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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A Azáfama dos Éolos



Deve ter sido repentina e violenta a azáfama  dos Éolos numa meia duzia de minutos que decorreram desde o fim de uma noite estrelada até o raiar do mesmo dia, porque quando acordei caia uma chuva torrencial, daquelas  de encher buracos de ruas e estradas, rios, cachoeiras, lagunas, lagos e represas, tirando-nos a imposição de bandeiras vermelhas e amarelas de energia elétrica e devolvendo-nos a "bandeira branca, amor, que eu quero paz" que nos sobraria para o pão... 

Digo isto porque o tempo foi muito curto entre os 50 graus Celsius abafantes e os leves 27 graus úmidos de cortinas de cachoeiras de caudaloso rio, que nos amaciam as batidas do coração. À voz de trovão de Thor com seu martelo que soltou raios, a de Zeus se lhe juntou e ambas começaram a tocaiar as nuvens apressadamente, juntando-as em magotes felpudos, como pastor reúne suas ovelhas, tarefa árdua reservada aos ventos Éolos que aparecem em qualquer lugar, não só em um ilha flutuante cercada de muros de bronze, a Eólia, que os daqui não são como os de lá, os seis filhos de Hipotes, o grego senhor dos ventos, dos quais um outro se chamava Odisseu. Os daqui são mais violentos, quentes, molhados e mornos. Quem sobrevive, vive uma verdadeira Odisseia permeada de alagamentos, morros que deslizam, casas que os acompanham e se soterram com inocentes a quem prefeituras deram alvará. Só queriam ter uma casa, a seu gosto, construída com seu dinheiro, e não uma casa daquelas tipo minha vida em que têm que pagar pelo que não valem nem como querem ou podem. Não querem nada parecido com triplexes como o do Guarujá, mas a seu gosto, bel-prazer, mesmo que nunca tivessem tido uma desde que fosse de seu projeto.  


Que belo e portentoso trabalho, o que fizeram. Quando os Éolos chegaram no final da madrugada, juntaram as nuvens e as giraram produzindo pressões que as espremeram, torceram como roupa encharcada acabada de lavar que se espreme até  serem exauridas de toda a água que tinham. Choveu torrencialmente em catadupas por mais de hora, durante a qual Sarkye, a gata de três cores,  teve oportunidade de dar sua fugida da prisão dourada de sua casa, fugido pela porta aberta para a paisagem. Saiu sem esparadrapo no traseiro, sem fralda preventiva,nada que a pudesse prevenir de uma gravidez indesejada. Por sorte gatas também têm medo de tempestades  e grandes aguaceiros. Por isso, logo após ter saído para debaixo de uma carruagem motorizada de ferro pintado e não de cobre reluzente como costumavam ser as bigas  de Anacreonte ou de Elias, que subiu aos céus numa de fogo, voltou para casa correndo, molhada por respingos, livre de gravidez. 


Como em fábulas os animais pensam e falam, ouvi-a dizer-me perfeitamente entre miados de resmungo: - Vê se me arranjas pilulas anticoncepcionais para não teres que me castrar. Dói muito!

E fiquei pensando com meus botões como ainda não tinham pensado nesse milagre das pilulas para que gatos e gatas, e mesmo a cachorrada, possa trepar sem culpa em muros arvores e postes, sem precisarem ficar presas em casa para não parirem. Mas gatas não sabem que a pilula mata lentamente e melhor viveriam se castradas.  


Ah... Uma mente sensata nem de brincadeira faria menção a engarrafar estes 
Éolos...   

Rui Rodrigues 

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