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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A criança e a jararaca

Um dia ele disse que era como uma jararaca. A pequena criança a quem a mãe implorante não tinha como ensinar, por ser analfabeta, perguntou ao professor o que era uma jararaca e desejou que já tivessem matado todas para que nenhuma lhes mordesse os calcanhares no caminho de mato que atravessavam todos os dias.
Eram cobras venenosas...
Como poderia alguém que era popular e mandante no governo, al
ém de mandatário, se igualar a uma cobra peçonhenta, mordedora, venenosa, pior que lobo que veste a pele de cordeiro???? E o que a incomodava era a mãe, que adorava o tal de jararaca. Como se poderia falar bem de uma jararaca????
Isso acontecera quando ela, ainda criança, tinha idade de criança, nada mais que quatro anos de vida, fazia um que falava decentemente e escutava ainda melhor...
Mas agora, com sete anos, tinha certeza absoluta que os adultos não imaginavam a diferença entre quatro e sete quando se trata de idades infantis de crianças, nem como são mortas ou espertas as jararacas que nem no mato nunca apareceram na sua frente parecendo extintas.
A criança agora sabia, através dos livros de escola, que as jararacas amadas podem ser detestadas com o impeto de uma minhoca ou com a espuma da raiva de um cachorro raivoso, ou até mesmo com a eficiência do Evanilson, o policial que todos na comunidade respeitam com a raiva surda de gatos desconfiados, e que prende aqueles meliantes benfeitores que a comunidade tanto odeia com o amor de mães agradecidas por apenas lhes baterem mas as deixarem vivas...

A criança teme pelas mães da comunidade, de mais de duas mil pessoas e onde apenas uma, o Evanilson, é policial. Porque deixam as jararacas soltas, porque há tantos malfeitores, porque tudo é tão difícil, porque se arrumam tanto, usam ternos e gravatas, e segundo dizem ganham tanto???? Porque se dizem socialistas e desobedecem a constituição ganhando mais do que ela permite... Constituição, legalidade, havia as justiças sociais, as de togas, as dos hospitais, as da escola, as de casa, as dos vizinhos, a da igreja, o mundo era um mar de letras tentando fazer sentido para a justiça, mas a jararaca lá andava ainda, suada velha e cansada, apregoando justiças que nunca fez por ser jararaca, e um bando de minhocas elétricas votando "pega ela" de noite sem nunca a terem apanhado sabendo por onde anda.
E a criança adulta aos sete pelas leis da comunidade, perguntou para a mãe...


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- Mãe... Quando crescer posso ser presidente????
- Pra quê meu filho?
- Pra roubar pra gente!!!


Rui Rodrigues

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