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segunda-feira, 7 de março de 2016

Historia de criancinhas: Vamos brincar de governar?



1- A parte triste das brincadeiras



O bairro era de gente pobre e remediada. As crianças viviam na rua. Muitos dos pais eram cachaceiros, batiam nas mães. Todos os pais e mães, quando voltavam do trabalho, reclamavam dos salários e do trabalho excessivo. As crianças queriam mudar o mundo, cresceram alimentando a raiva dos pais. Algumas roubavam pequenas coisas dos outros e das outras casas como compensação do que julgavam ser uma injustiça social. No seu pensamento de criança acreditavam que deveriam ter um minimo para viver mesmo sem trabalhar, de forma que os pais pudessem ficar mais tempo em casa para lhes dar atenção, o que faria diminuir as reclamações paternas, aliviar a dura vida em casa onde muitas vezes faltava comida e sobravam garrafas vazias. Outras saiam nas ruas para mendigar moedas com que comprar cerol, pipas, ou mais tarde um cigarro avulso, um pedaço de crack. Assistiam a programas de televisão e viam anúncios com gente muito arrumada, comprando coisas maravilhosas, carrões, gente de férias, viagens de avião, e imaginavam como poderiam ter acessoa tudo isso se nem sabiam falar bonito como eles. E as casas? com camas maravilhosas, elevadores, porteiro para servir...Ficava-lhes tão longe um futuro desses e tão difícil, trabalhoso de conseguir, que muitos desanimavam só de pensar. Alguns queriam igualdade num mundo cheio de desigualdades, queriam iguais oportunidades sem processos de formação: A igualdade como direito adquirido até de ter um diploma nem que fosse ao tapa em professor. Alguns chegaram a dar!

2- Brincando de governar, como consequência.  



Certo dia uma dessas crianças, um menino, disse para os outros: Vamos brincar de governar! não perguntou. Mandou. Os outros aceitaram, mesmo sabendo de antemão que ele seria o maioral.

- Eu sou o rei! Rei não... Sou o Presidente!(disse ele, o maioral, que se chamava Ignácio) 
- E eu sou a chefe de policia! (disse uma menina que se chamava Delma)
Ignácio apressou-se a aceitar. Delma era uma menina que não podia ser contrariada sob pena de pesadas desavenças no grupo. Ela tinha um revólver, era quem mais roubava para eles, e graças a ela até bola de futebol oficial tinham comprado. Os outros concordaram também. Com Delma não se discutia!  
-  Chico vai ser o ministro da educação!(Ignácio não dava tempo a ninguém para pensar nem para propor nada).
- Mas Ignácio... (atalhou o tal Chico). Eu só tenho o primeiro ano da escola. O Cardoso é que tem já o terceiro ano. Ele que deveria ser o ministro  da educação...
- Deixa de ser besta!... Tu que vai ser o ministro, Chico, porque  tenho mais confiança em ti que nele. Competência nao interessa. O Cardoso vai ser o ministro das forças armadas. A Delma que manda, e o Cardoso fica de florzinha, só de decoração. 

E Ignácio foi designando um a um os seus ministros, prometendo a Delma que se um dia deixasse de ser Presidente a indicaria para o seu lugar. No final das nomeações, não sobrou ninguém para fingir ser o povo. Resolveram que o povo seria o povo do lugar e que cada ministro teria que conseguir sua própria verba. Os ministros roubariam para o grupo. Alguns pais começaram a punir seus filhos assaltantes, porque não queriam dar maus exemplos, e porque roubar na comunidade lhes traria grandes desavenças entre os  adultos. Os meninos começaram a roubar nas vizinhanças.

Cresceram e se tornaram adolescentes, continuando . Assaltaram bancos, fizeram raptos relâmpago, mas nem todos. Uns nunca participaram dos roubos, preservando-se para serem ministros e terem a vida "ilibada". Alguns foram presos e soltos por serem "de menor". Delma foi uma destas que sotaram para se regenerar.

3- A vida adulta, uma sublimação da infância.    



Quem não pode adivinhar como essas crianças desamparadas na infância se comportam na vida adulta, ajudando-se uns aos outros, chorando a cada "injustiça" que o mundo lhes proporciona?  E quando  chegam a governar, elegendo-se por propaganda paga, na qual a maioria ignorante acredita, o que fazem, senão tentar implantar sua "lógica" de vida ou de entendimento politico? O que pode ser o povo, alem de contribuinte forçado para angariar fundos e dividir entre amigos e apoiantes, se nem sabem como funciona a economia de uma nação? 
Para eles, economia é a capacidade de um povo pagar impostos, não importando se têm ou não para pagar moradia, se lhes sobra ou não comer. 
Se conhecem  alguém com estas características, tomem cuidado. Usam as instituições para cumprirem com seus desígnios, comprando seus membros, nomeando seus ministros, criando novas leis, modificando as antigas até que nada nem ninguém se lhes oponha. Nem precisam mais usar armas como na adolescência. Dizem que são democráticos e que as forças armadas lhe garantem a democracia de não serem nada democráticos ao imporem leis e atos comprados com a força e as verbas publicas que a hierarquia republicana lhes dá. 

Rui Rodrigues 

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