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sexta-feira, 22 de maio de 2015

O choque termo-anafilático político e a palavra de conforto.


Refiro-me aos movimentos mundiais e em especial aos de nossa terra amada Brasil que, independentemente das particularidades, influencia e sofre influência desses movimentos.

1. O estado de satisfação das populações mundiais
Fatos acontecem todos os dias e quando acordamos ou estamos numa crise mundial ou numa guerra localizada, ou em nível mundial. O que nos deveria preocupar não seriam as guerras latentes em si, mas os motivos dessas guerras. Até recentemente, pouco mais de uma década atrás, baseavam-se principalmente em lutas pelo poder local, em conflitos étnicos, uma ou outra por potências mundiais querendo manter suas regras sobre o mundo, algumas por movimentos de independência. O terrorismo no Brasil nunca foi por independência, nem nos movimentos separatistas do passado. Havia racismo e fatores econômicos à mistura. Há sempre motivos econômicos para dissensões e guerras internacionais.

Hoje a imensa maioria dos movimentos populares e guerras são por questões de insatisfação. As populações mundiais estão insatisfeitas, infelizes, o sentimento é de insegurança e sentem que algo deve mudar, sobretudo na política, acreditando que, em decorrência, a economia e tudo o mais melhorará. O “tudo” é vago, generalizado, e cada povo ou região do planeta tem seus motivos para querer mudar. Boa parte está em tal estado de desilusão que não sabe bem o que quer. Tem certezas que o mundo pode ser melhor, bem melhor, mas não consegue definir o “melhor” e as soluções decorrentes. Fala-se numa “nova ordem mundial”, há quem alerte que a vida tem que ser mais suave e natural.

2. Os movimentos mais recentes.

Com o IRA e o ETA apaziguados por promessas e necessidades de reunir forças para gerir o Reino Unido e a Espanha face á crise econômica que se avizinhava e eclodiu em 2008 [1], o mundo parecia estar livre dos movimentos sociais. Com a crise de 2008 surgiram movimentos preocupantes na Espanha, na Grécia, no Reino Unido, em Portugal, Turquia e em outros países em menor escala. Num desses movimentos decidiu-se “ocupar a Wall Street”, N. York, surgiu o M-15 na Espanha e outros semelhantes em outros lugares do mundo surgiram também. Governos decidiram ir em auxilio de Bancos emprestando-lhes ou doando verbas públicas que por esse motivo foram transferidas de serviços sociais e de investimento, os Bancos retiveram essas verbas por precaução, o meio circulante diminuiu, e a crise de 2008 se estende já até 2015. Há recessão ou crescimento quase nulo em muitos países do mundo. Países como o Brasil, os BRIC, aproveitaram esse período de 2008 a 2015 para crescer muito mais do que os países desenvolvidos. Menos o Brasil sob governo do PT e da base aliada que se crê mais ampla por falta de uma oposição mais operante que se esperava do PSDB e de seus aliados.

Recentemente apareceram novos movimentos. Dentre eles o Boko Haram e o ISIS, mas estes de cunho aparentemente religioso que no fundo se podem encaixar em movimentos de revolta contra as regras que regem o mundo, envolvendo economia, racismo, religião ao mesmo nível deplorável do stalinismo, do nazismo, do fascismo, senão pior.

No Brasil os movimentos mais representativos se traduzem pelo movimento dos políticos corruptos, tendo como oposição os movimentos de rua contra a corrupção. Por falta de representatividade política, e porque o governo e os políticos contam com forças de segurança, o mais provável é que a corrupção continue com leis e emendas “constitucionais” que os políticos corruptos farão aprovar para continuar com sigilos que levam à corrupção.

3. O choque termo-anafilático político.

O que se espera dos governos que têm oposição efetivamente oposição, é que, quando acontecem fatos que fogem do que se entende por ética e moral por parte do governo e que afetam a população, a oposição exerça seu papel e corrija as causas desses fatos para que cessem os efeitos. Por falta de oposição efetiva, o povo saiu para as ruas. A oposição preferiu omitir-se nesses movimentos alegando que assim se demonstraria que esses movimentos eram genuínos – e foram de fato – e não uma sublevação apoiada pela oposição. As manifestações de rua no Brasil têm o suporte da veracidade dos fatos que levam o Brasil, dia a dia, para uma situação política e econômica degradante. Esses fatos são do conhecimento público. O governo nega todos, exime-se de culpas, ninguém sabe de nada.

Por abstenção da oposição, uma considerável parte da população em todo o Brasil cogita de intervenção militar constitucional, o impeachment da presidente. É uma escalada na busca de uma solução para um governo que vem apresentando os piores índices – em tudo – da história do Brasil. Índices econômicos, de ensino, de segurança, de saúde pública.

A população mais esclarecida, depois de 13 anos contra o governo, está numa situação de que se sente só, sem que alguma instituição ou partido se mostre disposto a representá-la. Julga-se que esta população seja a maioria, não só porque é esclarecida, mas principalmente porque as medidas, isto é, os erros do governo afetam diretamente e em maior grau as populações mais pobres, que têm que lidar com alta inflação, aumentos exorbitantes das necessidades mais prementes como energia água e combustíveis, enquanto se vota e é aprovada uma obra no senado para ampliar as instalações com construção de um shopping.

Juntando-se isto aos escândalos da Petrobrás, do mensalão, de obras superfaturadas, aos sigilos nos gastos, ás deficiências nos transportes, no ensino, na saúde pública, no aumento dos preços de remédios, dos altos índices de desemprego, de tanta coisa que vai mal, a situação é de desânimo. O povo se sente só como numa ditadura, em que a repressão pela violência é substituída pela repressão das canetadas da presidência, das votações dos políticos, e pelo descaso em o governo ouvir a voz das ruas e campos do Brasil.

A população está espantada, em estado de choque como se fosse choque térmico ou anafilático. Paralisada, acuada, num beco sem saída. Aconteceu o mesmo na Venezuela. Já tinha acontecido antes em Cuba, como se fosse possível transformar o ser humano no que os governos fortes querem que ele se torne, o que varia de ditador para ditador. A capa democrática quem a veste é o povo. Ditadores a usurpam por compra ou pela força “democrática”.

4. A palavra de conforto.

Com os políticos ganhando altos salários, cheios de benefícios, verbas doadas pela presidência para ganhar seus votos, o Supremo cheio de indicados pela presidência, não há esperança nem isenção. Como julgar que possam ser isentos com uma presidência destas, de tubinho de dentifrício do qual sai uma pasta que não entra? A população deverá continuar por bom tempo sob a tutela imperial de uma oligarquia de políticos. Eles mandam, desculpam-se, omitem-se e mentem, e, sobretudo, têm forças bélicas que garantem o que fazem, bem ou mal. Democracia também é arrasar a nação ou elevá-la ao lugar no mundo que merece.

Não há palavra de conforto. Quem a tiver que a dê. O povo brasileiro precisa de uma palavra de conforto, mas não só. Deverá também ser de esperança e solução em curtíssimo prazo.

® Rui Rodrigues
 


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