhas, os mares, os céus e os seres que neles habitam. É com os seres que se preocupa, mas sabe que em sua terra os profetas não fazem milagres. Longe de drogas, mesmo assim tem visões. E é uma delas que impressiona.


A visão nas palavras do profeta.

Era um pôr do sol da cor do fogo. As nuvens estavam coloridas de tons rosa, os mais suaves, de tons laranja, do vermelho mais vivo e antes que a Terra completasse a sua volta escondendo o Sol, as nuvens se escureceram, o céu se tingiu de tons escuros e o mar se encapelou, revoltado. Ouvi um estrondo atrás de mim e voltei-me em sua direção.

Vi uma enorme estrela vermelha do tamanho do Sol, com um enorme 13 milhões 13000 e 13 gravado a fogo no centro, sobre os campos longínquos, já no lusco-fusco do declinar da luz. Embaixo, no solo, um exército de bandeiras verdes e amarelas jazia no chão, inerte, prostrado, derrotado, tanques queimados, aviões abatidos, uma sucata de brava gente. Emoldurado pela estrela, uma figura aterradora com carnes aparentes de defecações humanas, escorrediças, pestilentas, os olhos esbugalhados, ávidos, barriga enorme, que tal como Cronos, filho de urano, o Céu, e de Gaia, a Terra, comia os próprios filhos. Este cavaleiro não comia os próprios filhos, mas comia os amigos, os colaboradores, guindados por ele ao poder sobre as gentes trabalhadoras, produtivas. Quando o vi, imponente, convencido, vociferando discursos, senti que, embora o mundo não lhe pertencesse, o tomava para si por puro prazer de ter o mundo. E queria o céu e queria a Terra, e nada o impedia em seu caminho.  A cabeça era de defecações, o corpo de vísceras de amigos e colaboradores, carne moída, os pés de algodão.Vi-o acompanhado de mais três cavaleiros tão Petecalipses quanto ele mesmo, destruidores de tudo o que se construíra. E era este o primeiro dos quatro. Trazia na mão os símbolos que apoiava: Um ramo de papoulas sem pétalas, com os bulbos lavrados escorrendo seiva, moedas de ouro que tirava de um baú sem fim que carregava a tiracolo, onde se lia: “Tesouro Nacional”

E vi o segundo à sua direita, minha esquerda. Não era um cavaleiro. Era uma cavaleira que não tinha nenhum traço de algum dia ter dado um sorriso, odiando tudo, a vida, olhar autoritário desde nascença, sem amor a pai ou mãe, largada na vida, assim como a humana e paradisíaca Lilith, casada com Samael o anjo decaído, também esta não aceitava os homens como eram e os odiava, e odiava ainda mais as mulheres que os outros homens preferiam a ela. Tal como o primeiro cavaleiro esta segunda odiava a humanidade da terra onde nascera. Odiava quem produzia, porque ela não podia produzir, não podia governar: O que a movia era apenas a vontade de destruir, de perverter, de substituir a ordem que encontrou quando viu este mundo, pela desordem de sua mente sem sentido. Esta não procura riquezas, embora não as desperdice. Sua mente está voltada apenas para a desordem e tal como o primeiro cavaleiro mata para limpar o caminho, não faz amigos fora do caos. Trazia nas mãos uma clava cheia de espinhos de aço, seus pés enormes também de barro, o corpo redondo prenhe de vontades, a cabeça era uma enorme bola oca, os dentes terríveis e cortantes, os olhos flamejantes de ódio.  Numa das mãos uma bandeira verde e amarela com cores vermelhas, uma afronta ao reino.

E vi surgir o terceiro cavaleiro, este de mãos redondas e sem calos, o mentor do caos, aquele que sabe e indica o caminho para o caos. Tal como o segundo cavaleiro, odiava tudo e todos, uma infância preocupada com a destruição em seu reino, renegando os outros pequenos deuses e quem o pariu. Seu corpo era como o de uma rã, escorregadia e verde, o sorriso de hiena, o olhar matreiro e dissimulado como o de um hobbit, o torso curvado, figura encolhida, um rato com sorriso de hiena. Numa das mãos, uma pasta enorme de onde saiam papéis, anotações, assinaturas, contratos. Fazia contratos com almas alheias prometendo-lhes o céu e lhes dava o inferno, o opróbrio, o esquecimento, a prisão.  Seu rastro era de desperdícios, de projetos caóticos, também nunca trabalhou no seu reino. Nenhum desses três cavaleiros havia alguma vez trabalhado produtivamente em seu reino. E nem o quarto, a mão que fere, que mata, brandindo um facão do reino do nordeste, em longo braço de apoio aos três primeiros cavaleiros. Este um cavaleiro genuíno.

