Pesquisar este blog

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo



Feliz Ano Novo

Tá! E daí? Quando deverei realmente comemorar um novo ano? Qual a data mais apropriada? Parece que há diferentes formas de contar os anos e muitas datas de transição de um ano para o outro. Criado em meio católico semipraticante e não praticante, já não sou nem uma coisa nem outra e muito menos cristão. Por isso não vejo porque comemorar o ano novo na passagem do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro do ano seguinte.












O povo judeu já vai no ano de 5.772 e a partir de 17 de setembro de 2012, entrou no ano seguinte, ou seja, 5.773. Trata-se de um calendário lunisolar [1] baseado na criação de Adão numa quinta feira (Yom Shishi) ao por do sol, sete de outubro do ano 5.761 AC. É um calendário cheio de ajustes, complicado até de calcular para quem não está habituado. Os anos são calculados no ciclo solar, e os meses no ciclo da Lua. De vez em quando se adiciona um mês mais ao ano para que sempre o equinócio da primavera caia no mês de Nissan.








O calendário islâmico [2]é lunar. Inicia-se com a Hégira, dia da fuga de Maomé de Meca para Medina, em 16 de julho do ano 622, uma terça feira. Também precisa de ajustes porque é onze dias mais curto do que o ano solar. Cada mês começa quando o crescente lunar aparece pela primeira vez após o pôr-do-sol. Em 2012 comemorou-se o ano de 1473. Como todos os dias feriados variam durante o ano, acabam por cair em todas as estações do ano.







Os chineses têm um calendário lunisolar[3] muito parecido com o judaico. Desde 23 de janeiro de 2012 estavam no ano 4.710. Como forma de coadunar o ciclo solar com o lunar, a cada oito anos acrescentam 90 dias ao calendário ou cerca de dois ciclos lunares. Como precisamos de uma “data fixa”, por pura preguiça, este calendário também não deveria servir para o propósito de comemorar a passagem do ano.





Poderíamos estender-nos na descrição de outros calendários, mas ao que parece existem no mundo mais de 40 calendários em uso [4]. A impressão que se tem é a de que “devemos pertencer” a uma sociedade em especial que tenha um calendário especial, de forma a nos identificarmos com essa sociedade. Esquecemo-nos do panteísmo, da humanidade como uma sociedade única sem descriminações nem favoritismos, mas se temos que respeitar, como democratas, é o direito de cada sociedade escolher a data que mais lhe convém para comemorar a passagem do ano, nunca esquecendo que, como o dia tem 24 horas e alguns minutos a mais, no dia da passagem do ano, por exemplo, no mundo muçulmano, com diversos fusos, a passagem é comemorada em horários diferentes.
Enquanto não houver um consenso no mundo, escolherei em particular o dia 08 de setembro às 23:55 a data de passagem do ano, e para atribuir um número lógico de anos, escolherei o dia oito de setembro, no horário indicado, do ano de 1945, que foi exatamente quando dizem que nasci, porque eu estava presente, mas não tenho a mínima consciência de que seja realmente verdade. Nem o horário, porque não houve unanimidade nas respostas a consulta que já fiz. Por outro lado, comemorarei a data de passagem de ano do país em que eu estiver, em solidariedade, mas porre mesmo, de champanhe de bolinha, só na data de meu aniversário. Comemorarei em 2013 o ano 68 de minha era.

Saúde!... E Feliz dois mil e treze na passagem de 31 de dezembro para 01 de janeiro

Rui Rodrigues







Cigarro Mata !!!!!




Cigarro mata!
  
É incrível a relação que temos com a morte: Medo, pavor... Não nos passa pela cabeça que pode ser apenas uma transição de “fase”. Não temos certeza de nada sobre o além, porque cada sociedade o vê a seu modo. Mas não entremos nos aspectos filosóficos ou religiosos dessa transição. Vamos ater-nos apenas à transição em si e como se pode chegar a ela mesmo sem vontade alguma.

Em N. York, esta semana, uma mulher chegou ao metrô, viu um sujeito que nem conhecia e o empurrou para os trilhos. Depois fugiu. O homem morreu da mesma forma que o outro da semana passada: esmigalhado pelas rodas. Morte estúpida, sem sentido, mas a morte tem muitos adjetivos e substantivos. Está ficando perigoso apanhar o metrô de forma descuidada, junto à linha amarela que não dista mais do que 20 cm da beirada do leito dos trilhos.

Vinte e oito pessoas – vinte eram crianças até 12 anos - foram baleadas por um guri de 20 anos que premeditou tudo. Armou-se em casa com as armas da mãe, vestiu uma roupa preta estilo militar, e deu dois tiros em cada uma das vítimas. Queria ter a certeza de que mataria. Por isso os dois tiros. Antes o “vingador” matou a mãe para se caso se arrependesse não viesse a escutar um esporro em casa vindo da velha que lhe comprara as armas e o levara aos treinos de tiro. Claro que não matou a mãe só para ir ao baile do orfanato... È um perigo estar na linha de tiro de malucos ou desses caras que saem dos trilhos e viajam na batatinha.

Entraram na fila tranqüilos, esperando a hora de serem chamados para uma consulta nos serviços públicos de saúde. Mas nesse dia nem todos os médicos estavam presentes e o tempo foi passando até que começaram a passar mal. Nos últimos meses mais de dez, talvez vinte, morreram na fila de espera para serem atendidos. Saíram mais tranqüilos do que tinham chegado, mas mortos, realmente mortos. É um perigo enfrentar filas de saúde pública.

No dia do casamento o cara bebeu champanhe e para guardar como lembrança, pôs o copo no bolso. Na saída tropeçou e cortou a veia que passa na virilha. Enquanto aguardava a ambulância foi sangrando sem poderem estancar o sangue. Quando chegaram no hospital, teve que ser transferido por falta de qualquer coisa que não era nem caridade nem vergonha porque estavam em falta. Morreu logo que chegou no segundo hospital, algumas horas depois. Teve a triste idéia de guardar um copo no bolso, o azar de tropeçar, e ao fim de uma série de azares, faleceu. É perigoso guardar copos de vidro nos bolsos.

