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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Venha viajar de balão. É grátis.

Venha viajar de balão. É grátis.



Quem nunca passou por uma universidade não tem a mente suficientemente preparada para ter uma abrangência ampla e global do mundo, compreender as “leis” que o regem. Destes, que passaram pela universidade, uns usam o conhecimento adquirido de forma extremada em seu favor, não se importando se suas ações ajudam a melhorá-lo ou a afundá-lo ainda mais. Não têm o conceito da perenidade das civilizações, de seus enredos. Outros olham o mundo de forma oposta e, desde organizações de beneficência até instituições religiosas vão sofrendo a dor de se opor àqueles. Outros ainda, desanimados, com diploma válido, catam alimentos em latas de lixo para permanecerem vivos por mais alguns inconstantes dias, esperando a morte verdadeira chegar, porque a social já faleceu há muito tempo.

Dos que não freqüentaram as universidades, tendo ou não um diploma comprado, ajudado, compartido, muitos entendem perfeitamente o mundo que os cerca, mas se podem encaixar perfeitamente nas classificações do primeiro parágrafo, daqueles que freqüentaram e universidades e ganharam com mérito seu válido diploma. A diferença entre uns e outros é o conhecimento. O conhecimento geral e o de causa própria.

Mas para entender o mundo de forma global e ampla, é preciso subir num balão, tão alto, que se veja a Terra girar e todos os países do mundo nos passem pelos olhos, pelos ouvidos, pelo entendimento. Vamos lá? A viagem é completamente grátis.


  1. A partida

Na partida está a família e os amigos e ou uns ou outros. Entre frases de despedida para a viagem, ouvem-se as mais dispares que chegam a parecer não fazer muito sentido, como por exemplo, para se tirar fotos lá de cima, para se ter cuidado, para nos agasalharmos. Uma tia ou uma amiga nos diz que podemos ficar descansados porque cuidarão do cachorro, que aquela conta do Banco será paga e que depois lhe reembolsaremos. Que o chefe do escritório mandou lembranças. Que a mídia nos pagará uns trocados pelas fotos. Que o aeroporto mais próximo já está avisado que o balão irá partir em seguida. É um mundo pequeno, limitado, tão ínfimo que se não fosse pela mídia, ninguém saberia da partida do balão nem quem ia a bordo. Nesse mundo pequeno, notícia só é divulgada, e de primeira página, se a bordo estivessem o presidente da república, ou a presidenta do Republico, se falássemos de “governo”. E ao dizer isto, todos em volta, assistindo à partida ririam muito, com o melhor bom humor, das cretinices alheias.

  1. Subindo em baixo nível.

Subindo a baixo nível ou em baixo nível, podemos ver casas, cidades, campos, lavouras, reservas índias, fábricas, estradas, barragens, postos de saúde, estabelecimentos de ensino, e se estivermos perto, a cidade de Brasília e o Congresso, mas não os corredores do Congresso, porque são escuros, cobertos, tapados, e lá existe uma fauna muito especial sem qualquer representante do povo. Chamam a essa fauna de lobistas, mas o nome verdadeiro deveria ser o de conspiradores, “maracutaios”, “conluistas”. E sempre subindo... Lá está... Vê-se agora perfeitamente o Brasil inteiro sob nossos olhos, do Oiapoque ao arroio do Chui. Que lindo. Sem nenhuma nuvem vê-se tudo.

Vê-se uma seca imensa no Nordeste que desde os tempos da Sudene nunca foi resolvida e canais e obras do ultimo governo paradas, mal executadas, como prenuncio de que só serão concluídas algum dia, quando derem o calote nas empresas construtoras que serão indenizadas sobre preços de custo já por si astronômicos, por atrasos no pagamento, projetos mal rascunhados, garatujas de criança. As estradas esburacadas, de terra, apesar dos bilhões de moedas pagas para a sua construção e manutenção. Escolas com merenda roubada, estragada, sem merenda, prédios ao abandono de cuidados, e como os professores mesmo assim estão dando suas aulas, não podem ser vistos do alto por causa dos telhados. Vêem-se fábricas fechadas por causa da alta do dólar que dificultou a venda no exterior de seus produtos que assim ficaram mais caros. Vêem-se cidadãos desabrigados pelas cheias e pelas derrocadas de morros, por bueiros de água que arrebentam, pro falta de emprego. Vêm-se idosos nas ruas pedindo que não lhes baixem seus miseráveis pagamentos de aposentadoria, bandidos roubando á vontade, matando, invadindo a propriedade, e assentamentos que no inicio eram povoados pelos sem terra, e que agora estão na mão de meia dúzia deles, que os outros, os que saíram dos assentamentos, estão em movimentos para ocupar novas propriedades das quais venderão depois as suas partes. Vêem-se reservas índias invadidas, nenhum índio no senado, cemitérios de ambulâncias “zero quilômetros” sem uso apodrecendo ao tempo, equipamentos hospitalares que nem sequer foram desempacotados. Podem ver-se grupos imensos de pessoas drogadas, consumidas pelo crack, gente morrendo em filas de hospitais, médicos que recebem o salário, batem o ponto e vão embora.

Do balão, a esta altitude, vê-se o que se quer ver, lê-se o que se quer ler. Muitas visões e leituras incomodam.

  1. A alta altitude.

Começam a aparecer os contornos de África, e ao norte, revolução no Egito porque um presidente se quis fazer rei e legislar em prol de um grupo, quando são muitos os grupos no Egito. Vemos pobreza em África, como se África fosse uma enorme teta seca de mãe faminta que não tem leite para dar a seus filhos. Outros lhe chuparam o leite. E quando todo o resto parece em paz, passamos por cima da Síria onde ainda há um rei absolutista que governa como rei tirano. Mais de cem mil mortos na Síria, e o mundo num impasse. Quem se importa com o povo sírio?
Subindo chegamos à Europa. Na Grécia há cerca de sessenta por cento da população desempregada. O Sul da Europa passa fome. Seus governantes agem como reis absolutistas, que legislam em causa própria e comprometem a economia, a saúde, os serviços públicos. Alguns se auto-exilaram e vivem em capitais gastando por conta de um povo que exploraram. E dizem todos que vivem numa social democracia, protegidos por União Européia que viaja agora a quatro, cinco, dez, vinte e sete velocidades, sendo que algumas não passam do zero. Estão paradas, seu povo emigrando para o desconhecido, com esperanças de sobreviver. Até na China e nos EUA, numa década apenas, cidades enormes, prósperas, ricas, se transformaram em cidades fantasmas, com industrias falidas, fechadas.

Lá do alto, vê-se o mundo inteiro e ficamos ansiosos para descer, buscar livros de história universal e pesquisar para sabermos onde erramos para vermos tanta desgraça. Talvez se os cidadãos pudessem dizer a seus governos, pelo voto, o que querem, pudessem ser ouvidos, como numa Democracia Participativa que Sócrates descobriu há milênios e agora é possível através de voto pelas redes sociais ou um site do governo para votação pública.

A paisagem vista do alto a olho nu e cérebro desligado, é soberba, divina, Mas, quando assestamos os binóculos e ligamos os neurônios do cérebro, vemos que é necessária uma grande obra para mudar o que nos incomoda.

© Rui Rodrigues,


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