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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Marcilius Marcianus, o romano.



Marcilius Marcianus, o romano.


São muitas as ilusões deste mundo. Todos nós sabemos disto, do mais ao menos ser inteligente. E convenhamos que para nós mesmos admitimos que muito do que vemos e fazemos é pura ilusão. Porque nos iludimos? Simplesmente para ocuparmos o nosso tempo, ou termos uma “meta na vida”, uma ocupação mental, um esperança, e conseqüentemente, para ocuparmos o nosso tempo dando sentido ao “viver”. O trabalhador que chega em casa cansado física ou mentalmente, não tem muito tempo para filosofar. Só aos sábados e domingos, desde que não tenha problemas sérios para a semana seguinte, como, por exemplo, pagar faturas e contas de serviços públicos com dinheiro curto ou resolver problemas do trabalho para a semana seguinte.

Essas ilusões consomem nosso tempo, despertam as nossas atenções, esvaem o nosso dinheiro, mas há sempre um envolvimento muito grande nessas ilusões: Uns buscam a fama, enquanto outros, concomitantemente, ganham dinheiro e outros o gastam chamando a essas ilusões de diversão. A fama, o prazer de ser o campeão, o melhor, não é atingido por todos, e por vezes se passa uma vida inteira tentando. O tempo passa, essa a distração, a meta. Outros aproveitam os gostos populares, sabendo que existe quem deseje a fama para sustentar o espetáculo, e investem dinheiro nas diversões, isto é, nas ilusões. Ficam ricos. O povo vive sempre oprimido, sempre viveu e provavelmente viverá com contas a pagar, dificuldades, leis, impostos, como se os governos existissem para “ganhar dinheiro” às custas do povo, um monstro, um dragão que precisa ser alimentado para que não nos destroce. Em troca, dão ao povo o mínimo de condições para que continue na ilusão de que “vale a pena” trabalhar, contribuir, porque em troca têm água potável, transportes públicos, eletricidade, serviços de saúde de emergência e meia dúzia de escolas públicas.

O circo romano é um exemplo, talvez o melhor, da simbiose e do diálogo entre empresários, governo, povo e famosos. Diálogo, sim, porque como explicar os circos romanos? Era o povo que os queria e por isso os empresários os construíram, ou foi o governo que os construiu com financiamentos dos empresários para o povo se distrair e gastar seu dinheiro, usando como protagonistas, que catalisavam as emoções, os que desejavam a fama?  Se olharmos para algo mais recente como o governo de Hitler, o povo alemão, os soldados, os empresários das grandes indústrias alemães durante a segunda guerra mundial, ficaremos na eterna dúvida: Será que o povo alemão gostava da guerra, do holocausto, ou apoiava para “apoiar” o governo, por adesão ou medo?  
A guerra é um circo neste contexto, e nos circos romanos havia guerras. Mas os circos romanos evoluíram muito, embora não no essencial, de forma que no mundo moderno os circos se deterioraram de sua forma e ação iniciais, mas mantiveram a intenção intacta: Distrair a atenção popular aproveitando-se para distraí-la dos aspectos fundamentais da política ditatorial.  Enquanto houvesse pão e circo – “pane et circencis” – o povo estaria tranqüilo, satisfeito com todos os demais atos de governo. Os empresários adoravam isso, e adoram, não porque participem diretamente dos lucros do circo, mas porque isso lhes permitia explorar os preços, construir com dinheiros públicos, ganhar os favores do senado e dos imperadores. Todos eram muito populares: Os empresários, os senadores, os imperadores e os “heróis” protagonistas dos espetáculos de circo. Havia circos em todos os territórios sob jurisdição romana, como não poderia deixar de ser. O império divertia-se e comia. O resto era o governo que providenciava através de ordens do senado. Com ou sem o conhecimento prévio do povo, não importava. Hoje as decisões do senado são transmitidas pelas televisões e pela net, e continuam decidindo sem perguntar nada ao povo. Nisto, o hábito, o costume, a prevaricação, continua. Não mudou absolutamente nada.

Mas o que era o Circo Romano?