E lá estava ele, montado em seu cavalo negro como a noite, estropiando, levantando as patas da frente, ameaçadoras. Dava urros, ávido de sangue, tão amante do caos como os três primeiros e também nunca tinha trabalhado em seu reino. Vinham para mandar na Terra, poluir o continente, abraçar o mundo inteiro se possível. Este cavaleiro era o mais misterioso dos três, e em seu reino não se sabia que amizade o unira aos três primeiros. Uma figura sombria. Tenebrosa. Um matador. Trazia as mãos sujas de sangue, o cavalo coberto de membros decepados como se deles fosse feito.

Não havia nos arredores nada que se lhes opusesse. De todos os caídos a seus pés, nenhum deixara de ser enganado. Uns jaziam porque acreditaram em suas promessas e depois pereceram traídos; outros porque ficaram inertes e nada fizeram contra o seu avanço; outros ainda se lhe opuseram mas não passavam de meia dúzia. Os que ainda viviam e lhes faziam companhia, como grande exército, usavam drogas para se inebriar, outros contavam dinheiros, outros ainda tinham fé no que diziam. Trazia na mão um coração vertendo sangue e sua aparência era a de um compenetrado e inocente sacerdote inca.

Enfrentei-os e perguntei-lhes se sabiam sorrir. E me brindaram com os seus melhores sorrisos e me ofereceram todos os bens da Terra, como satanás, lúcifer, o chifrudo, tentando a Jesus no deserto, e lhes gritei que não. Mostrei-lhes o caminho para a salvação, e não me escutaram. Então os amaldiçoei por todo o mal que fizeram e ainda pretendem fazer, subvertendo a ordem em favor do caos, que só será visto e sentido quando os quatro cavaleiros iniciarem seu ultimo ataque á humanidade.
Mas então eu o vi despontar ao lado direito dos cavaleiros: O Messias da redenção deste reino. Usava uma capa preta do luto, tinha um olhar sério, feições de seriedade. Suas palavras eram a verdade. Atrás dele vinham outros como ele, nenhum indicado pelos quatros cavaleiros do petecalipse nem liam por sua cartilha ou seu livro vermelho de um Mao iniquo já aniquilado ou de um Stalin sanguinolento já esquecido. Um halo de luz brilhava no negrume da noite. Este não era um cavaleiro. Era um cavalheiro, não tinham distintivos, spenas portavam uma bandeira original e genuinamente verde e amarela como sempre foi. 
Os quatro cavaleiros do Petecalipse para terem poder têm que subverter as leis, criar o caos, trocar a bandeira como simbolo de sua vitória, porque sem isto sua vaidade pessoal, sua ambição, sua glória nunca serão completadas. O reino está em perigo.   

Rui Rodrigues


quarta-feira, 22 de maio de 2013

O extraterrestre de Catités






Os Etês de Catités – O filme
(Pura ficção, até porque Etês não existem[1] nem no dicionário).


No Bar do Chopp Grátis os clientes se levantaram das suas mesas, apanharam os seus copos de chopp e foram todos para uma mesa onde um sujeito contava uma história sobre extraterrestres. Nesse dia o Bar faturou alto em chopps. Esta foi a história digna de cordel (ou num país de alienados, que vem de Allien, que significa alienígenas, ou  seja, extraterrestres, em inglês. Em mais nenhum aconteceriam fatos assim como narrados).


Cinco anos depois de nada.  

