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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um olhar cidadão sobre a greve dos policiais



Um olhar cidadão sobre a greve dos policiais

Até um sacerdote é, antes disso, um cidadão perante o Estado e a Nação. Muitos acham que Estado e nação são a mesma coisa. Seria, sim, se o governo da nação representasse os cidadãos. No entanto, atuam sem consultar os cidadãos, porque crêem ou pressupõem que têm o poder de pensar, adivinhar, julgar, saber ou inventar o que o povo deseja. Na minha modesta opinião somente pode haver certeza de saber o que os cidadãos desejam, perguntando a todos, um a um. Como não se pergunta aos cidadãos, a Nação é o conjunto dos cidadãos, e o Estado, é a Nação acrescida dos governantes e terceirizados, e de todos os que dependem de pagamentos ou favores do governo.

Sacerdotes, médicos, dentistas, engenheiros, fiscais, bombeiros, garimpeiros, atacadistas, comerciantes, embarcados, militares, encanadores, carpinteiros, varredores de ruas, empregadas domésticas, doutores, juízes, vereadores, senadores, deputados, presidentes da república, vice-presidentes, governadores e ministros... E todo e qualquer ser humano que viva no país e dele faça parte, é um cidadão, parte da nação, com os mesmos direitos, ou quase... Há restrições...

Policiais e membros das forças armadas não podem fazer greve...

Então, já não são cidadãos por completo... Falta-lhes algo: O direito de proclamarem sua insatisfação, por exemplo, com os salários.

Vemos vereadores, deputados, senadores... Juízes... Imaginem!... Aqueles que estão no topo da lei, fazendo e aprovando leis, dizendo-nos o que é moral e imoral... Votando os próprios salários... E como votaram!

Pelo amor de Deus... SE não tivessem esses cargos tão altos, poderíamos jurar que não sabem nada de matemática, porque se deram aumentos de centenas por cento e ganham hoje fábulas de dinheiro, mensalmente, dignas de contos das mil e uma noites...

Que dispositivo legal se implementará para que policiais e membros das forças armadas possam reivindicar melhorias de qualquer espécie, como qualquer cidadão?

Com que moral se pode exigir de um militar ou membro das forças armadas que engula o salário que lhes dão e os benefícios que lhes dão, e fiquem calados, inertes, obedientes, e sobretudo dedicados com prazer às suas funções ?

Pra nós cidadãos, como nos sentiremos com uma força policial e militares que estão insatisfeitos com a vida?

Inseguros!
Se todos nós estivéssemos insatisfeitos, diríamos a esses militares para se calarem e pararem de fazer greve porque todos nós estaríamos também no mesmo barco, sofrendo do mesmo mal que enfrentaríamos como nação...

Mas como sabemos, há gente, toda ela do governo, que não está no mesmo barco. Esses, não têm o salário que merecem.

Esses têm o salário que querem!.

Temos duas nações convivendo na mesma nação: a Nação dos que governam, e a grande nação do povo brasileiro, que assiste à deterioração cada vez maior da ética, da moral e do conceito de democracia.

A ditadura voltou. Não aquela das velhas ideologias, mas a que busca lucros, boa vida, prazer, poder...

Bem a propósito, onde anda o ministro das forças armadas que até agora não apareceu na cena? Aquele que se veste com gravatinha borboleta, como os dandys nos anos 60, época de revoluções socialistas, pregando a igualdade e a liberdade para os cidadãos, além de uma vida melhor?

Rui Rodrigues

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O que esperamos nós, amantes da ética, casados com a moral?


O que esperamos nós, amantes da ética, casados com a moral?


Parece que ser amante da ética é uma traição á moral com quem somos casados... Ou, se formos casados com a ética, uma traição ao sermos amantes da moral, mas ética e moral são irmãs gêmeas, habitando a mesma ilha de esperança onde vive a humanidade. Não fosse bigamia, para nossos padrões enrijecidos pela tradição, diríamos que seria legal – sob os dois aspectos- sermos casados com as duas...

Assim é na política e em seus efeitos sobre nossas vidas. Amamos a ética e a moral, mas vivemos numa ilha de esperança, cercados de amoralidade e falta de ética, num mar que nos assola as casas, nos destroça o futuro, nos rasga os desejos, nos come os ossos e bebe nosso sangue do nosso trabalho do dia a dia...

