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quinta-feira, 6 de março de 2014

Não foi nada fácil, mas Jesus ressuscitou [i]...

Não foi nada fácil, mas Jesus ressuscitou [i]...



Parece que os Evangelhos atribuídos a Marcos, Mateus e Lucas foram escritos pelos mesmos “monges copistas” que se escondiam nas catacumbas de Roma, porque os três começam por: “Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao Sabbath...” e logo em seguida parecem “complementar-se” na informação de como aconteceu o ressuscitar de Jesus, o Cristo. João não começa assim, mas complementa a história e conta mais ou menos o mesmo. Depois, incrivelmente, Jesus não dá muita importância a quem aparecer primeiro, e só depois de aparecer a dois caminhantes da estrada de Emaús, se apresenta para dar um susto nos apóstolos.
João diz que na mesma tarde Jesus se apresentou aos apóstolos, mas Marcos, Mateus e Lucas afirmam que só mais tarde Jesus apareceu para os apóstolos, não nesse dia. Parece tudo muito confuso, e é mesmo, mas há explicações que só agora foram possíveis desvendar. E isso aconteceu na segunda ressuscitagem ou no segundo ressuscitamento[ii], quando Jesus passou lá pelo bar em 03 de março de 2014, durante o Carnaval no Rio de Janeiro... A história passou-se assim, segundo conta o Barman [iii].


Quando vi um camelo na Saara (contava o Barman) no Rio de Janeiro, pensei logo em propaganda dos comerciantes árabes ou judeus do centro da cidade, mas aquele árabe que saltou elegantemente e todo serelepe do camelo, era “diferente”. Para começar, usava uma estrela de David de lápis lazúli pendurada no peito, pendente de um cordão de couro trançado. Vestia uma túnica imaculadamente branca e usava uma kipá [iv] sobre os cabelos em tranças [v]. De sandálias de couro, o rosto de olhos azuis, era emoldurado por uma barba comprida. Amarrou o camelo num poste onde estava afixado o resultado do jogo do bicho da manhã, e entrou no bar. Dirigiu-se ao balcão e pediu em meio a olhares de admiração dos clientes:

- Um pedaço de pão e um copo de vinho.

Depois se dirigiu a uma mesa vazia a pedido do atendente do bar. Um cliente não se conteve, olhou para ele bem nos olhos e disse:
- Desculpe, mas você é muito parecido com Jesus!...
- Olhe em verdade em verdade vos digo não sei quem é esse tal de Jesus [vi], mas meu nome é Yeshua [vii], estou com uma fome danada e acabo de ressuscitar.
Primeiro fez-se um silêncio sepulcral no bar. Depois começou uma vozearia, os garçons começaram a serem chamados para servir bebidas, as cabeças voltavam-se para o tal de Jesus e para o camelo amarrado no poste lá fora na calçada.
O cliente que perguntara achou que Yeshua lhe tinha dado permissão para continuar a conversa e voltou a perguntar.
- Mas se é Yeshua onde estão as marcas dos cravos nas mãos, e os arranhões na cabeça da coroa de espinhos?
- Ah... Essas feridas já curaram logo na primeira vez que ressuscitei. Esta é a segunda. Eu disse para meu pai: Não adianta me mandar de novo para o planeta Terra porque vão me matar outra vez só para ver se sou deus ou não. Eles acham que se eu ressuscitar é porque sou deus, mas se eu continuar morto então sou uma fraude. Assim não há humanidade que eu possa convencer. Mas meu pai insistiu tanto que eu voltei.
Já não havia ninguém sentado nas mesas do bar. Todos os clientes estavam de copo na mão formando uma roda em volta da mesa de Yeshua que agora saboreava seu pão e seu vinho, um Cabernet Sauvignon chileno muito bom [viii].
- Mas agora ninguém mata ninguém por causa da religião. Só lá no Oriente Médio – disse o cliente – Aqui é a Saara, uma zona comercial do Rio de Janeiro, e estamos na América do Sul... Fica tranquilo, Yeshua.
- E vens me dizer – a mim – onde estou celerado? Respondeu Yeshua visivelmente contrariado, mas condescendente. Querias que me ressuscitassem onde? Na China, onde quase ninguém me conhece? Na Índia? No Oriente Médio, para que Israel e os árabes se matassem uns aos outros em meia dúzia de dias só porque eu voltei e aqui é o meu lugar? Eu sei onde estou.
Yeshua voltou-se então para a multidão que já se aglomerava na calçada tamponando a entrada do Bar, e disse:


- Sentai-vos!... Hoje não é dia de milagres porque ninguém aqui está casando, por isso não multiplicarei nem pão nem vinho nem peixes. Mas pago a conta e mostrarei como não um, mas uma cáfila [ix] inteira passa pelo buraco de uma agulha. E dito isto, retirou uma agulha grossa presa à sua imaculada roupa branca, e colocou-a na horizontal. Então chamou um por um para que vissem como uma cáfila que passava pela rua também passava pelo buraco da agulha, como na foto. E depois disse:
- Comei e bebei que este é o meu bar. Eu pago a conta. E como não deve haver tanto vinho nem tanto pão por aqui que dê para todos, uma mordida no pão e um gole para cada um que é para não faltar... Que assim se faça como quem come hóstia. Só engulam quando derreter na boca, que é para saciar a todos.

