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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ligo ou não ligo?



Creio que todos nós, os da idade madura ou melhor idade, quem já viu um pouco bastante deste mundo meio bastardo, meio legítimo, nos fazemos a mesma pergunta, ou já no-la fizemos no passado: Ligo ou não ligo o foda-se?

Já comprei uma porção de canecas de alumínio – somos o país do alumínio – mas já joguei todas fora porque a “pega” sempre fica bamba porque o parafuso de ferro enferruja. Sabem esses relógios digitais de cozinha? Já comprei uns três nos últimos cinco anos porque param de funcionar. De funcionar não, mas o ponteiro não sai do lugar e “não vale a pena consertar”. Antigamente íamos à venda do Sr. Manuel e ele nos trocava na hora e nem tinha esse negócio de “garantia” e muito menos de “garantia adicional”. E as faltas de energia, de água, ou de sinal da net ligando para as empresas terceirizadas, e aquelas esperas infernais? E o Procon que nos preconiza a solução de todos os problemas? Até mais ou menos, mas antigamente gastávamos nosso tempo trabalhando. Agora gastamos nosso tempo reclamando de tudo e não é porque “queremos mais melhoras” como disse uma senhora louca que elegeram – só pode ser por engano – como presidente. Não, não! Reclamamos porque queremos apenas e tão somente o mínimo que nem isso temos. Basta pegar um trem ou um ônibus ou vermos quantas usinas de tratamento de esgoto existem, e se tivermos dúvidas basta olhar para a Lagoa Rodrigo de Freitas que só por si já é uma imensa Estação de Tratamento de Esgotos.

Então, olhamos para lá das fronteiras com a luneta da net e com os ouvidos e olhos ligados na TV e o que vemos?  
Se ligarmos o foda-se não vemos nada de importante. O que podem significar aqueles grupos de sujeitos vestidos de negro cortando pescoços de gente como se fossem de galinhas ou de perus de natal, queimando gente ainda viva, bem viva, com gasolina em gaiolas? Afinal, isso é lá bem longe, na África, e são todos muçulmanos. Por isso, “que se foda”.  A Rússia invadiu a Ucrânia? E daí? Não são todos russos? Os russos que se entendam porque aqui não é Rússia. E a Venezuela sendo arrasada pelas idéias de um motorista de caminhão que resolveu se apoderar do que é certo e do que é errado porque o Congresso do país dele foi subvertido e comprado pelo antecessor que o indicou para presidente? Já morreu muita gente, mas os venezuelanos que se entendam, não é? Isto é perto sim, mas temos a tropa de selva da Amazônia supertreinada e nosso governo não é bobo, nosso país é muito grande...
Com o foda-se ligado nunca há problema e mesmo que uma coisa não tenha nada a ver com a outra, foda-se! Está tudo desculpado e explicado. Uma boa desculpa já nos faz aceitar o desconforto de nossa comodidade e de nosso conforto. Mesmo quando depois do preço da gasolina subir de dois reais para quatro em dois meses, a tal presidente vem a público dizer: “Mas nós não aumentamos a gasolina”... Que bom que até a gasolina é burra e se aumenta a si mesma! Nossa... Como é bom ligar o “foda-se”... Ficamos logo mais inteligentes e entendemos tudo, apesar de muitos que não nos entendem dizerem que somos alienados.
No passado quando a população não estava satisfeita, ia para as ruas, os artistas saiam de mãos e braços dados, gritando slogans “subversivos” (são hoje os slogans “conversivos” já que é a subversão que assumiu o poder? A cultura melhorou? ), os trabalhadores faziam greves fenomenais, mas parece que a população ligou também o “foda-se”, e cada um de nós, em frente ao computador vendo e sabendo tudo o que se passa ou xeretando na TV passando canal atrás de canal, se julga um passarinho fora do ninho onde tudo vai mal mas a população reage como se tudo estivesse bem. Cada um de nós se sente mal apenas quando se esquece de ligar o tal botãozinho (do foda-se). O problema é que há quem não saiba que o botão existe e quem se esqueça onde fica para apertá-lo na hora agá.

Não sei onde fica esse botão ou, melhor... Não quero saber. Creio que até uma borboleta que decide num determinado instante bater suas asas na direção oposta às demais que migram entre continentes, possa mudar o destino da humanidade, mas uma dessas não deveria fazer parte da teoria do Caos, e sim da teoria da Ordem. Não sou borboleta, mas bato minhas asas do conhecimento embora tenha consciência que não conheço nada. Só conheço uma tão pequena parte do todo que avaliá-lo seria temeridade. Também creio que se algum dia apertar o botão do foda-se o mundo muda, mas para pior.  