Mais de trezentos policiais morreram em S. Paulo, assassinados, por serem policiais. Os assassinos eram comandados por traficantes e bandidos de dentro das prisões. É muito azar ser policial em S. Paulo e mais azar ainda ter um governo estadual que afirmava que isso não era nada e que ia resolver tudo sozinho, dispensando a ajuda federal. Diminuíram muito as mortes depois da ajuda federal, pelo menos nos noticiários, mas o assunto ainda não está resolvido. Ainda é muito perigoso.

Bêbados desalmados tomam todas e pegam seus carros saindo a caminho de casa sem se lembrarem ao certo onde fica a sua casa, dirigem em estradas que só têm curvas – pelo menos é o que conseguem ver – e atropelam e matam e destroem. Quando não é bebida alcoólica, é cheirinho da Lóló ou droga da braba mesmo. Estas drogas nem são acusadas em bafômetros.  Atropelam na estrada, nas calçadas, em qualquer lugar onde caiba o carro deles. E delas, também, mas elas bebem menos. Como nunca se sabe quem vem dentro de um veículo nem em que estado está, é perigosíssimo andar pelas ruas quando há veículos nelas. Como sempre há veículos nas estradas, melhor ficar em casa.

Mulheres casadas que se separam vivem debaixo do perigo a cada instante. Maridos dependentes e ciumentos são causa de morte por facadas ou tiros por amantes, maridos ou namorados. É um perigo casar ou namorar. Melhor seria não casar nem namorar, mas temos que arriscar. Mas que é perigoso, isso é...

Não se pode parar o carro à entrada de casa, ou em sinais ou faróis. Os bandidos assaltam e a qualquer reação atiram para matar. Normalmente acertam a cabeça da vítima ou a coluna vertebral. É perigoso viajar de janela aberta, andar com as portas destrancadas. Em todos os casos que descrevemos é sempre difícil encontrar um policial, porque os bandidos os evitam. Se tem policial perto, goram o assalto que fica para a próxima vitima. Se tem carro, fique de olho.

Quando se pega um avião, sempre se espera chegar ao destino. Bom... Se o destino for fatídico, alguns até conseguem chegar lá. Caem em qualquer lugar, por qualquer motivo. Por falha humana ou por falha dos equipamentos. De cada vez morrem mais de cem, mais de duzentos, mais de trezentos, mas se pensa em deixar um lastro financeiro para a família como seguro caso isso aconteça, tire o cavalinho da chuva, porque demoram décadas para pagar, quando pagam, e é uma mixaria que não paga nem uma década de vida...

Não more no Japão, na Turquia, em Bangladesh, em Teresópolis, no Chile, na costa leste dos EUA ou no Norte de África... Se não forem vulcões, são alagamentos por chuva, tsunamis, furacões, terremotos, deslizamentos de terras. É fatal. É extremamente perigoso morar por lá. E no verão e no inverno sempre morrem muitos por causa do frio ou do calor ao redor do mundo. Prefira as zonas temperadas para viver, de preferência na América do Sul, mas não emigre em massa que isto aqui fica entupido...

Devemos concordar que os médicos são os melhores amigos dos seres humanos, logo a seguir aos cachorros. É verdade. Mas alguns se passam das medidas e nos arrancam os órgãos errados, põem seios de silicone do tipo para passar em roda de pneu e ficar brilhando, fazem lipoaspiração tão forte que aspiram até as tripas, e no caso de planos de saúde, para evitar despesas, são capazes de nos mandarem para casa com receita de duas aspirinas e uma vaporização com água quente que evapora de uma xícara, com toalha na cabeça quando na verdade estamos com dengue ou uma pneumonia. Os cachorros são como os médicos: muito amigos, mas de vez em quando nos mordem e nos matam de dentadas, ainda mais quando andam sem coleira no meio da rua.

E ser pobre ou miserável é realmente uma desgraça de alta mortandade. Morre-se de fome enquanto os figurões do senado arrebanham dezenas de milhares de  notas de um real por mês com uma quatorzena de salários, muito mais do que uma dúzia de doze, e só trabalham de terça a quinta. Aliás, só trabalham na quarta, porque na terça dão uma olhada nas “coisas” para ficarem ao par dos acontecimentos, e na quinta preparam tudo para embarcar para seus estados onde passarão o larguissimo fim de semana de quatro curtíssimos dias.

Nem pensar em fazer parte de torcidas de futebol. A turma sai para se divertir matando os outros de porrada. Não é mole não. Há sempre gente caindo de arquibancadas, cabeças estouradas por garrafas de cerveja, brigas que se tornam pessoais porque alguém gritou gol na torcida errada, e sempre há os arrastões na saída dos estádios na confusão geral. Melhor ficar em casa. Mesmo homens, se não têm nada para fazer em casa, ou para fazer com a patroa, sempre se pode aprender a tricotar. Melhor do que morrer todo escaqueirado.

Vamos lá para a porta dos hospitais fazer plantão de atendimento para ver quantos atendimentos há por dia, quantos acabam em morte, e quais os motivos... Aquilo é um horror! Morre-se de tudo, por qualquer coisa, até por falta de sangue do tipo “o seu”. Faltar vaga, gaze, remédios, esparadrapo, algodão e álcool já não é novidade. Rins estão em falta, as córneas mais ou menos e os corações estão partidos.

Há que ter cuidado nas praias por causa das correntes, dos afogamentos e dos barcos que passam como se a água fosse só para eles. Não trabalhe na construção civil, nem more perto de morro que pode sobrar bala perdida. Quando sair à rua, use máscaras com oxigênio porque o ar está todo poluído. Ao primeiro caso de dengue saia correndo da cidade onde mora. Faça tudo o que os outros querem para não se irritar e ter um ataque cardíaco ou AVC.

Drogas nem se fala. Matam a curto, médio e longo prazo, e para sair dessa é um perrengue desgraçado. Droga cola mais que superbonder. É um grude que mata o dependente químico e a família à sua volta. Nunca se fumou tanto crack como agora. Até velhinhos fumam crack por acharem que já não faz diferença em meio a tanta desgraça. Mas nem vamos falar em câncer de seio nem de próstata, nem de fíagado... é deprimente. 

