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quinta-feira, 25 de junho de 2015

Crônicas do Peró. Sexo, o frio, o mar e o vento.



Estamos em Junho, quase no final, temos que fazer frente às frentes frias.

Pode-se construir um Reino, um Império, uma república com uma boa dose de frio, os horizontes pra lá das ondas do mar, e o vento. Basta uma boa idéia. Saí de casa para enfrentar estes elementos, disposto a pensar no assunto. Sou otimista. Não que quisesse sair daqui, onde tenho minha casa, minhas coisas de frade franciscano, meu leito de sonhos, minha fábrica de labaredas, e duas geringonças que me põem em contato com o mundo lá de fora, muito mais bravio e inóspito do que este em que vivo, preocupado com minhas galinhas que logo serão acompanhadas de alegres coelhos. Do outro lado deste território do qual divido a soberania com um grupo de vizinhos há um Motel cujo dono é um chileno mas que não tenho visto mais desde minha ultima vistoria que fiz a um dos quartos que estava precisando de movimento. Ele me cobrou. Tá certo. Amigos, amigos, mas negócios à parte. Por isso estranhei quando, a caminho da praia, com cachecol, camisa de malha de mangas compridas e um casacão por cima, vi, claramente visto, ontem e hoje novamente, um carro branco balouçante a dois passos do começo da areia da praia. Ontem vi um sujeito de camisa vermelha abaixando-se sobre o banco da frente, hoje vi “algo” indefinido como se fossem roupas, mas segui em frente para não incomodar quem estivesse no seu interior. Nunca se sabe que bofes tem quem está lá dentro. Podem ser bons ou maus bofes, armados ou desarmados.
Fui então pela praia, com ventos e respingos de ondas, um frio dos diabos, mas sempre de olho na paisagem. Uma gaivota passou a meu lado, me acompanhou por uns cinco centímetros e saiu zunindo. Pousou lá na frente. Pelos vistos não estava com a mínima disposição de ir ao cinema naquele entardecer. Preferiu brincar comigo, fugindo sempre que me aproximava, pousando mais à frente. Resolvi pôr um fim á brincadeira e chegando às pedras voltei para trás. E lá estava ela me acompanhando no caminho inverso. Agora, caminhando mais devagar, fui vasculhando o que havia por ali, porque com o vento chegou algum material de praias próximas, navios com tripulação descuidada, ambientalmente ignorante, que joga pela borda o seu lixo. O IBAMA dorme o sono dos justos. Provavelmente dirá que é função da marinha, da APA do Pau Brasil, ou da Prefeitura. Neste jogo de empurra todos ganham menos o ambiente e as populações, porque o juiz fica confuso. Não há jurisdição para assuntos contra os órgãos públicos, porque são eles que nomeiam os juizes. Se reclamarmos talvez sejamos indiciados por desacato à autoridade. Recolhi algum lixo, todo plástico, destinado a uma grande escultura na grande parede da entrada de minha casa, mas de forma a não deixar reentrâncias que permitam acoitamento de insetos, reservatórios de poeira. Tudo deve ficar escorregadio, sem reentrâncias. Se jogar um balde de água para lavar, não pode haver lugar para acúmulo de umidade. Já carregado, voltei a passar pelo automóvel, mas devem ter me visto de longe, porque quando passei ao lado era como se ninguém estivesse dentro dele. Ao passar em frente a um Hotel na rua 15 que tem por aqui, vi um dos zeladores. Perguntei se conhecia o carro. Poderia ser de alguém conhecido dele e não queria deixar má impressão. Soube então que o carro pertencia a um casal que preferia o carro ao Motel lá da frente, cujo dono é chileno, e meu amigo, mas que cobra entrada. Afinal o Motel está ali para isso. A praia é que não está para isso. E na outra rua ao lado, havia também um carro preto balouçando ao sabor que não era do vento. Como temos câmaras para tudo que é lado ao longo das vias, tenho certeza que estará registrado, mas o que me preocupa é que há crianças que costumam visitar o lugar e algumas vivendo por aqui. Estas cenas, embora naturais, não são de domínio público senão de particular, no remanso do lar ou dos motéis, hotéis ou casas de amigos. Teremos que colocar uma placa com os dizeres: “Proibido fazer sexo em público ou dentro de veículos”. Há gente que só traz lixo ou produz lixo por aqui. Chamam de turistas. Eu chamo de terroristas ambientais.


® Rui Rodrigues

Um comentário:

  1. Oi compadre, muito interessante esta cronica, para mim que conheço o lugar, ficou mais fácil entender sua vida, solitária? Continue com seus escritos pois estão ótimos, abraços e parabéns do amigo Arthur

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