® Rui Rodrigues   

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Justiça justa não dá lucro

Justiça justa não dá lucro - Lei que se perde numa agonia da moral e da ética...


Quando os governos são amorais, aéticos, e porque não dizer rapinantes, as leis perdem o sentido porque não podem ser aplicadas em sua interpretação original. Juízes indicados pelo poder com a conivência de advogados e promotores torcem, retorcem e contorcem as leis, e as invertem, revertem e controvertem.
É a apologia do interesse comunitário, entendendo-se como comunitárias as comunas que como gulags servem de um lado os grupos no poder e de outro enjeitam os desamparados populares. A proteção do poder os faz legislar em proveito próprio através de aumentos salariais, à revelia e ao bel-prazer. Como são os donos da verdade, julga-se o que é mais urgente para os interesses e posterga-se o que não dá lucro. Justiça justa não dá lucro.
Não existe uma lei dizendo: Mandem-se batalhões de choque invadir todos os bairros da nação para a acabar com o tráfico, mas emitem-se ordens para acabar com a greve dos caminhões que é mais que justa na essência, mais justa que os juízes que a julgam injusta.
Há milhões e milhões de processos parados, mas já se buscam motivos para se aplicar lei de mordaça nas redes sociais que serão julgadas - se derem lucro mais que não seja político - por juízes de plantão, provavelmente importados de Cuba, assim como o foram médicos com diplomas falsos, contratados por um esclavagista a soldo do PT.
Depois reclamam que a população não aguenta mais este tipo de justiça assalariada assaltante e preguiçosa.
Somos todos nós, o povo brasileiro, os juízes incontestes deste deficiente governo do PT e de seu associado majoritário o PMDB


® Rui Rodrigues 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Eternidade é um zero.




Temos que reconhecer que as religiões têm tornado este mundo mais social em nosso meio humano no que pesem as guerras que esporadicamente provocaram. Sem elas a moral e a ética não seriam tão apuradas, as leis seriam as dos mais fortes - tal como de certo modo ainda são – porém muito mais violentas se é que existiriam leis. Todas elas são conformativas. Os fiéis sentem-se na obrigação de serem “bons” e se não amam o próximo, pelo menos o respeitam mais do que sem as leis de cada religião. Muitas delas “oferecem” uma outra vida após a morte. Não deixa de ser reconfortante. Tem funcionado. Porém o aparente laicismo das republicas tem-se defrontado recentemente com movimentos que apareceram do “nada” invocando Maomé e querendo impor uma moral rígida, usando métodos que parecem surgidos do inferno, envergonhando o profeta: Invadem e destroem cidades, matam inocentes de quaisquer idades incluindo crianças, queimando-os em gaiolas, degolando-os.



A maioria dos seguidores é composta de jovens de um mundo superpovoado que buscam alguma “coisa”. O quê? Certamente que uns buscam o poder, outros uma nova moral, outros aventura, mas num regime dominado por homens onde a mulher não tem a mínima voz ativa. São como qualquer ser humano homem que não se quer impor limites, ou como qualquer mulher para quem a liberdade não tem importância desde que vivam alimentadas e protegidas por homens. È a volta dos antigos califados, dos haréns. Mas o Universo em que vivemos tem limites e não são para desprezar porque fazem parte das leis que nenhuma religião escreveu. As verdadeiras leis nasceram com o despertar do Universo. Vejamos, porém, que existe a possibilidade de nada disto ter a mínima importância. Nenhuma importância mesmo, e esta veracidade não depende de se acreditar ou não. É aquela verdade imutável que tanto se busca, a que não depende de “interpretações”, embora difícil de entender porque exige um pouco mais do que sentar em bancos de universidades.