Se seguir todos estes conselhos para preservação da vida, e mesmo assim morrer antes do tempo pode estar certo - ou certa - de que, se não se trata de uma fumante – ou de um fumante – inveterado, então há algo de podre no reino da propaganda. 



Cigarro mata!

Tem fogo aí?

Rui Rodrigues



Quatro histórias para não voar.




Quatro histórias para não voar.


Confessemos que é muito bom sonhar dormindo ou acordados. Nos sonhos podemos realizar tudo o que queremos, mesmo sabendo – depois dos sonhos - que é impossível. Quando nosso senso da razoabilidade funciona, podemos estudar os sonhos mais a fundo e vir a torná-los realidade. Quando não funciona, temos os grandes desastres. Alguns ficaram na história e são muito interessantes. Talvez desse tipo de sonhos, ligados à aviação, ao poder de voar, tenham surgido as imagens de anjos e de anjas, as geringonças de Leonardo Da Vinci que projetou muitos sonhos e não realizou nenhum que funcionasse, o demoiselle de Santos Dumont que segundo dizem só dava pulos, e muitas histórias fantasiosas como as de Peter Pan e Sininho, Superman, o Homem Aranha...

Destas quatro que conto a seguir, só a primeira é uma lenda sem base real. As demais são verdadeiras.

  1. Ícaro e suas asas de cera – 1.300 Antes de Cristo
Conta-se que o rei de Minos aprisionava o Minotauro, um monstro com corpo de homem e cabeça de touro num labirinto para que ele se perdesse e não pudesse fugir.  Minos, da ilha de Creta, era filho nada mais nada menos que de Zeus, o deus máximo dos povos helênicos que havia transado com uma princesa fenícia, chamada Europa. O nome Europa deriva dessa princesa, e a cultura da ilha de Creta daquela época é chamada de minoica, também por associação com o nome de Minos.  

Teseu foi o herói lendário grego que matou o monstro Minotauro, mas somente pode fazê-lo com a ajuda de Dédalo que tinha um filho chamado Ícaro: Teseu deveria usar um novelo de lá que iria desenrolando na medida em que caminhasse pelo labirinto para saber onde era a entrada e voltar. Teseu entrou, usou o novelo de lá e matou o Minotauro. Quem não gostou nada disso foi o rei Minos que prendeu Dédalo e ícaro no labirinto. Para fugir, construíram asas com penas de pássaros coladas com cera. Os partiram para o vôo, não sem antes Dédalo aconselhar o filho a não voar muito perto do sol para que a cera não derretesse, nem perto do mar, onde a umidade poderia aumentar o peso das asas e provocar a queda.  Ícaro, entusiasmado com o vôo, voou muito alto e como previsto, a cera derreteu. Caiu no mar e morreu.

2.      João de Almeida Torto e suas asas de pano com dobradiças de ferro - 1540



O Brasil já fora descoberto há quarenta anos e começava a povoação com imigrantes dispostos a construir uma nova vida em terras menos competitivas e mais livres da Inquisição quando numa manhã o povo da cidade de Viseu, no Norte de Portugal, alvoroçou-se com a notícia apregoada por toda a cidade:
“Saibam todos os senhores habitantes desta cidade, que não terminará este mês sem se ver a maior das maravilhas, a qual vem a ser um homem desta cidade voar, com asas feitiças, da torre da Sé ao Campo de São Mateus, pelo que responde por sua pessoa e bens – João de Almeida Torto”.

João de Almeida Torto era enfermeiro do hospital de Santo Antônio, mestre das primeiras letras e costumava escrever cartas familiares e de amores, cobrando o dobro do preço por estas últimas. Era casado e sem filhos. Construiu as asas com panos fortes, duas de cada lado, a debaixo menor que a de cima, pelas quais passavam, também de cada lado, três argolas de ferro enchumaçadas com panos, por onde João Torto enfiaria os braços. Duas dobradiças de ferro faziam a junção das asas superiores, e as inferiores possuíam um cinto de cabedal que se cingia ao corpo de João. Os sapatos tinham três solas com espaço entre elas para amortecer o pouso, e usou uma máscara em forma de bico de pássaro, quer por composição estética ou superstição, e no dia 20 de junho de 1540, às 17:00 horas em ponto, lá estava João de Almeida Torto, testamento passado em nome da mulher, cercado de uma multidão, na Torre da Igreja com as suas asas que fizera subir por cordas. Lançou-se e algo deu errado: Uma das dobradiças emperrou e não pode bater um dos lados das asas. Além disso, o bico de passaro desceu-lhe ate os olhos de forma que ficou impedido de ver adiante. Assim mesmo conseguiu “voar” até um telhado próximo, mas não se segurou e caiu. Ficou desacordado, e aparentemente apenas com o braço esquerdo deslocado. O feito poderia ter um relativo sucesso, mas João de Almeida Torto não resistiu ao impacto e morreu. Um dos sapatos perdeu-se.

3.      A passarola do padre Bartolomeu de Gusmão – 1.700 depois de Cristo.


O padre Bartolomeu Lourenço nasceu na cidade brasileira de Santos em 1.685 e possivelmente já sabia das histórias de Ícaro e de João de Almeida Torto. Nunca fiando, não acreditou nas asas para uso de seres humanos visando ao vôo. Em homenagem a seu preceptor jesuíta Alexandre de Gusmão, adotou a partir de 1718 o apelido de Gusmão. Bartolomeu de Gusmão. Viajou muito entre Santos, Salvador e Lisboa e conseguiu planejar e construir uma tubulação de água para levar água de um brejo para o seminário de Belém, em Cachoeira, onde estudava.

Em 1707 recebeu a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro, pelo rei D. João V: “invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar”. É possível que se tratasse de um carneiro hidráulico.Viajando pela Europa, patenteou em 1713, na Holanda, uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar”, cuja patente somente veio a público em 2004 de acordo com pesquisa efetuada pelo escritor Rodrigo Moura Visoni.