Ceará, perto de Pernambuco, dia quente, falta de água, família numerosa para alimentar, a mulher enchendo o saco, um resto de arrodz cozido numa panela amassada, o marido foi embora dizendo que ia trabalhar e não voltou mais. Nessa noite, a mulher ainda jovem ficou olhando as estrelas em Catités, rezando para que algo acontecesse que melhorasse sua vida. Pensou naquela penca de filhos. Rezou também para que o marido não a tivesse largado e não lhe tivesse deixado mais um filho no buxo. Era beberrão. Sabia o que fazer. Dos filhos escolheria um para ser doutor, e o resto trabalharia para alimentar a família. Não podia contar com o marido. Também não acreditava na prima que lhe dissera, na semana anterior, que um grande milagre aconteceria em sua vida: Ela estava grávida e a prima também ficaria grávida, e o filho seria um messias para a família. Ouvira isto como de um anjo que descera do céu numa enorme nave cheia de luzes piscando que só ela vira. O anjo a levou até a nave e lá haviam transado bastante. A noite toda. Depois a nave partiu como um foguete busca-pé fazendo até um barulho igual, e virou uma estrelinha que fica por cima da torre da Igreja Matriz. Era um sinal dos céus. O anjo lhe dissera que a prima teria também um filho. Mas como? Perguntou-se a mulher abandonada, se nenhum ET a tinha buscado nem vira nave nenhuma? Obteve rapidamente a resposta como se os anjos do céu a tivessem escutado. Um objeto voador identificado, porque não era nenhum urubu, nenhuma ave, nem avião nem helicóptero nem asa avoadeira, nem pára-quedas. Era uma nave extraterrestre igual á descrita pela prima. Só teve tempo de ir lá dentro, pegar um pano, molhar no resto da água de um poço seco dentro de um copo e lavar a perereca. Já sabia que o mais provável é que iria entrar no pau. Teve seu filho, mas o menino era o demônio, o capeta. Só parou de mamar aos cinco anos, não obedecia, passava os dias fazendo discursos hipotéticos como se fosse um presidente de república. E o apanhou tomando uns goles de cachaça da garrafa que ela guardava para o caso de uma necessidade. O menino acabou com a garrafa em dois dias.

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Dia do nada


Casado, cheio de filhos para alimentar, era muito, demais, para a sua capacidade de agüentar. Tinha que ir embora. Olhou para o céu, lá no fundo do quintal. O céu estava cheio de estrelas. Sua mulher tinha ido dormir na casa da prima porque tinham brigado outra vez. Olhou de novo para o céu. Cada estrela eram duas. Ou estava mal das vistas ou tinha bebido demais. Por isso nem ligou quando uma nave pousou no quintal, silenciosamente, e dois sujeitos esquisitos desceram. Caminharam na sua direção e o levaram para a nave. Teve então a certeza de que tinha bebido demais, adormecera e estava dormindo. Dentro da nave, duas enfermeiras igualmente esquisitas o manipularam numa espécie de maca. Adorou o sonho. Elas mexiam em seu berimbau de um jeito gostoso. O sonho estava realmente bom demais. No dia seguinte compraria mais uma garrafa de cachaça da mesma marca, no mesmo armazém sem pintura, velho pra danar, que tinha lá na esquina da rua. E tanto era sonho que se fosse realidade, como poderia entender o que as enfermeiras diziam? Ouviu perfeitamente quando uma disse para a outra:

- Cuidado para não esterilizar o batoque! – (não, pensou ele, jamais viraria uma estrela. Nem pensar). A outra respondeu:
- Até que era bom. Pelo que sei esse sujeito está cheio de filhos. Mas ainda tem que fazer mais um... (então ele entendeu. Se era um sonho que os anjos lhe enviavam, teria mais um filho, mas depois sumiria. Se eram os anjos que falavam, então Deus cuidaria dos filhos. Enfim, livre!).
No fim de semana seguinte, partiu para nunca mais voltar. A mulher ainda pensou que ele voltaria, mas sem muita certeza.

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Dez anos depois do dia do nada.