A ciência no fundo sempre buscou encontrar Deus. Saber como Ele fez o Universo, mas nos defrontou com um enorme problema: Como o Universo existe há uma eternidade para trás no tempo, para que seria necessário um Deus que tivesse feito um universo que já existia antes dele surgir? E para que necessitaria surgir se tudo já estava feito e nem nos aparece todos os dias para dizer: Eu existo! Esta questão do tempo é muito importante para se poder entender o que pode ser Deus, o que somos, a existência de “outra vida” para lá desta. Mas quer Deus exista ou não, temos ainda outros problemas. Se não conseguirmos mandar um casal fértil ou de outro modo fecundar óvulos femininos com espermatozóides em outro planeta fora do sistema solar, estamos arriscados a perecer como espécie porque o nosso Sol se transformará numa gigante vermelha que impossibilitará qualquer tipo de vida. Mas, mesmo que isso não acontecesse, nossa Galáxia se fundirá com a de Andrômeda com grandes possibilidades de extinção. E mesmo que isso não viesse a acontecer, nosso planeta pode aniquilar, como já aniquilou por várias vezes, 98% das espécies, e sempre há os meteoros. Algum deles pode provocar o mesmo resultado tal como aconteceu com os dinossauros. Em suma, se algum evento destes acontecer – ou quando acontecer – não haverá memória neste planeta. Não haverá memória! Nada, nem ninguém se lembrará sequer que um dia existimos, a não ser uma eventual espécie que tentasse evoluir neste espaço de tempo que ainda falta para o Sol se transformar numa gigante vermelha, fizesse escavações e contasse nossa história tal como os arqueólogos e historiadores tentam recontar a nossa própria. Essa espécie nos substituiria, mas teria todos os demais problemas até que ficassem também sem memória viva.



Em suma, surgimos a partir de um momento da história do Universo, este nosso, que por sua vez surgiu em um momento da história de um grande universo muito maior que tem uma história infinita no tempo, aparentemente sem um criador. E o futuro? O meu? O seu? O da humanidade? O do Universo? Imaginemos uma linha infinita quer para a direita quer para a esquerda. Marquemos um ponto A no surgimento deste Universo, e longe, muito longe, o surgimento deste sistema solar habitável na Terra. Marquemos um ponto B no surgimento da espécie humana, e logo adiante, em C, a data de seu nascimento e em D a de sua morte. Marque em D o fim da humanidade. Que importância pode ter para você ou para a humanidade toda a sua história? Bom... Se pensarmos que existe um paraíso e sem questionarmos quais os conceitos que presidem a escolha para sermos “escolhidos”, aceitando até que todos o sejamos, que dizer quando este nosso Universo se transformar num lugar tão gélido que nada possa nele existir embora ele, o universo, continue existindo? Sim, porque nosso universo começou com bilhões e bilhões de graus e hoje a temperatura média é de meros 2,4 graus aproximadamente sempre diminuindo. O céu, o paraíso, não ficariam neste universo inerte, parado, gélido, inóspito... Onde ficaria, para que pudéssemos, lá, ter nossa memória?


A memória funciona através de circuitos de informação que podem ou não ser elétricos. Seja como for, e em qualquer hipótese, precisam de energia, mas não há energia num universo inerte, parado, gélido, inóspito. Estamos numa armadilha. Então tudo estará perdido? Não... Tudo, o que quer que “tudo” possa significar, pode continuar tal como está que não mudará nada. As religiões continuarão a amenizar a vida difícil, que o é para todos, neste planeta. Sem elas, não importa que Deus adorem, ou mesmo nenhum, provavelmente já nos teríamos canibalizado sem remorsos talvez na disputa de uma bandeira, de um símbolo, de um pedaço de carne de qualquer animal comestível, e o segredo de nossa longevidade reside no fato de sermos sociais. Quanto mais sociais mais durável será a humanidade. Precisamos de todos sem exceção porque cada um tem sua função nesta vida, da limpeza ao apoio, da religiosidade e da falta dela para que alguém pelo menos se questione sobre o “tudo”, e da ciência sem a qual nem poderíamos ler estas linhas tortas.



Mas se repararmos bem, para cada um de nós e para o próprio universo haver ou não um começo, uma eternidade é como se nossa existência ficasse reduzida de infinito a zero, porque a memória se acaba por falta de energia, quer seja de nós mesmos, do sistema solar, do planeta ou do universo. Este não acabará, mas será gélido, inerte, inóspito sem a mínima energia.
 Não dizem que o espírito ou a alma é uma espécie de energia? Aproveite esta vida. É única coisa que temos certa porque nos parece muito real. Mas há quem diga que não.



® Rui Rodrigues   

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Festa para um rei negro. Pega no Ganzê.






Então ficamos assim... A Policia Federal investiga e manda a julgamento... Aqui entra o PT através de seu ministro injusto da Justiça: Separa o joio do trigo. O Joio é o comum, o trigo é do PT... A estes libera logo para a liberdade doentia do ser preso na sua humilde residência... A OAB quer dividir os méritos e os louros e capitalizar os juramentos...