Em 1709, e seguindo o principio de Arquimedes, mas do mais leve do que o ar e não do mais leve do que a água começa a trabalhar num protótipo de um balão. Isso mesmo. Um simples balão contendo ar aquecido, desses que soltam perigosamente nos dias dos santos populares e que incendeiam tudo o que é combustível quando caem e tombam. Porém, como pretendia construir um protótipo destinado a levar pessoas e desejava preservar o seu projeto que nunca saiu do papel, desenhou um projeto falso, tendo uma cesta em forma de barco e uma cobertura em forma de pássaro, evidentemente sem o balão. Este projeto em forma de barco correu toda a Europa e deu fama a Bartolomeu.

Fez algumas experiências com balões simples dos quais a maior parte pegou fogo ao descer e tombar. Não se viu em sua invenção nada importante ou útil, e pelo contrário, se temia pelo seu uso que poderia pegar fogo em matas e casas. Em 1723 voltou mais uma vez a Portugal onde foi acusado pela diabólica inquisição de simpatizar com cristãos-novos. Mas já se convertera ao judaísmo em 1722 por absoluta falta de fé. Muitos cristãos, ou quase todos naquela época não tinham fé. Tinham medo da diabólica inquisição. Fugiu para a Espanha no final de setembro de 1724 com seu irmão Frei João Álvares com intenções de chegar à Inglaterra. Na linda cidade amuralhada e medieval de Toledo, Bartolomeu adoeceu gravemente e aos 38 anos faleceu. Os restos mortais encontram-se desde 2004 na catedral Metropolitana de S. Paulo.
Há um grande ditado: “Ganha fama e deita-te na cama”. Bartolomeu ganhou fama, mas não se deitou na cama. Pelo contrário, viajou muito, mas não sabemos bem para quê. Indeciso, recebeu rito católico: Confessou-se, comeu a hóstia e recebeu a extrema-unção, recebendo assim permissão para que seu corpo fosse enterrado.

4.      Adelir de Carli voa com mil balões - 2008


O padre Adelir de Carli benzia tudo, até caminhões, e deve ter benzido os mil balões que o levaram aos céus – literalmente – no dia 20 de abril de 2008 em Paranaguá. Ele pretendia bater um recorde e ficar 20 horas no céu, para chamar a atenção e angariar fundos a sua obra de construção de um hotel com 100 quartos para os motoristas de caminhão que trafegam pela BR-277 no Paraná. Mas os ventos o empurraram para mais de 50 km da costa, mar adentro.  Prevenido, o padre conseguiu fazer contato via celular, pouco antes da queda. Por meses foi dado como desaparecido até que parte de seu corpo foi encontrada perto de uma plataforma de petróleo a 100 km de Macaé no Estado do Rio de Janeiro.

Evidentemente que o vôo foi efetuado com muita fé, pouco estudo estratégico, sem estudo de correntes aéreas, condições climáticas, mecânica dos balões. O fato de cair significa que os balões estouraram. Na medida em que se sobe a pressão diminui e os balões inflam até romperem, estourarem. Se tivesse pousado no oceano, tranqüilamente, os balões o sustentariam e poderia usar o celular.  

Após a morte do padre Adelir de Carli, vândalos saquearam a sede da Pastoral Rodoviária que ele dirigia, invadiram o refeitório e roubaram um freezer, pratos panelas e talheres, e roubaram materiais de construção destinados á Igreja Matriz.

Tinha 41 anos e recebeu postumamente o prêmio Darwin, internacional, para vencedores que tiveram mortes inusitadas, acidentais. O Darwin Award saúda a evolução do genoma humano. Pessoas que não perpetuarão os seus genes. Além do mais, era padre e pressupõe-se que não podia ter relações sexuais. Mas nem por isso todos os padres recebem esse prêmio. 
Mas nem sempre sonhar é perigoso. Então, continuemos a sonhar, que mata muito menos do que viagem de avião, de bicicleta, e do que fumar ou ser atropelado por motorista bêbado. A lei brasileira está de parabéns por poder multar e prender, agora que a lei foi alterada, todos os que dirigirem mostrando sinais de embriaguês, porque o tal do bafômetro prendia e multava quem bebia e não quem tomava drogas e dirigia.

Rui Rodrigues

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A necessidade da política tal como a conhecemos


A necessidade da política tal como a conhecemos
 A democracia tal como a imaginamos e não como é
Toda a experiência, o conhecimento e os arquivos técnicos que possuímos sobre “política” advêm de tipos de governo em que ela sempre foi necessária, por mais pérfida e inumana que possa parecer. Esses governos se caracterizam, ainda nos dias de hoje, por uma enorme concentração das decisões de poder, no sigilo de estado, na preservação de interesses pessoais e empresariais de quem influi nesse poder e muitas vezes lhes dita as decisões. A esta influencia se chama normalmente de “loby”. Nas ditaduras são as “eminências pardas” que atuam na sombra e transmitem tais interesses. Fazem a “ponte” entre o poder e os interesses das classes dominantes, sejam elas religiosas ou do empresariado. Uma sociedade precisa de tudo o que é prestável e de tudo o que é imprestável, porque é da diversidade que se faz o consenso. Todos temos uma palavra a dizer e que deve ser ouvida e soluções podem aparecer de onde menos se espera.

Um bom e drástico exemplo da necessidade da política, no contexto dos governos ditatoriais e dos representativos em geral, é a declaração de guerra. Todos os ministérios bélicos que conhecemos se intitulam eufemisticamente de “Ministério da Defesa”, mas são destes ministérios que sempre se iniciam os ataques, o que não é estranho, porque a política é a arte de convencer, exigir, realizar, de tal forma que no máximo fique a dúvida sobre a verdade, a necessidade ou mérito e o povo controlado. A decisão da declaração de guerra em regimes de democracia participativa fica entregue ao presidente do governo, ao primeiro ministro, ou mesmo ao rei ou rainha, e deve ser aprovado pelo Congresso. Foi assim que vimos Bush declarar guerras e após os primeiros ataques se dirigir ao Congresso para informar, sendo aplaudido. Mas... E o povo que lhe deu os soldados, gastará o seu dinheiro na guerra, o que pensa? Ora isso não interessa na política. Por isso o sistema é chamado de representativo. Representa – ou deveria representar – o povo, embora o povo jamais seja consultado seja para o que for. É como se o sistema tivesse o condão de adivinhar o que o povo quer, mesmo num país, como os Estados Unidos, em que cerca de 50% são do partido republicano e outros 50% são do partido democrata, pensando todos da mesma forma, de tal modo, que se houvesse apenas um partido não faria a mínima diferença quanto à política interna e externa.

