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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Linguagem dos gatos baseada na esperança e na certeza.


Linguagem dos gatos baseada na esperança e na certeza.



Minha gata de quatro patas não fala, mas me diz muitas coisas. Ela tem uma linguagem muda baseada na postura, na esperança e na certeza. Tem além de tudo uma paciência quase ilimitada.  Quando sua paciência está chegando ao fim, mia suavemente e nem é um miado como o conhecemos: Parece mais um gemido sem dor. Quando sua paciência beira o estresse, então mia e é bem claro que é uma reclamação. Não pára enquanto não for atendida em seus desejos. Só pára se eu lhe disser “Não!”, de forma a eliminar dúvidas.

Se quiser água e o fogão estiver aceso com algo cozinhando, ela pára perto de mim e mia suavemente. Eu a apanho, ponho-a em cima da pia, abro a torneira e ela bebe água da bica corrente. Depois pula sozinha para o chão. Mas se não há nada cozinhando, ela pula no fogão e do fogão para a pia. Não diz nada. Ela espera que eu abra a torneira. Sabe que infalivelmente a notarei e ajudarei.

Se quiser sair da casa para fazer suas necessidades ou apanhar sol, pára sentada em frente à porta da rua ou da área da churrasqueira que dá acesso ao jardim. Ali fica, quieta, até que lhe abra a porta. Se tiver pressa mia suavemente, se estiver quase estressada, dá-me uma bronca miando mais forte como gente grande até que eu cumpra a minha parte do acordo de cooperação mútua entre eu e ela. Ou deverei dizer entre ela e eu? Acho que escrevemos juntos os termos desse acordo mútuo e, sobretudo, tácito.

Se eu for cozinhar, fica ali, quase encostada a mim, a uns três passos, sentada, virada na direção da sala. Ela me cuida! Sabe que minhas costas estão viradas para o mundo, não posso ver o que está atrás de mim. Ela vê, cuida e “rosna”... Isso mesmo... Rosna se houver intrusos perto da porta da rua, lá fora do portão. E quando deixo cair algo no chão, fica cheirando, ali, onde caiu, até que eu apanhe. Se eu deixar algo no fogo, ela não sai de lá, mesmo quando começa a cheirar a queimado. Sabe que estarei olhando para ela e que vou acabar descobrindo a mancada que dei, salvando o “lar” que, ao que parece, tanto é meu quanto dela. Não posso “esquecê-la” quando a deixo muito tempo lá fora, porque começa a miar em desespero querendo entrar, e quando abro a porta levo uma tremenda bronca que se estende, enquanto caminha, até ao prato de ração. É um miado “estranho” que tem o som de conversa de admoestação. Chama-me para comer quando tem fome. Mia de longe e quando me levanto para comer, ela se dirige até o prato de ração. Já sei... Meto a mão no saco [1], tiro um punhado e dou-lhe, passando-lhe a mão pela cabeça e pelas costas.  Ela gosta!

Também gosta de assobios... Não assobios de ordem como os que se usam para cachorros. Gosta de música assobiada. Esteja onde estiver, corre para mim sussurrando e ronronando e encosta-se a mim. Se eu estiver deitado, deita-se a meu lado, bem encostada. E ali fica mesmo que eu pare de assobiar. Mas nem sempre está disposta a ficar parada, dormindo, sossegando, coisa que sempre faz a meu lado, perto de mim, ou nos meus braços enquanto teclo na NET ou escrevo minhas bobagens. De vez em quando mia, olha para mim, e sai correndo escadas acima para que eu tente apanhá-la. E ali ficamos brincando de pega-pega por uns bons minutos. Depois ou eu ou ela desistimos. Quando não brincamos de esconde-esconde, jogo-lhe uma bolinha das que quicam quer para a direita quer para a esquerda, e ela sai alucinada atrás dela. Muito raramente pega a bolinha na boca e ma traz para que volte a jogá-la. Não é cachorro mas aprende facilmente um gesto comum a toda a humanidade: Quem quer brincar participa da brincadeira, quem precisa trabalhar está sempre cansado. Banho só morno, numa boa.  Durante toda a vida dela, e já tem 13 anos de vida, só dois. Ela tom seus próprios banhos de língua. De vez em quando ela mesma me dá um banho de língua no braço ou nas costas de minha mão. Ela deve achar que estou precisando ou se trata apenas de uma linguagem de comunicação hierárquica felina, porque nunca lhe dei banho de língua.

Não posso ir para o banheiro sozinho. Fica na porta, do lado de fora, miando, até que lhe abra a porta. Se não lhe disser “Não”, ela entra dentro de minhas calças ou shorts arreados. Gosta de sentar ou deitar em cima de minha roupa. Deve ser o cheiro, ou uma forma de também se “vestir”, tal como faço. Ela que sabe o que lhe passa pela cabeça, porque algo lhe passa certamente. Não sei, francamente, se ela me adotou como pai, como irmão mais velho, ou se quer casar comigo. Só sei que me ama, o que é um sentimento mútuo.

® Rui Rodrigues


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