A esquerda da esquerda não pode fazer muita coisa porque a esquerda virou direita e a direita se resume aqueles dez que não conseguiram ser suficientes para salvar Sodoma e Gomorra. Sara, diz-se, virou estátua de sal por olhar para trás, mas a mulher lá do planalto nem olha para trás para não servir de tempero para salada... E nem quer sair do palácio onde espera que lhe tragam na bandeja as cabeças cortadas que ainda quer ver... Cabeças velhas que perderam a força de olhar, de pensar, e nem podem mais levar a mão à testa para bater saudações.

Do povo incréu que não tem as qualidades de Nostradamus nem de Nostrasdamas, como a Martha, nada mais que passividades se espera. Disse a Nostradama Martha que é melhor relaxar e gozar quando o estupro é inevitável, e de quatro, o povo incréu crê - pelo menos nisto crê em alguma coisa - que é melhor ficar de quatro e deixar entrar do que espernear e ainda apanhar.


Desta vez o rei que veio nos visitar era da Guiné, da África do tempo dos escravos, quando chefes tribais vendiam seu povo para o tráfico dos brancos. Agora o tráfico é todo sobre o branco com gente de todas as cores e os escravos não são dos homens porque são do pó. E ao pó hão de retornar... Nas asas de um colibri, de um beija-flor.O filho do rei da Guiné, de povo pobre, é demasiadamente rico e deve explicações à justiça.



® Rui Rodrigues.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O mistério das ilhas Flannan e sir Conan Doyle.


O mistério das ilhas Flannan.



Imagine um conjunto de ilhas no Atlântico Norte a cerca de 44 km da costa da Escócia [1]. Aquele mar é bravio, cheio de tempestades, baixas temperaturas, muita névoa que impedia que fossem vistas do mar por embarcações muitas delas já com motores a vapor. Em Eilean Mor, a maior das Flannan, o governo de sua Majestade mandou construir um enorme farol que ficou pronto em um ano para evitar os constantes naufrágios. A partir da inauguração grupos de 3 a 4 homens arregimentados numa pequena povoação e pescadores do continente, localizada no cabo Wrath, se revezavam em turnos de 14 dias para cuidar das instalações e do farol cuja luz era visível desde o cabo. Uma eventual falha na iluminação do farol seria motivo imediato para que tripulação de terra fosse até a ilha Eilean para verificar se tudo estava em ordem. Ninguém agüentava mais que 14 dias numa ilha minúscula em meio a oceano bravio, isolada de qualquer comunicação de terra. Para passar o tempo jogavam cartas, tomavam uísque, pescavam e cuidavam de uma pequena horta e um casal de ovelhas. A ilha não dava para muito mais e não tinha uma árvore sequer. Há ruínas celtas na ilha e de um mosteiro que lhe deu o nome por causa de um frade que o dirigiu de nome Flannan. A ilha tinha fama de estranha e assustadora. Era este o cenário no dia 7 de dezembro de 1900 e os fatos que ocorreram a seguir se ordenam na seguinte forma:



O acesso ao farol - A ilha era escarpada, pedras de linhas afiadas. Havia uma corda para facilitar o acesso no melhor ponto de embarque. Tentar desembarcar sozinho era impossível, porque não haveria ninguém para cuidar da embarcação. Depois de desembarcar subia-se por lances de escadas rudimentares construídas sobre os rochedos. A paisagem era tétrica à noite mesmo com o farol aceso principalmente quando havia neblina. As inspeções rotineiras de Robert Muhirhead obrigavam-no a fazer viagens extras durante os períodos de 14 dias, mas com a aproximação da data tradicional do Natal ninguém esperava que fizesse uma viagem de inspeção. E como não se podia observar o farol por causa da neblina ficou fora de cogitação avisar as autoridades para se deslocarem à ilha para averiguações. Se houvesse problemas, porém com visibilidade, as observações com luneta os detectariam. Na ilha havia instruções para hastear uma bandeira de aviso nesses casos.

Dia 7 de dezembro de 1900 – Chega à ilha James Ducat um dos recrutados nas vilas da região da costa noroeste da Escócia para mais um período de 14 dias como responsável pela operação e manutenção das instalações da ilha e do Farol. O Inverno estava começando e logo seria dia de Natal. Chegou com vontade de voltar. Com ele chegaram também Thomas Marshall seu segundo assistente e Donald Macarthur como primeiro assistente em substituição de William Ross que adoecera e ficara em terra. Robert Muhirhead como Superintendente do farol acompanhou-os também, mas voltaria com a embarcação. 