E numa democracia participativa, como seria a declaração de guerra?

Bem, o governo poderia tomar todas as providências, desde o plano estratégico até o posicionamento de tropas e equipamentos, dentro ainda das fronteiras da nação, tudo pronto para o ataque, mas teria que colocar essa declaração em votação de emergência. Convocados os cidadãos a votar, o governo daria as suas explicações sobre a necessidade e abriria os canais de votação: redes sociais, celulares, telefones fixos, LANS, postos de votação 24 horas, a exemplo de Bancos 24 horas, e o povo votaria no prazo de 12 horas, sem voto obrigatório. O resultado determinaria a mais lídima expressão democrata da sociedade. Ou a ação prosseguiria, ou as tropas voltariam aos quartéis.

O mesmo raciocínio se aplica à fixação de taxas de impostos – todos eles – que atualmente não têm o mínimo sentido: Pagam-se impostos sem sabermos de antemão como se pretende que sejam usados. Depois de recebidos pelo estado é que vão ver onde gastá-lo. E tanto dinheiro, e a fraqueza humana quando se age isoladamente, tão grande, que é mais do que natural que cada órgão do estado tente puxar a brasa para a sua sardinha... Cada Estado, cada Órgão tenta arrebanhar o maior quinhão possível desses impostos. Para o povo, todos os anos carecem de primavera, outono e verão. Vive-se num inverno financeiro, porque não há alívio nos impostos. Isso cansa, isso esmorece, isso cria crises financeiras incríveis, o povo se estressa.

E como seria numa democracia participativa?

Os orçamentos de estado não são aprovados pela “oposição” nem por um senado. As contas da União são aprovadas por voto popular, e é pela apresentação desse pressuposto de gastos que se estabelece a taxa dos impostos, um imposto único. Para cada orçamento anual se emite um valor de taxa, de forma tal que haverá anos de aperto e anos de alívio. Nos anos de alívio a população poderá economizar ou gastar. Nos anos de aperto, se terá o que temos hoje: Aperto econômico. A economia não pode ser algo fixo, imutável, apenas para os cidadãos. Precisa-se de uma economia menos volátil, mais firme, mais humana, sujeita às necessidades de quem a faz e alimenta: os cidadãos. Se uma constituição como a do Brasil estabelece que os juros não passarão de 12 por cento ao ano, não pode haver taxas de juros bancários que ultrapassem esse valor. Isso seria, como é, usura e anticonstitucional. Governos que se dizem representativos fecham os olhos para o que interessa às “eminências pardas”, lobistas, pagadores de propaganda para eleições. É neste ambiente que se faz “política” alijando o povo de dar a sua opinião.

Numa democracia participativa a política se faz com a conotação de emitir “opinião” para que o povo se oriente e possa votar de forma consciente, porém sem o poder de fazer a política. Político não manda nada, não vota nada, a não ser como cidadão comum, da mesma forma que todos os outros, interessados, também votarão. Neste tipo de democracia, político é apenas mais um a votar. Quando uma lei for proposta para votação, irão aparecer os políticos que a apoiarão dando os seus motivos, e os que irão contra, expondo também os seus. Os cidadãos não ficarão pendentes de um senado de cerca de 300 indivíduos que em troca de um milhão de moedas se poderão comprar e até vender a mãe em mercado negro.

É algo para refletir. Afinal de onde saem os políticos em que votamos, senão do seio da sociedade, do povo? O que tem eles que nós não temos para decidir o que é bom para o povo, para o cidadão, para a nação?

Os políticos não têm nada demais, e agindo em alcatéia, em cáfila, em récua, em bando, podem nos fazer um estrago tão grande, que nossas sociedades jamais vêm um futuro realmente diferente. Parece que a vida nos é sempre difícil, quando na verdade poderia ser muito melhor, com um progresso fantástico, porque não haveria desperdícios. E mal ou bem, seria a vontade popular e não a vontade de meia dúzia. Olhemos a crise de 2008... Por falta de dinheiro, os Bancos pediram ajuda aos governos. Estes lhes emprestaram o dinheiro. A pergunta é: Porque razões não emprestaram o dinheiro aos devedores? A resposta é simples. Não emprestaram porque a causa da inadimplência popular residia no decréscimo da economia e não havia previsão de manutenção ou aumento da quantidade de empregos. Devedores poderiam perder os seus empregos e ficarem ainda mais inadimplentes. Mas quem foi o responsável pelo decréscimo da economia? Aparentemente ninguém, mas se nos aprofundarmos na pesquisa sobre corrupção, sobre a política financeira, sobre a aplicação dos impostos, sobre como se pagam as dívidas “morais” de campanha dos que se elegem, da divisão de verbas por setor da economia e Órgãos públicos, sobre empréstimos e juros baixos cobrados por instituições do governo a empresas, e em todos os setores da economia e da administração pública incluindo ministérios, encontraremos muitos culpados, certamente.

Constroem-se estradas que passam propositalmente por construções, terras ou instalações privilegiadas, deixando áreas populosas sem esse beneficio, e se aplicam recursos públicos em festas e propaganda política para dizer que tudo vai bem, apesar de populações inteiras sem redes de água, esgoto, energia elétrica. Estamos com apagões constantes, no Brasil, que se devem a uma pressão das empresas de energia elétrica para aumentar os preços e provocar no estado a necessidade de lhes construirmos mais usinas elétricas a preço de banana com os dinheiros públicos, quando deveriam ser elas, que levam o dinheiro dos lucros, a melhorar o seu sistema de manutenção, e a construir novas usinas.

A política atua do lado errado, contra os cidadãos, porque os políticos têm o poder de decidir em nosso nome, sem que se vejam obrigados a nos perguntar seja o que for. Presidente nem manda: As forças políticas lhe determinam o que fazer, como fazer, quando fazer. Porque razão fazer não lhes importa, desde que o povo fique quieto.