É assim que emprestam nosso dinheiro aos bancos sem vermos retorno; nos cobram juros exorbitantes e nos acabam com as economias de toda uma vida; que elegem ministros que roubam, distribuem verbas como lhes apraz, e se vão ilesos na moral e na ética porque na realidade nunca a tiveram, e sem a terem, não há o que perder; emprestam nosso dinheiro do BNDES para a compra de aeroportos que pagarão se não forem á falência, a titulo de melhor administração; dão aumentos a si mesmos, mas não aumentam os salários dos que trabalham, como se o trabalho de nada valesse, porque distribuí-lo lhes dá maiores benefícios; alteram a constituição e as leis para que não se possa saber o quanto se gasta e como se gasta para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos; permitem que se roubem remédios caríssimos e que independentemente do custo, faltem remédios e médicos para a saúde pública; com as verbas dos impostos, permitem que empresas de saúde privada usem os serviços de saúde pública, já deficiente; usam as verbas das aposentadorias para financiar projetos cujos lucros jamais veremos, afundando cada vez mais a possibilidade de aposentadorias tranqüilas depois de décadas destinadas ao engrandecimento da nação; dizem que greves são ilegais, as daqueles que justamente exigem revisão de seus parcos salários, enquanto outros, sem estar sujeitos à “legalidade” da greve, se aumentam regiamente.

Que engrandecimento é esse? Que democracia é essa? Que estado Novo é esse, o da Nação?

E dão-nos festas pagas com nosso dinheiro, trabalho a cargo de prefeituras, para que nos possamos distrair enquanto nos roubam... E distraídos fiquemos imbecilmente alegres e despreocupados olhando e ouvindo, embevecidos, as propagandas do governo dizendo que somos os maiores do mundo... E sem educação, conhecimento, cultura, são poucos os que percebem que em meia dúzia de anos, as obras deixaram de se fazer por milhões, para passarem a custar bilhões... Uma inflação que não se pode explicar se não usarmos as cifras da corrupção para efetuar o cálculo.

Os maiores do mundo, assim de repente?

Quem acredita nisso?

Nesse mar de marolas sutis e falsas, bordejando uma ilha de esperança, logo virão as ondas fortes e as bravas, aquelas que afundam a esperança.

Por esse tempo, muitos já terão ido à míngua, ainda sem educação e sem estudos, sem infra-estruturas, ainda sem nada do que nossas esperanças nos gritavam que era nosso direito... Deixamos a luta para filhos e netos, com essa imensa porcentagem de nossos jovens fora da escola? Sem educação, nossos jovens não mudarão nada. Serão escravos do sistema, tal como nós, vivendo falsas democracias.

Somos assim tão covardes?

Quem se move?



Rui Rodrigues

Gostei! - Cadê o perfume novo?...


Gostei! - Cadê o perfume novo?...

Os tempos daquela excitação animal, heróica, já se tinham ido sem quase nem sentir. Um dia seu pênis não ficou tão duro como antes, mas não deu muita importância, porque ainda funcionava. Atribuiu o fato à perda do apetite pela esposa, coisa natural, depois de tantos anos fazendo amor. Conhecia todos os aspectos da mulher com quem se casara, todos os recantos, todas as vontades, preferências, cuidados. Talvez esse conhecimento fosse a causa maior de sua perda parcial do apetite. Os carinhos, esses, sim, ainda tinham um valor maior, porque eram mais complexos, envoltos em muitos sentimentos, que não os de puro prazer pelo clímax do gozo que nem sempre conseguia atingir. Era uma velho marido fiel.

Um dia saíra de casa com a cabeça cheia de minhocas de tristeza, aranhas de pensamentos de frustração pelo que a longevidade lhe trouxera, vivendo um mundo de saudades de sua juventude e adolescência. Macaquinhos pulavam agitados em seu cérebro, buscando a explicação da vida. Ainda se lembrava como costumava fazer amor muitas vezes sem amor, mas com uma vontade hercúlea de gozar, de sentir a umidade vaginal, símbolo maior de desejo, e do vai e vem de seu pênis, trabalhando forte e incessantemente para lhe dar o prazer de que tanto gostava. Gostava e necessitava. Certo dia, há muito, a umidade ficou menos úmida, e assim foi ficando, cada vez menos úmida, até cessar. A partir daí, pomadas faziam de conta que ainda havia aquele desejo úmido... Não era a mesma coisa. Na rua, dera umas voltas, e quando uma moça bem mais jovem lhe lançou aqueles olhares pagos, ainda relutou preso de um sentimento de vergonha insensata, mas explicável, temendo que a juventude da moça lhe exigisse mais do que lhe poderia dar. Quando finalmente se conscientizou de que o que importava á moça era o pagamento que lhe faria, decidiu-se e deitou-se com ela. Sua mulher jamais saberia desse fato. Afinal, ela era a mulher de sua vida, e essa fugida do cotidiano era como um bálsamo, uma aventura tardia, que nem era inconseqüente, porque sabia que não haveria conseqüências. Ficara três horas com a moça, que entendendo bem a sua idade, não o apressara. Gostaria que tudo fosse diferente, e não necessitasse de compreensão da moça e de seu trabalho para que ele fosse pela segunda vez ao céu. Quando finalmente conseguiu, sentiu-se um herói, merecedor de estátua, mas mudo. Teria que ficar mudo. Não poderia contar para ninguém sua façanha. Seus amigos não entenderiam. Quem sabe eles mesmos também tinham seus segredos semelhantes ao seu? Não pagaria para saber... Sua vida com a mulher valia muito mais do que esse prazer dúbio e estroncho de contar para os outros suas aventuras bem sucedidas para ganhar o quê? Fama? Respeito? Consideração? ... Não!... Ficaria calado e levaria para o túmulo esse seu segredo.  