- Vai estudar, menino[2]. Teus irmãos matam-se de trabalhar para sustentar a casa... Teu pai nem dinheiro nos manda...
- Não precisa estudar mãe – disse o garoto com aquele olhar confiante de “tiro certo” - Olha o pai. Bom cidadão, trabalhador, cheio de filhos e sempre sem dinheiro. Me diz, mãe... Adianta trabalhar? Vai... Anda, diz... Se me convencer eu estudo e trabalho. Juro que trabalho. Só quero é o certificado de que estudei.
E como nesse dia estava com a “corda toda”, continuou:
- E tem mais, mãe... Odeio, odeio, odeio menino rico que não precisa nem trabalhar, odeio pobre porque não tem inteligência para sair do buraco e vive sempre na miséria. Te digo mais... Quando um dia eu for presidente, podendo estudar, não vou estudar nada. Odeio essa gente inteligente, cheia de diproma, que anda toda engravatada, com olhar superior cagando regra na cabeça da gente. Neste mundo só amo tu e meus irmãos. O pai bebe e perde a cabeça. Eu já experimentei ficar bebo e num acontece nada. Sou forte como um burro.  

O menino falava muito, falava pelos cotovelos. Parecia um sujeito instruído que sabia das coisas da vida e do mundo, mas todos sabiam que não. Só tinha presença. Aquilo era um enganador. Falso por fora e por dentro. Fugia da escola, e a mãe vivia numa sinuca com os demais filhos que sempre arranjavam uma forma de ajudar em casa. O pai das crianças havia sumido há dez anos atrás. Viera visitá-la uma vez e lhe deixara uns trocados.Disse que a vida estava muito difícil e demonstrou muito carinho com o filho mais novo, mas nem o viu, porque o garoto sempre dava um jeito de desaparecer. A mãe que entendia tudo. Quando acabou o primário, a duras penas e sem nenhuma convicção, ainda andou trabalhando nuns biscates mais por causa da mãe e dos irmãos. Por ele não trabalharia mesmo.

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Cinqüenta e cinco anos (mais ou menos) depois do dia do nada.

O garoto crescera. Apenas com o primário era agora doutor “honoris causa” em universidades da Europa, reconhecido como figura pública mundial, embora cercado por escândalos pavorosos que, a serem na Europa, já estaria preso há muito tempo. Primeiro uniu-se a antigos terroristas que tinham uma ideologia que poderia servir-lhe para subir ao poder. Depois, já no poder, a bandidos anteriormente condenados pela justiça. Quando fizeram um filme sobre a vida dele, e não se sabia ainda que participara como mentor ou receptador de planos que usaram e abusaram ilegalmente de verbas públicas, ainda tinha o apoio de intelectuais, mas depois dos escândalos abandonaram o garoto crescido que queria e realizou um sonho: Ser o maioral sem estudar, sem saber nada de nada a não ser representar e fazer o seu papel de forma fenomenal: O de um inculto que com um sorriso, um olhar de tranqüilidade tinha enganado sindicatos, comprado políticos, tudo com a ajuda de antigos terroristas agora condenados por corrupção. Com sua influência logrou que estes corruptos em vez de serem presos fossem reconduzidos com todas as honras ao senado ao qual pertenciam antes de serem condenados. Baseado numa premissa do Banco mundial que afirma que quem vive com dois dólares por dia não é pobre, distribuiu verbas públicas perenes por famílias e cestas básicas cujo valor somado não alcançam dois dólares por dia mas chegam perto. Com este artifício amoral e até imoral, convenceu todo o mundo que tinha tirado da pobreza cerca de quarenta milhões de cidadãos. Mas onde se vive com dois dólares por dia sem ser considerado pobre? E se for possível – que não é – como vivem?

Nunca  estudou, e disfarçadamente continua odiando ricos e pobres, tomando seus tragos. Casou com uma múmia muda e inerte, usou os cofres públicos e as dependências do palácio para fazer negócios particulares e enriqueceu também o filho. 


Rui Rodrigues





[1] Se por acaso alguém se sentir identificado com algum personagem, só perguntando aos ETÊS que andaram lá por Catités-CE. Se não acredita que Etês não existe nem no dicionário, procure e tente encontrar, prezado leitor(a).
[2] No Brasil existe um sujeito com o qual o ET de Catités pode até ser confundido, mas esse é o Lula e não este, e Lula não é nenhum ET. Não tem a inteligência nem o conhecimento atribuído a Etês, mas é muito esperto. Realmente um sujeito muito esperto.