Vamos mudar tudo isto?

Basta que se exija uma nova constituição nos moldes da que se propõe em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/index.php?pagina=1290573303

Rui Rodrigues

A morte de Geraldo Monteiro



A morte de Geraldo Monteiro


Nossa amiga Renata Cristiane, brilhante repórter, relatou assim o falecimento de Geraldo Monteiro[1]:

Depois de desaparecer misteriosamente nessa terça-feira em função de um surto psicológico, o professor e biólogo Geraldo Monteiro, foi encontrado de forma trágica. 

Cometeu suicídio por enforcamento na noite-madrugada (19) em Cabo Frio, no Peró num local conhecido por peregrinação evangélica, Monte Moriá.

A Polícia Militar e os parentes localizaram o corpo do professor que estava preso por corda a uma árvore frondosa na trilha do Monte Moriá. 

Mais cedo, familiares estavam apreensivos em busca do biólogo, que sofria de depressão profunda e havia desaparecido sem deixar notícias. Os amigos e parentes chegaram a pedir ajuda à imprensa e à polícia para tentar localiza-lo. E no início da madrugada, a busca chegou ao fim de forma surpreendente e inesperada.A família encontrou uma carta de despedida de Geraldo.

O velório acontece nessa sexta-feira (21), até às 14h. Sepultamento será às 14:30h

*É com muito pesar que trazemos essa informação e lamentamos profundamente a perda de um dos maiores defensores e protetor da natureza e meio-ambiente de Cabo Frio e toda Região dos Lagos. ".

Reunido um pequeno grupo de amigos na noite de Natal, no Peró, ergueu-se um brinde ao amigo Geraldo. Ele deveria estar presente também, porque assim estava previamente combinado, mas sua morte inusitada, imprevista e chocante, quase impede a reunião do grupo. Como não podia deixar de ser, não se falou noutra coisa na data em que se comemorava o nascimento de Jesus Cristo, que passados curtos 33 anos, seria crucificado apesar de inocente. Geraldo Monteiro também era um inocente que lutava contra a falsa inocência dos que defendem o Ambiente com palavras e o atracam com ações. Mais do que isso, Geraldo não enfrentava o mundo hostil à natureza, de forma culposa ou premeditada, de forma política. Geraldo Monteiro enfrentava frontalmente os problemas, e assim ganhou alguns inimigos e "não simpatizantes".

Geraldo Monteiro tinha inimigos porque são muitos e escusos os interesses de alguns que palmilham esse mundo e que não têm a sensibilidade de Geraldo Monteiro. Esses alguns são muitos e ocupam terras, retiram areias de lugares inadequados ao retiro, dão alvarás que deveriam ser negados, cobram mais valias sem providenciarem infra-estruturas que permitam a habitação digna, enfim, há muitos modos e modelos de burlar a lei de forma “legal” mas que afronta a cidadania, a preservação da natureza, o bom senso, e Geraldo Monteiro não gostava disso. Mas Geraldo não era político e enfrentava os problemas de peito aberto, frontalmente, e a cada dia se sentia mais impotente, porque a “máquina” da irresponsabilidade se move lentamente, movida a notas de dinheiro, é amoral, tremendamente forte, e todos podem errar na administração pública, restando ao cidadão a morosa e muitas vezes ineficiente lei.  Lei que está sob administração do próprio estado, e que por isso mesmo dificilmente moverá alguma tese eficiente contra o próprio estado ou módulos eficientes que lhes pagam os salários, o bem estar, o conforto.
Geraldo Monteiro se viu sem saída. Em sua carta, deveriam os familiares e amigos abster-se de procurá-lo numa saída de volta imprevisível. Geraldo não sabia se voltaria. Havia ainda alguma esperança quando foi dado como desaparecido.

Não sabia se voltaria... Estava em dúvida! Não tinha certezas. Tudo era possível. Ninguém tinha certeza de nada. Será que já temos certeza, daquelas verdades absolutas, das quais não restam as mínimas dúvidas do que aconteceu?

Imaginemos um escritor de contos policiais ao estilo de Agatha Christie e Poirot, C. C. Van Dine, Ellery Queen, Sir Arthur Conan Doyle e Sherlock Holmes, Maurice Leblanc e Arséne Lupin... E se poderia imaginar que alguém soube do teor da carta prévia de aviso, viu nela uma grande oportunidade, procurou Geraldo Monteiro, encontrou-o antes de todos, e o enforcou...  Poderíamos ter mais uma história do crime perfeito, assim como tantos crimes que ainda aguardam por solução. Agiram muito bem as autoridades públicas ao não permitir a cremação do corpo, o que poderia eliminar quaisquer evidências, não de um suicídio, mas de um crime urgentemente premeditado aproveitando a oportunidade única de um desaparecimento com carta de aviso prévio.

Claro que qualquer hipótese de não suicídio, pode ser considerada como uma elucubração mental, proveniente do reino da fantasia, mas nenhum dos autores citados de histórias policiais – a aprendemos muito com os escritores de ficção policial – desprezaria uma investigação mais a fundo do ocorrido.

Num mundo político que até parece ficção, cheio de injustiças e maracutaias, mensalões e cachoeiradas, de desvios de verbas, de presos injustamente e de liberação injusta de incriminados que nem são chamados a depor, de invasões de terras índias, de abusos na compra de merenda escolar, e tantas outras notícias que se escutam em noticiários da mídia, ou se lêem em jornais, populações e rodas de amigos sempre esperam que um dia a justiça aja de modo completo seguindo todos os trâmites legais até uma conclusão final, estudo apurado da cena do crime e as evidências esmiuçadas até a exaustão para que não restem dúvidas sobre se foi suicídio ou crime. Mesmo que os pretensos assassinos não sejam encontrados, mesmo que haja fortes indícios de que foi suicídio.

Afinal, há sempre a arma e o gatilho. Seriam infundados os temores de Geraldo Monteiro, ou o gatilho da bipolaridade foi deflagrado com razão de causa? A lei precisa aproximar-se mais das teorias de Freud, porque nada é tão simples como a complicada mente humana parece fazer supor em sua simplicidade de mostrar apenas os resultados sem evidenciar as causas.