Quando chegou em casa, sentiu-se um traidor alegre. Olhou para a cachorrinha que acolhiam em sua casa, e viu recriminação em seu olhar. Como a cachorrinha poderia saber? Talvez o faro de cheiros novos que os humanos não podem perceber. Afastou a idéia, mas quando a gata da família veio cheirar-lhe as calças, as mãos, temeu que também ela percebesse o seu ato impensado. Impensado, não. Ele pensara muito antes de receber os favores da moça. Decidira-se pelo último grito do guerreiro, algo que serviria para testar suas verdades, saber se sua aparente apatia sexual era fruto da longeva convivência com a mulher, ou se estava realmente ficando decrépito, senil, velho, um cacareco... Tirara sua dúvida, adquirira a verdade... Mas o que fazer com ela? Isto é, com a verdade e com a sua mulher? Era evidente que sua mulher não tinha culpa da natureza humana, quer física, quer moral. Ele também não tinha esse tipo de culpa, ou pelo menos não deveria ter. Que culpa poderia ele ter da falta de umidade vaginal de sua mulher? Que culpa ele poderia ter se a natureza o dotara de um apetite sexual que ainda estava vigente com essa sua idade já tardia? Afinal de tudo, o que era o amor? Certamente convivência, o lado a lado, o companheirismo, e sexo. Muitas vezes pensara no companheirismo com a sua mulher, ela gostando de umas coisas preferencialmente, e ele de outras, e das reticências no relacionamento que haviam causado. Mas apesar de tudo, sentia-se culpado. Esse sentimento de culpa ele tinha. Se contasse à mulher, o casamento poderia acabar, apesar dela ser extremamente compreensível, mas o descortinar da verdade, abriria as portas para que sua mulher tivesse também suas aventuras... E pensando bem, nada mais justo!... Decidido a morrer justo, apesar de culpado, abraçou a idéia de contar á mulher a sua aventura, explicando os motivos... Se sua mulher optasse por ter suas aventuras, correria o risco. Afinal, ele era um sujeito justo, que se sentia culpado, e queria morrer justo, com suas contas expiadas em vida...

Quando a mulher, vendo o cachorro e a gata o olhou nos olhos e se aproximou dele, sentiu um calafrio na espinha... Será que até ela percebera o seu pecado?

- Gostei! Cadê o perfume novo? – perguntou-lhe a mulher, sentindo umas réstias de perfume diferente no ar, que ele exalava.

Então, ele contou. Muito se discutiu naquela noite. À beira de um ataque cardíaco, fizeram confissões. Quando ele soube que ela o traíra com um homem mais novo, a quem ajudava até financeiramente de vez em quando, a dor veio lancinante. Era um ataque cardíaco sem dúvida. Ainda teve uns momentos breves de raciocínio consciente voltado para sua vida pregressa antes de apagar definitivamente.

Nos dias seguintes, mas já no velório, a viúva contava para suas amigas mais íntimas o quanto seu marido a enganara durante toda a vida, aquele safado, mentiroso, machista. Logo ela, que tanto o amara.

Rui Rodrigues

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Direitos!

Direitos!