William passaria o Natal em casa com toda certeza. Todas as embarcações com motor de popa deveriam carregar a bordo um motor sobressalente. O da embarcação que levou a tripulação à ilha de Eilean foi deixado nas instalações do rústico porto de Gallan Head na costa Oeste, que dava apoio ao pessoal do farol. Motores de popa em 1900? Há que esclarecer que os primeiros motores de popa movidos a gasolina – Os “American”, produzidos pela American Motor Co. de Long Island - foram colocados à venda em 1896, e a partir daí, de vários fabricantes como o 1898 Savage, criado por Edward Savage,  o 1898 de quatro cilindros de popa de Harry Miller, 1900 imperial, criado pelos irmãos Fred e Robert Valentine, o 1906 Waterman Porto. 

O American podia ser carregado facilmente num braço só. Donald Macarthur que fora chamado às pressas para substituir William Ross que adoecera, comentou para o chefe James Ducat que não estava muito disposto a jogar cartas a dinheiro. Suas finanças andavam mal por motivos que todos conheciam e seu humor não era dos melhores. Todos entendiam isso principalmente em data como essa: Passariam o Natal fora de casa. Ainda surdos pelo barulho do motor a dois tempos que os levara até a ilha, começaram a escrever numa lousa [2] na parede os dados que depois de acordados entre todos, transporiam para o relatório diário. Ainda estavam meio grogues pela viagem e pelos primeiros vapores de gasolina que aspiravam. Após verificar as instalações, Robert Muhirhead teve uma breve discussão com James Ducat sobre limpeza e procedimentos, mas se despediu cordialmente de todos e voltou para Gallan Head. Todos o reconheciam como um homem rígido em suas inspeções de rotina. Foi a ultima pessoa a vê-los vivos.


Dia 12 de dezembro de 1900 – Desde o dia 08 de dezembro que uma espessa neblina impedia a visão do Farol desde Gallan Head. No dia 12 o tempo amainou e foi possível ver o farol em funcionamento. A partir desse dia, não se voltou a poder ver o farol. O tempo impedia, a neblina não se desfazia.

Dia 15 de dezembro de 1900 – Desde o dia 7 que havia neblina na região das ilhas e de terra não podia ser visto, exceto por breves momentos no dia 12. No dia 15 o navio Archtor comandado pelo capitão Holman a caminho do Porto de Leith na Escócia, passou em frente ao farol e constatou que estava apagado. Comunicou imediatamente á Cosmopolitan Line Steamers, a empresa armadora, mas esta não conseguiu se comunicar com o pessoal de terra de Gallan Head por causa de tempestades que impediram as comunicações. Outras embarcações passaram pelo local nos dias seguintes e constataram que o farol continuava apagado. Normalmente costumava piscar duas vezes a cada 30 segundos, mas até dia 29 o tempo não se alterou e a neblina continuaria espessa, indevassável.

Dia 21 de dezembro de 1900 – Um navio de resgate, provavelmente o Hesperus, tentou chegar à ilha Eilean, mas o mau tempo impediu o desembarque. O farol estava desligado.




Dia 26 de dezembro de 1900 - O navio a vapor de manutenção de faróis Hesperus fez uma viagem de rotina à ilha de Eilean no dia 26 de dezembro vinda da povoação de Brascelet. Talvez não fosse apenas de rotina. Poderia ter sido pelo comunicado do Archtor que no dia 15 noticiara que o farol estava apagado. O capitão Harvey mandou disparar um foguete de aviso e soar a sirene sem resposta. Então pela tarde mandou um oficial, Joseph Moore, à ilha para averiguar a situação. Segundo Moore não havia sinais de vida na ilha. Seguindo ordens de Harvey, Moore voltou à ilha com mais alguns homens: Mr. McDonald e dois marinheiros sob suas ordens, Lamont e Campbell todos voluntários para ficarem na ilha enquanto fosse necessário e garantir o funcionamento do farol. O Comandante Harvey não desembarcou. Não foi testemunha das condições em que se encontrava a ilha, as instalações e o farol. A primeira pessoa a ver o estado das instalações foi Joseph Moore, o chefe da equipe voluntária. Ele tinha um jogo de chaves sobressalente do farol e das instalações da ilha.