O que fez Geraldo escrever que não havia saída?

Rui Rodrigues.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uma nova frente da economia – A economia do século XXI ?



Uma nova frente da economia – A economia do século XXI ?


Se deixarmos a economia entregue a governos, em épocas de apogeu gastam como se não houvesse amanhã e constroem equipamentos de guerra para garantirem essa economia. Em épocas de recessão, usam os equipamentos bélicos que construíram e declaram guerras porque lhes parece a única saída para se livrarem dos problemas.

O que é economia, comércio, dinheiro, impostos, e todos esses termos correlacionados, e como funcionam em conjunto?

A resposta verdadeira não é fácil, porque muitos já o tentaram fazer, criaram novos conceitos e a economia ainda está em plena evolução. O controle destas economias gerou filosofias políticas que por sua vez geraram os tipos de governo a que sempre estivemos submetidos. Cada um terá alguma definição particular para economia. Uma resposta completa, abrangente, teria que considerar a ambição humana, o desperdício de objetivos construtivos, a ignorância sobre o  comportamento, a vaidade humana. Continuamos fazendo “pesquisas de mercado”, e lançamos mão dos “fazedores de opinião” para empurrar um bonequinho idiota que qualquer um gostaria de ter. No entanto é possível raciocinar livremente, consultar a história da humanidade e constatar que não é tão difícil encontrar saídas para crises econômicas sem passar por conflitos bélicos nem recessões. Pelo contrário, é o desenvolvimento associado à economia e ao empresariado que produz o  conforto econômico, o bem estar das populações. Hoje a economia depende do que o empresariado sabe fazer e do mercado. Países comunistas que tentaram gerir a economia já deram com os burros n’água e dos quase sessenta não mais do que um é ainda e assumidamente comunista: A Coréia do Norte.

Mas há dois problemas principais: O mercado não sabe o que pedir aos empresários para consumir, pois só conhece o que está disponível, e é o empresariado atual que compõe o mercado com base no que tem “disponível” para comercializar. Só sabe fabricar e vender o que conhece, e as industrias não dificilmente se adaptam a uma modificação que lhes permita continuar num mercado quando este se altera. Isto leva empresas à falência e à saturação do mercado. A Ford, a Boeing, e poucas outras, são exceções. Algo necessita ser feito para que a humanidade não sofra crise após crise que a torna instável por insegurança do amanhã. A economia deve usufruir o presente, mas sempre voltada para o futuro. Talvez se entenda melhor onde queremos chegar se pensarmos numa industria automobilística que passe centenas de anos usando sempre o mesmo combustível, os mesmos tipos de motores, trocando apenas o modelo e um ou outro acessório. Esta indústria morre e dará lugar a outra pioneira em “algo diferente”. Empresários que não evoluam, vão à falência. A prova é que assistimos a falências todos os dias em todos os lugares do mundo. Os empregados, que não sabem fazer outra coisa, têm que passar por reaprendizado numa vida ativa que é curta e na qual não se pode perder tempo. Somos muito atrasados em questões de economia e não costumamos entender a economia como uma faceta humana, mas como algo intangível e amoral à qual nos temos que moldar. Apreciemos do passado o que segue, para chegarmos ao que poderá ser o futuro da economia:


  1. O primeiro ato comercial
Há várias hipóteses, mas é quase seguro que se deu quando os caçadores voltaram da caça, há cerca de 4,5 milhões de anos atrás. As melhores partes da caça foram dadas ao chefe da tribo e ao pajé em troca de proteção física e ordens de comando para o primeiro, e de recomendação para bênçãos celestiais pelo segundo. O preço era estabelecido de comum acordo: Se fosse justo, o chefe não batia, não mordia, nem mandava matar ninguém do grupo de caça, e o pajé fazia boas preces. Alguns membros da tribo comiam bem menos ou nem comiam para satisfazer as necessidades do chefe da tribo e de seu grupo de guerreiros “preferidos”. Outra hipótese teria como base o valor a pagar a uma família pela “doação” da filha a um pretendente para a encher de filhos e ganhar prestígio na tribo. A família dela pagaria o dote de modo a garantir a sobrevivência genética e a influência na tribo. Mulher boa era mulher parideira, de ancas largas, carnuda, de peitos enormes, musculosa e disposta para “todo o serviço”. Macho bom era o sujeito forte, de boa queixada para morder com força, punho bravo para bater nos outros e caçar, vontade sexual para sempre fazer filhos todos os dias se fosse possível.

  1. Antes da invenção do dinheiro
Alguns milhares de anos atrás construíram-se mercados onde se praticava o escambo. Quando se começou a dar valor ao ouro, a venda era preferencialmente efetuada com quem o tivesse. O escambo era um problema enorme. Podemos imaginar como na negociação se depreciava o valor da mercadoria, porque quem a queria comprar, e como era valorizada por quem a tinha para vender. Na Turquia ainda hoje se negocia assim, até mesmo em Istambul, onde para se comprar um par de belos tapetes turcos feitos em Kayseri se podem gastar umas quatro horas e sair da loja com o estômago cheio de chá. Podemos imaginar brigas entre mercadores, entre mercadores e clientes, entre clientes entre si se a mercadoria era escassa. 
E havia os impostos, mas vamos deixar de lado os impostos, porque em Mohenjo Daro, uma cidade estado com mais de 10.000 habitantes, com esgoto e água canalizados, há cerca de quatro mil anos, já se fabricavam carimbos para identificar o proprietário das  mercadorias e saber se essa mercadoria estava registrada e tinha seus impostos respectivos recolhidos ao Estado. Por essa época não eram necessários os “fazedores” de opinião: O que se vendia eram tecidos, jóias, cerâmicas, armas, gado, hortaliças e móveis. Quando Dario inventou o dinheiro já se conhecia o Código de Hamurabi, que além de outras disposições, estabelecia a conduta em relações comerciais e determinava os impostos. Era uma coletânea de leis escritas em alfabeto cuneiforme que as crianças nas escolas com todo o prazer copiavam para gravar na mente a sua conduta. Naquele tempo já havia escolas, já se pensava a sério na educação, na moral e na ética.