        Por democrata que sou, penso que direitos são direitos, não podem ser negligenciados. Penso também que no Estado Democrático de Direito (com maiúsculas mesmo) toda pendência que, eventualmente, surja entre pessoas ou entidades, tem que ser resolvida de acordo com as leis, que foram ou deveriam ter sido criadas pelo Poder Legislativo, que é o responsável pelo ordenamento do direito e dos deveres dos cidadãos. Com base nessas leis, o Poder judiciário é fundamental como esclarecedor, interpretador do direito. Essa é sua função, que visa preservar a racionalidade da sociedade (ante um prejuízo causado por outro, no Estado de Direito, não é necessário que dois cidadãos se peguem no tapa, aciona-se a justiça). Nas pendências envolvendo a sociedade, como um todo, entra em campo o Poder Executivo, que tem o poder e o dever de criar as condições para o funcionamento da sociedade.
        A função de polícia é uma das mais importantes do Executivo. Dela depende um dos serviços básicos e essenciais a serem prestados pelo Estado, a segurança. Sem ela, o que era, ou deveria ser uma sociedade organizada, vira barbárie, quando o que vale não são as leis, as regras e sim a força. Na barbárie, quem tem mais armas e menos consciência manda mais. Impõe seu poder pela força. É, então fundamental para a sociedade, que a polícia seja eficiente, instruída, bem armada, motivada. Cabe ao Estado, escolher os cidadãos que delas participarão, bem como, treiná-los, armá-los, criar diretrizes que nortearão sua atuação e, claro, pagá-los com um salário digno. Cabe ainda ao estado, fiscalizar a atuação de suas polícias, investigando os abusos, coibindo-os de forma enérgica. 
        Bem, como disse no primeiro parágrafo, creio que os policiais também têm o direito de buscar melhorias salariais e nas condições de trabalho. Isso é inconteste. Mas, buscar esse direito, com uma greve, numa cidade igual Salvador, às vésperas do Carnaval, é uma chantagem absurda! Mostra o despreparo total do Estado, que não soube identificar carências de sua polícia. Mostra que não temos leis rígidas para regulamentar o funcionamento das polícias. Mostra que a policia baiana não é definitivamente comprometida com a sociedade, razão maior da sua existência. Mostra que o movimento foi sim, orquestrado para ser executado numa hora mais importante, quando o poder público e a sociedade já investiram e se preparam para uma festa com divulgação internacional (detesto o carnaval, mas, nem por isso vou concordar com o prejuízo causado a cidadãos que trabalham na folia). O encaminhamento da solução, após deflagrado a greve mostra ainda que o poder público tem péssimos negociadores. A grade quantidade de assassinatos e arrombamentos ocorridos em pouco mais de trinta horas de greve mostra ainda que nossa sociedade não na realidade uma sociedade evoluída, racional e sim um bando de predadores, ávidos por carne e que, por isso, tem que ser tutelada, rondada. 
        É preciso que nossas autoridades se lembrem que nosso país sediará dois eventos esportivos mundiais em breve e que, movimentos assim, tendem a criar publicidade extremamente negativa no exterior. É preciso que se lembrem que a população, principalmente nas grandes cidades, como Salvador, sem a polícia, se torna completamente refém de bandidos. Não quero dizer com isso, que nossas polícias são eficientes e adoradas pela população. Os cidadãos vêem nelas a corrupção, a violência, a ineficiência que são noticiadas diuturnamente. Na realidade, o sentimento que a população, no geral, tem em relação às polícias é de medo e não respeito, como deveria ser. Mas, deixar as cidades sem elas é sim, institucionalizar a barbárie. 
       Não sei como resolver o problema de uma greve de policiais, mas, com certeza, sei que o jeito errado é como a questão é encarada no Brasil. Penso que deve haver nesse país imenso, com grandes universidades, com grandes institutos, pessoas capazes de negociar melhor, de resolver o problema. Acho que o que impede que esse, e outros problemas que afligem nossa sociedade sejam resolvidos definitivamente é o interesse dos sindicatos e do poder público de perpetuar essa disputa política e insana, quando se pode negociar influências, tanto com a tropa quanto com a sociedade, em busca vantagens, de propaganda. O dirigente sindical que conseguir peitar o Estado ou mostrar que teve coragem para tal, grangeia o respeito de todos. O político que consegue dar uma solução, mesmo que momentânea, consegue o apoio e os votos da sociedade. Fica difícil para a sociedade, mas muito bom para eles.
      É preciso que esses senhores tenham na cabeça que o seu direito de buscar melhorias para a categoria não pode nunca se sobrepor ao direito á segurança, que a sociedade que lhes paga, tem. É preciso que o Estado busque atender as reais necessidades de sua polícia, assim como de todas as outras categorias que lhe são subordinadas. É preciso que essa negociação entre o que o profissional pede e o que o Estado pode pagar  seja conduzida com dignidade, por pessoas comprometidas com a população, da qual, os agentes públicos também fazem parte.

      Um abraço, Paulo César Pacheco!