28 de dezembro de 1900 – Alertados pelas comunicações do comandante Harvey, a Superintendência de Faróis manda Robert Muirhead, o superintendente de volta á ilha onde tinha deixado a tripulação no dia 7 de dezembro para investigar.  No relatório Robert Muirhead conta que a porta estava fechada pelo lado de fora, o que era estranho. Lá dentro a mesa estava posta, tudo arrumado. No livro diário havia anotações até o dia 13 de dezembro. No quadro de ardósia havia anotações do dia 14 e 15 que deveriam ser lançadas após decisão do grupo de que estavam corretas. As anotações do dia 14 davam conta de uma forte tempestade que havia terminado na manhã do dia 15. Constavam ainda anotações de leitura de termômetro, barômetro e indicação dos ventos. A lâmpada do farol estava pronta para ser acesa, as camas vazias e bem arrumadas. Não havia fogo nas lareiras. Sobre a mesa uma refeição preparada e intacta. A ultima anotação a giz no quadro fazia referência à velocidade dos ventos às 9:00 da manhã do dia 15 antes da passagem do Harchtor ao largo da ilha por volta da meia noite. Robert Muhirhead concluiu que a tripulação tivesse saído das instalações do farol por qualquer motivo ou mais provavelmente para verificar eventuais danos e tivesse sido apanhada por uma tempestade, jogada ao mar. O que quer que tenha acontecido teria sido entre as 09 da manhã do dia 15 e a meia noite desse dia quando o navio Archtor passou e viu o farol desligado. As autoridades aceitaram esta versão e as famílias das vítimas choraram e enterraram seus mortos.    


O relatório - O teor do relatório oficial é o seguinte:

"... As lâmpadas estão limpas e o equipamento em perfeito estado de funcionamento. Há combustível para funcionamento do farol e parece estar preparado para utilização. Na sala de operações encontramos uma cadeira caída perto da mesa. Havia um baralho espalhado pelo chão e uma garrafa quebrada.
No alojamento abrimos os armários onde encontramos roupas pertencentes aos guardiões. Duas capas de chuva e um par de galochas estão faltando.
O telhado da casa parece ter sido atingido com força pela tempestade e apresenta goteiras em vários pontos. Móveis foram movidos fora da posição original, segundo Moore que esteve aqui na véspera do dia 13 de dezembro. A pistola de sinalização não foi encontrada, nem os apitos de sinal.
A casa de barcos foi seriamente avariada pela tempestade. O bote foi danificado, bóias estavam espalhadas para todo lado e o equipamento que era mantido ali foi revirado. Não há nenhum sinal dos empregados do farol. Apesar da bagunça, não há nenhum indício de luta ou desentendimento".  

O inquérito concluiu o seguinte: 

“... todos as tarefas rotineiras foram realizadas. As grandes lâmpadas na torre de vigília estavam limpas e abastecidas para a próxima noite. O mecanismo estava em perfeito estado e havia sido limpo após a luz ter sido apagada pela última vez, o que demonstra que o trabalho estava sendo conduzido perfeitamente. Isso leva a crer que o que quer que tenha acontecido, teve lugar durante a manhã ou até a meia noite.
Dois vigias ouvidos durante o inquérito concluíram a seguinte sucessão de acontecimentos: provavelmente McArthur havia sido o último a ficar na casa, pois estava em seu turno de guarda à tarde. Ducat e Marshall teriam saído para verificar o equipamento na Casa de Barcos avariado pela tempestade na noite anterior. De seu posto de observação McArthur teria visto uma série de ondas se formando e correu para avisar seus colegas do perigo. Quando eles não ouviram seu alerta, ele resolveu ir até o lado de fora e avisá-los. Infelizmente ele não calculou bem o tempo que teria para chegar até eles e retornar antes da chegada das ondas. Os três acabaram alcançados e carregados para o mar onde provavelmente se afogaram.”

Março de 1901- Uma visita técnica a uma residência em Hindead no Surrey.




William Murdock era secretário do escritório da Northern Lighthouse Board. Era sua a responsabilidade de um relatório convincente que suportasse a eficiência e a credibilidade de sua companhia responsável pelo funcionamento do farol das Flannan. Já tinha os relatórios de seu pessoal, a polícia não se opunha às conclusões, mas queria ter certeza de não haver nenhum ponto que pudesse ser contestado no futuro. Alem do mais o que o movia era a curiosidade de saber o que realmente poderia ter acontecido. De fato.
O melhor consultor que poderia ter chamava-se Conan Doyle e morava com sua esposa numa casa que mandara construir em Hindead a escassos 80 km de Londres. Uma casa vitoriana desenhada por ele mesmo onde vivia desde 1897. Foi recebido pelo casal. O tema da visita já tinha sido discutido previamente quando marcou a visita. Conan mostrou-se muito interessado. Mandou servir um chá importado do Ceilão. A conversa seguiu num tom interessante e sem emoções.