  1. A invenção do dinheiro.
O governo brasileiro recebe por ano cerca de 4 trilhões de reais. Imaginemos que não houvesse dinheiro ainda, e tudo fosse arrecadado pelo Estado em mercadorias, como no tempo do escambo e dos carimbos de Moenjo Daro. Os armazéns para guardar estas mercadorias teriam que ser descomunais e no caso de gado, mercadoria perecível, o Estado ainda teria que alimentá-lo para não morrer, adicionando custos e reduzindo a margem de lucro. Pior ainda: Teria que vender essas mercadorias, mas para trocá-las por qual mercadoria? Ouro, pérolas, pedras preciosas, jóias, certamente, que nem sempre estavam disponíveis. Foi isso que preocupou Ciro, rei dos Persas, que inventou um padrão base que serviria como unidade básica: Um bom cavalo tantos “dinares”, uma vaca, um boi, hortaliças. Para comprar coisas grandes, moeda cunhada com alto valor. Para comprar coisas pequenas, moeda de baixo valor. Nessa época nem se sonhava com socialismo nem com comunismo. Aliás, na ex-URSS, o comunismo tinha característica de capitalismo troglodita em que o único empresário era o Estado. Alimentos e bens eram comprados com cupons. O Estado soviético estabelecia os valores de cada mercadoria. Evidentemente que não havia “impostos” pelo simples fato que já estavam embutidos, juntamente com o lucro do Estado soviético, no preço das mercadorias. Eram comunistas muitos espertos, Stalin, e os que os sucederam. Stalin não usava cupons, evidentemente e mataria – ou matou – quem se atrevesse a contestar a sua política e sua forma de ver o comunismo. A turba malta da esquerda idealista apontava a URSS como modelo de um estado socialista exemplar, sem saber que para trocas comerciais com países fora da cortina de ferro e chumbo era necessário dinheiro. Dinheiro vivo, porque o rublo era coisa interna da URSS e ninguém acreditava nessa moeda, sempre supervalorizada pelo governo soviético. Aliando-se, por exemplo, a Angola, trocava material bélico por diamantes e ouro que engrossavam os que já extraía em terras do Volga. Com esses diamantes e esse ouro, a URSS saldava seus compromisso internacionais. Até que o ouro e os diamantes já não eram suficientes para  manter o estado russo e suas manias ditatoriais de falso socialismo como o do partido dos trabalhadores do Brasil, o PT. O primeiro passo foi parar sua ajuda a Cuba, ou melhor, a Fidel Castro. Depois veio a Perestroika, a queda do muro de Berlim, e a falência do regime comunista. Devotos cristãos nas igrejas choravam de júbilo porque Jesus Cristo finalmente tinha convertido a URSS. Os russos pensavam de forma diferente: O que lhes faltou foi mesmo o dinheiro. Sua economia que nunca funcionou – era uma morte anunciada – parou de funcionar.  

  1. O Topogigio e outros objetos de consumo

Apareceu na televisão, na década de 60. Era um boneco baseado na anatomia de um rato ao qual lhe foi emprestada uma voz “diferente” com sotaque italiano – os filmes italianos estavam na moda – e que levou o mundo inteiro às lojas para comprá-lo. Era apresentado com trejeitos dengosos, e tinha sacadas inteligentes. Premeditadamente não tinha voz de cantor, o que o tornava “comum”. Provocou uma febre de consumo que levava a audiência ao máximo com seu programa semanal. Passada a febre, não se fala mais nesse boneco, boa parte foi parar no lixo ou doado para instituições beneficentes depois de usados, e deve haver alguns guardados como reminiscências de infância. Quem os guarda o faz por associá-lo a outros eventos agradáveis dos “velhos tempos”.

Mercado faz-se.

Até hoje se vendem “santinhos”, cruzes e imagens dos três pastores em Fátima, e todo o bom muçulmano tem que ir a Meca pelo menos uma vez na vida. Meca vive cheia. Os mercados se constroem. Se alguém muito importante disser um dia que o ouro não vale nada, a maioria dos detentores de ouro o venderão sem se verem obrigados a isso.  É enorme a credulidade humana bem assim a sua vaidade e a vontade de se socializar, pertencer a um grupo de “elite” moral, religiosa, financeira, esportiva.  Constantes roubos no Brasil já mudaram a moda por aqui: Não se usa ouro nem jóias preciosas nas ruas e mesmo em festas particulares é sempre conveniente alugar jóias ou usar excelentes falsificações. Como nem os apartamentos em condomínio estão a salvo, guardam-se as jóias em caixas de segurança em bancos. Correram notícias, carentes de credibilidade, que o povo francês empareda barras de ouro há mais de trinta anos. Na forma como decorre a economia européia não seria de estranhar se tiverem que vir a esburacar as paredes. Mega empresas e Bancos guardam e imobilizam as suas disponibilidades financeiras aguardando oportunidade de comprar empresas menos eficientes. 

A Ferrari e outras marcas de automóveis cujo velocímetro ultrapassa os trezentos quilômetros por hora, continuam a vender bem, mesmo sabendo-se que as estradas não permitem mais do que 150 km por hora. A partir daí é multa e risco para quem usa essas estradas e nem corre a essa velocidade, embora muitos veículos tenham velocímetros que ultrapassam os 220. Na verdade, o que importa ao Estado a segurança particular cidadã, se valor mais alto, o de mercado, se impõe?

  1. Uma economia diferente possível
Não é necessário mudar nada de substancial. Basta criar um novo vetor que seja bastante construtivo, de interesse geral, tornar um sonho em realidade, e canalizar recursos para essa atividade: O desenvolvimento tecnológico visando viagens espaciais, ocupação de novos planetas. O mundo inteiro nessa tarefa. Dar um novo rumo às sociedades humanas, diminuir os conflitos internacionais e internos. Uma humanidade voltada para o espaço e não para o interior de cidades entupidas de veículos particulares que já não apresentam as vantagens de quando as estradas estavam vazias. As possibilidades são enormes. Pode transformar-se numa “febre” mundial, que nos anteciparia ao desfalecer de nossa estrela única: O Sol.

Todo um planeta trabalhando na construção de novos mundos. Já deu certo uma vez.

Rui Rodrigues