Eram enormes edifícios - o de Roma comportava 50.000 lugares - destinados á “diversão”, assim se entendendo lutas mortais entre gladiadores de diversas regiões do planeta, assar em fogueiras os condenados pelos juizes, atirar cristãos aos leões para serem dilacerados, batalhas navais entre trirremes numa enorme piscina interna que faziam encher de água. Quando um gladiador perdia a batalha, o vencedor não tinha direito a matá-lo. Era necessária uma interação entre governo e povo, e para isso, perguntava-se se o perdedor deveria ser poupado ou sacrificado. Algumas vezes, para deixar patente o seu poder, mesmo o povo pedindo que o gladiador fosse poupado, o imperador o mandava matar. O vencedor então o executava do modo mais rápido. O sucessor do terrível circo romano foram os encantadores circos dos dias de hoje e que estão em extinção, e as deprimentes e já arcaicas corridas de touros, com morte, em países de origem espanhola que deveriam extingui-se. Há centenas de anos que em Portugal os toureiros estão proibidos de matar o touro. Portugueses e espanhóis são iberos, mas há sensíveis diferenças, umas para bem, outras para mal.
Havia também corridas de bigas, carroças de guerra puxadas por dois cavalos, embora para o efeito houvesse estádios específicos para estas corridas. Faziam-se apostas regulares, muita gente perdeu dinheiro como se pode imaginar. Estas corridas deram origem ao “turfe”, ou corridas de cavalos dos dias de hoje, com público cada vez menor.

Na entrada destas instalações, distribuía-se o pão grátis. Pão, do bom, tanto quanto se quisesse. Ninguém passava fome.

Hoje os governos continuam populares de certa forma, mas já temos dinheiro – alguns, para assistirmos a jogos de futebol, jogados em “arenas”, talvez porque os jogadores são caçados durante os espetáculos, quebram cabeças, sangram por cotoveladas, os árbitros marcam goles e pênaltis que não existiram, interagindo com a multidão, que na saída ou na entrada dos estádios, costumam matarem-se uns aos outros em verdadeiras batalhas de torcidas. E há os shows grátis, constantes, pagos por governos locais ou centrais, para distrair. Parece que “Shows e futebol” seja o termo mais adequado para traduzir para o presente o antigo “pão e circo” do tempo dos romanos, porque já não distribuem pão por ser muito caro. Mas agora temos mais uma entidade satisfeita e feliz com este estado de coisas: a FIFA, como empresária e que mantém as regras, agora leis, que permitem a polêmica, a dúvida, a injustiça, como “molho e condimento” do circo, isto é, das novas “arenas”. Arena, que deriva do romano, era exatamente o nome dado ao recinto coberto de areia para absorver o sangue dos gladiadores feridos, nos circos romanos. O nome “arena” para os novos estádios, é adequadíssimo. Uma volta ao passado.   

Ah!... Ia esquecendo. Quem foi Marcilius Marcianus, o tal e esquecido romano!


Não sei. Simplesmente não sei. Procurei por toda a Net, e nada de Marcilius Marcianus. A única coisa que podemos afirmar é que foi um auriga, isto é, o condutor de bigas, que ficou famoso por suas vitórias no circo romano de Mérida. Teve seus momentos de glória assim como alguns jogadores de futebol e artistas de shows do presente. Deve ter sido muito disputado para vestir as cores de empresários famosos. Hoje os governos, para serem populares, modificam as leis tentando modificar os costumes. Assim, presos, mesmo por assassinato têm salários maiores do que professores, senadores e deputados condenados pela justiça, mas ainda em liberdade são reempossados em seus cargos por um senado independente e soberano sob o qual pesa a condenação de alguns membros terem sido comprados por verbas mensais para dizerem sim e não, conforme os interesses, em votações do senado e das câmaras de deputados.

A fama de Marcilius Marcianus que ficou no esquecimento como se o tempo lavasse a memória, ficou gravada numa placa comemorativa no circo romano de Mérida, parte integrante da Lusitânia romana, que nos tempos modernos poderíamos traduzir por “Brasília romana”! Marcilius Marcianus é como os santos antigos... São santos mas já não fazem milagres porque ninguém lembra deles. 

Afinal, o que mudou?

Rui Rodrigues

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