- Sabe, Mr. Murdock – disse Conan – Há coisas que não vale a pena mexer, porque podem incomodar investidores, futuros clientes, acabar com uma empresa. Tal como noticiado nos jornais a história parece verossímil. Até eu acreditei, acredite!
Conan denotava um certo semblante de ceticismo, como uma sombra que lhe toldava o olhar.
- Mas acredita que pode haver outras hipóteses... Não, sir Conan Doyle?
- Sim! Tenho acompanhado o assunto, mas não creio que gostasse de ouvir o que tenho para dizer. Há várias hipóteses, sendo uma a oficial, de ondas gigantes que jogaram a tripulação ao mar, e todas as outras de crime a sangue frio.
- E quais seriam? Perguntou Murdock.
- Gallan Head tem o quê? 40, 60, 100 pessoas vivendo lá? O que fazem no inverno senão ficar em casa todo o tempo possível? Mas uma mulher diz ter visto enormes ondas como se fossem uma enorme parede vindo do oceano. Porém, como a costa é muito alta por lá, ninguém deve ter escutado o barulho por estarem dormindo. Isso foi na noite do dia 14 de dezembro de 1900. As anotações para relatório no quadro de ardósia da ilha Eilean contam dessa tempestade que só teria acabado na manhã do dia 15, quando todos os homens desapareceram. Faz sentido para todos, e isso não é motivo de preocupação para sua empresa... Porém...  


A primeira hipótese de crime.

Conan Doyle com seus 42 anos, foi deixando o assunto fluir como se estivesse no local do crime.
... Porém imagine você – continuou sir Conan Doyle – que esses homens certamente se conheciam de terra. Jogavam e bebiam juntos. Poderiam ter dívidas de jogo, algumas impagáveis. Por isso imaginemos pares de devedores que querem eliminar credores ou credores que sabendo ser impossível cobrar a dívida, resolvem eliminar os devedores... Porém, para chegarem à ilha, caso estivessem em terra, teriam que ser dois por causa do difícil acesso.
Robert Muhirhead e o rapaz que estaria doente, mas não tanto, o William Ross – adiantou-se Murdock.
= Exatamente meu caro Murdock. Mas se não William, o rapaz que nada avisou sobre a falha do farol porque não estaria em Gallan Head, o senhor Roderick MacKenzie.
- Mas como teriam chegado à ilha?
- Usando esses novos motores de popa que pouca gente conhece. A companhia tinha um desses sobressalentes em Gallan Head. E continuou:
- Uma vez desembarcados pela manhã do dia 15 quando a tempestade estava amainada, desembarcaram e apanharam a tripulação desprevenida. Atiraram neles, jogaram ao mar, e por questão de princípios, Robert Muhirhead zeloso de coisas arrumadas, deu um jeito na casa deixando tudo nos devidos lugares. Tanto quanto puderam. 
- Mas... E se apenas Robert Muhirhead estivesse interessado em eliminar alguém do grupo ou todos eles para não ser denunciado sobre jogo e bebida?
- Então, meu caro Murdock, vem a segunda hipótese...

A segunda hipótese de crime

... Robert Muhirhead tinha um comparsa que o aguardava na ilha e o teria ajudado a desembarcar – Continuou sir Conan em sua explanação.
- Sim... Qualquer um dos três primeiros que desembarcaram na ilha. James Ducat, Thomas Marshall ou Donald Macarthur - atalhou Murdock.
Conan Doyle serviu-se ele mesmo de uma xícara de chá e indicou o bule com um gesto largo para Murdock convidando-o a tomar também mais uma. E continuou:
- Como tudo estava arrumado, parece ser que a luta, a ter existido, foi muito rápida e de surpresa. A porta trancada pelo lado de fora pode indicar que Robert Muirhead tenha desembarcado avisando aos outros que os vinha buscar, retirar dali. Apanhados desprevenidos teriam sido mortos facilmente. Ou...
- Ainda mais uma hipótese, sir Conan? Apressou-se Murdock em perguntar.
- Sim, meu caro. Há mais uma hipótese...

A terceira hipótese de crime.

