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domingo, 4 de dezembro de 2016

Vida - O que nos move ?...

Da vila ao mundo.


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Corria o ano de 1949. Eu nascera em 1945, mas já corria também junto com o tempo pelas ruas de Fornelos, uma vila construída no talveg, a linha do cimo, de uma montanha entre dois vales, um com rio, outro com planícies mas sem rio. A aldeia parecia uma sentinela de casas paradas lá em cima, onde apenas a fumaça das chaminés na hora do almoço e do jantar parecia mover-se. Naquele ano a aldeia estava cheia de gente, falava-se em emigrar, havia crianças como eu pelas ruas, havia festas com bolos e doces nos largos onde haviam instalado mesas e cadeiras. Não entendia para que emigrar se a vida parecia tão boa para mim. Um dia nos mudamos para Lisboa e quando dei por mim novamente, estava no Rio de Janeiro. Habituado que fiquei, corri mundo. Mas teria sido por hábito. Porque passei a vida a trabalhar até  cansar, e porque me teria cansado?

Trabalhar, trabalhar, para quê? 

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Durante anos meu pai trabalhou todos os dias até tarde, virando noites. Para nos fazer sentir como era dura a vida, na noite de Natal esperava  dar meia noite, uma hora da manhã para fechar a loja, mesmo  sem fregueses desde as dez da noite, exceto um ou outro atrasado que não fazia a minima diferença no caixa já abarrotado até as algibeiras. A família inteira, a quem tinha ajudado, e que dependia dele por consideração, certo ano não o esperou para a ceia e em cada casa se fez sua festa de natal. Amava meu pai. E como! Mas um dia tivemos uma discussão e sai de casa um ano antes de me formar em engenharia. Fui trabalhar num Banco. Tive que dizer-lhe que na minha opinião deveria dedicar sua vida a cuidar dele mesmo, ir divertir-se, que não se preocupasse comigo. Foi isso que ele fez. Passou a visitar a terra Natal, Fornelos, de dois em dois anos. A discussão fez-nos muito bem! Segundo conta o irmão dele, meu tio Miguel, chegou a fretar ônibus para pagar almoços a amigos na terra. Ele lhes mostrava que saíra de lá por não poder "crescer", progredir, mas que agora tinha tanto ou mais dinheiro que eles, podia mais. A família estava definitivamente dividida em "casas", meu tio voltou para Portugal mas não para Fornelos. Foi para o Algarve. Pessoas que se conhecem convivem por necessidade, raramente apenas por amor. O que se desconhece parece sempre mais acolhedor. Parece! O que se conhece é sempre mais crítico, ou se critica mais. A crítica afasta!

Em 1975 os socialistas tomaram o poder... As aldeias estão ficando vazias, as propriedades passam para as mãos de estrangeiros, meu pai faleceu e não sabe nada disto. Morreu com outras tristezas na alma. O interior de Portugal também morre. De cerca de onze milhões, espera-se que haja apenas sete milhões e meio em 2050. Desta forma, as casas e as propriedades vão sobrar para todos. Meu pai vendeu necessidades e alegrias. Provavelmente ninguém se lembra porque por idade e outras fatalidades, já morreram. Os que não conviveram com ele não ganham nada em saber, e o que se conta nem podem entender, porque o pensamento é outro.        

A vida em 2016 
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Para quem nasceu recentemente, correrá como eu junto com o tempo que sempre trás novidades, e com as quais temos que conviver. Sempre arranjará um jeito de sobreviver e com um pouco mais de sorte, de viver. Para quem não vê muito longínquos horizontes, como eu, sente-se um pouco nostálgico... Quem passará, por exemplo, em frente ao conjunto de edifícios da Morada do Sol em Botafogo no Rio de Janeiro, na Aciaria e Lingotamento Continuo da Usiminas em Ipatinga; no edifício sede da Embratel em Porto Alegre; na mina de Cobre, mineroduto e porto de Los Pelambres no Chile; ou na mina de carvão de El Cerejón na Colômbia, e tantas outras obras, e perguntará se eu participei destes projetos como engenheiro, e qual foi a minha participação? Nem saberão que existi. E pensando bem, não teriam porque saber. Vivemos para nós mesmos e para a família e amigos enquanto existimos. Quem gravou seu passado em pedra nem sempre falou a verdade. A história do passado, mesmo a nossa, quase nunca tem a importância que lhe damos. O que não se pode, nem deve, é viver para "mostrar" aos outros alguma coisa num mundo em constante mutação, ou levados pela saudade de tempos que passaram. Viva sua vida, tente tornar-se independente antes de envelhecer. Reserve dinheiro para sua própria aposentadoria e mesmo assim nada é certo! E não esqueça: A terra, isso mesmo... A terra e o que se vê na paisagem nos ama. Fazemos parte. Mas nada nem ninguém nos ama mais do que a família e nós mesmos.

Rui Rodrigues

Hoje Portugal é uma nação "global", os habitantes escravos do trabalho proporcionado por capital estrangeiro. A politica é apenas uma encenação para o domínio das populações.
Veja nos links abaixo sobre a desertificação do interior de Portugal, e no fundo, sobre a descaracterização como nação particular.   https://www.youtube.com/watch?v=7ykTR1PsbzQ 
https://www.youtube.com/watch?v=Zu2LYP69_KE   

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