... Lembre-se, caro Murdock, que o capitão Harvey do  Hesperus, de sua companhia, não desembarcou na ilha no dia 26 de dezembro. Foi Joseph Moore quem o fez com dois marinheiros a ele subordinados e arregimentados no continente ou na ilha de Lewis a meio caminho do continente. Ele tinha uma cópia das chaves do farol e das instalações, o que não deixa de ser estranho, e estava previsto que desembarcasse na ilha no dia 21. O mau tempo não permitiu. Ninguém se preocupou em saber onde estava entre 7 e 15 de dezembro de 1900. Ele poderia ter usado um motor de popa, tal como Muhirhead também poderia. Mudando os autores, o cenário poderia ter sido o mesmo das duas hipóteses anteriores. Dívidas de jogo com uísque e isolamento numa ilha ou numa pequena povoação costeira são ingredientes mais que suficientes para explicar um crime desses. Sem evidentemente descartarmos a hipótese de um envolvimento amoroso com alguma mulher da vila. Ah!... Só mais um móbil para o crime: O pessoal achava que Muhirhead era muito exigente e ele tinha discutido com James Ducat. Por só temos o testemunho de Muhirhead sobre a discussão é possível que as ofensas se tenham estendido até um nível insuportável. Ele teria voltado para pôr fim a ameaças.
- Brilhante sir Conan Doyle... Brilhante!
- Mas não é tudo...
- Não? Perguntou Murdock com certa admiração no olhar perscrutador.
- Há mais uma hipótese de crime, e esta poria em risco a sua empresa...
O rosto de Murdock ficou ligeiramente pálido.


A quarta hipótese de crime.  

Sir Conan Doyle continuou.
... Bismark foi deposto pelo Kaiser Guilherme II há poucos anos, mais precisamente em março de 1890. Onze anos apenas. Para mim, essa deposição foi um erro. Bismark tinha institucionalizado a previdência social para impedir o crescimento do socialismo mais extremo, o comunismo e nós, ingleses somos parte da “Triple Entente” juntamente com a França e a Rússia para nos opormos às tendências bélicas alemãs e à sua nova forma de governo, a social democracia com fortes bases nacionalistas. O crescimento de sindicatos no Reino Unido seria uma catástrofe no momento. Conan fez uma pausa, apanhou um charuto de uma fina caixa de madeira, ofereceu um a Murdock e acendeu um charuto. Depois de dar uma baforada espalhando fumaça e um cheiro agradável pela sala, continuou:
- A ilha de Eilean é praticamente nosso ultimo posto avançado sobre o atlântico, rota de navios que transitam entre a América, o Reino Unido e o mar do norte a caminho da Alemanha. Já viu onde quero chegar?
Murdock estava inquieto, ajeitou-se na cadeira vitoriana. Tentou demonstrar calma. Conseguia controlar razoavelmente seus temores, seus sentimentos. Disse: - Siga, sir Conan... Continue. Conheço-o suficientemente bem para saber que é digno de todo o crédito...
- Grato, caro senhor Murdock. Mas continuemos o raciocínio. James Ducat não gostava dos métodos de Muirhead. Haviam discutido por aparentemente dois motivos: Não agüentava mais as estadias prolongadas na ilha nem o que considerava serem exageros de Muirhead suas cobranças sobre a perfeição no comportamento profissional no trabalho. James Ducat era um sindicalista e isso para a sua empresa era insuportável. O momento certo para eliminá-lo foi exatamente quando fez parte da primeira turma que assumiu o controle do farol. Ele receberia instruções para desenvolvimento e implantação de políticas no Reino Unido via comunicação de barcos alemães que passavam nas imediações. Muhirhead ou Joseph Moore teriam praticado o crime tal como nas demais hipóteses. Apenas mudaria o móbil do crime.
Murdock mexeu-se mais uma vez na cadeira ficando ligeiramente alterado. Sir Conan Doyle acalmou-o.
- Mas fique tranqüilo, caro Murdock! Não vou questionar se isso é verdade nem que teria mandado abater James Ducat. São meras hipóteses que apenas eu devo ter levantado e mesmo assim em completo sigilo entre eu e você. Não irá para os jornais.




A entrevista estava terminada. Não havia mais nada a dizer. Há 115 anos que se procura saber o que aconteceu naquele dia 15 de dezembro de 1900. Um grande mistério por vezes com uma explicação muito simples: Ondas gigantes que teriam jogado ao mar 3 homens. Mas como explicar a porta fechada pelo lado de fora, uma barreira de móveis no meio da sala como se alguém se prevenisse de um ataque, o relógio parado, e o fato de a lareira da cozinha estar acesa e as dos quartos e sala mostrarem que não eram usadas há dias - quando Moore desembarcou na ilha - fatos omitidos no relatório final? Se houve crime, quem o perpetrou teve tempo suficiente para alterar a cena. Uma tempestade não teria feito isso.

® Rui Rodrigues  








[1] Ou cerca de 24 milhas náuticas.
[2] Quadro negro feito de ardósia.