Uma senhora aproximou-se de Yeshua e disse em prantos:
- Senhor... Eu vejo!... Eu vejo!... (E ajoelhou-se aos pés de Yeshua, tentando beijá-los). Yeshua a afastou docemente dizendo-lhe.
- Não, mulher... Não... Meus pés estão sujos de tanta poeira desse Rio de Janeiro, de pisar tanto lixo... Peçam a César o que é vosso e não dai a César enquanto não vos devolver em serviços o que lhe dais. Mas vês o quê? Não vias antes?
- Não senhor... Não via. Tenho aqui até os documentos dos médicos cubanos que me examinaram. Eu estava irremediavelmente cega, mas ao ouvir-te passei a ver.
- Mulher, que tu és muito apressada nos milagres. Porque não esperas-te por mim, porque não me pediste o milagre para que eu te o fizesse?
- Senhor... Lá no meu bairro a gente já sabe que não precisa pedir. É só chegar ao templo, mostrar papéis e dar o testemunho, chorar bastante de alegria, que depois os homens do pastor acertam conosco fora das vistas alheias...
- Yeshua olhou a mulher e disse-lhe: Pois em verdade te digo, mulher de muita fé, que tens toda a fé nos vendilhões do templo, mas que quando realmente precisares rezarás a todos os deuses deste planeta e dos outros, e nenhum te ouvirá, porque se não morreres de uma coisa, morrerás de outra, que este é o destino de todos os mortais.   




A Rua da Alfândega e algumas outras das adjacências estavam sendo fechadas pela polícia, porque era tanta gente que o trânsito parara. Repórteres tentavam chegar ao Bar do Chopp Grátis. Helicópteros de reportagem pairavam com pás adejantes pelo céu. A cidade estava virada do avesso. As imagens do acontecimento estavam em todas as redes de emissoras de televisão do mundo inteiro. Só a Globo dera um leve “tararan-tararan” interrompendo a transmissão de uma novela por breves segundos, informando que no Jornal da Noite dariam mais detalhes.


- Pois bem (disse Yeshua indo já no terceiro copo de vinho e no terceiro de pão, agora acompanhado com rojões de peixe molhados em molho rosa) – Vim para vos dizer algumas coisas mais, e di-las-ei, mas não aqui e agora. Mas para que não digais vós que não vos dei notícia de fé, direi que há filhos neste mundo que não são de Noé, pois que enquanto Noé construía sua arca de muitos côvados, outros que ouviram dizer do dilúvio, construíam uma enorme bexiga redonda e transparente, feita com bexigas de gado vacum, que flutuou nas águas do dilúvio por quarenta dias e quarenta noites até que as águas se evaporaram para a Amazônia. Eles ficaram no fundo da bexiga, sempre estável por causa de seu peso concentrado no fundo, mesmo quando girava ao sabor do impacto das ondas. A bexiga girava, mas eles, lá no fundo, não. E foram muitos os que enganaram Noé. Esses ainda hoje enganam a humanidade, aproveitando-se dos crentes, da crença e da fé. Vigilai, pois, para que não fiqueis curtos no vestuário, na educação, na saúde, nos transportes, no pão e no vinho, para encherdes os alforjes dos que vos pedem em meu nome, porque sempre dei a césar o que é de césar e a Deus o que é de Deus... Moedas são dos césares, não dos templos, não minhas...  


E ao dizer isto, Yeshua desapareceu como que por encanto. O camelo foi seguido, mas quanto mais corriam, mais depressa o camelo andava desembestado pelas ruas do Rio de Janeiro em meio a lixo, assaltantes, traficantes, rapinantes, quadrilheiros, entorpecidos e entorpecentes, camisinhas de vénus, seringas, pastores milagreiros, políticos embonecados, carros alegóricos, fogos de artifício, balas de borracha, cacetadas e prisões que são autênticos palácios onde se preserva o crime da violência das ruas.


O camelo desapareceu misteriosamente, mas há quem diga que o viu cavalgando sobre as águas da Baía de Guanabara, desviando-se convenientemente das manchas de lixo espumoso...

Era carnaval nesse dia.

® Rui Rodrigues    









[i] Nota do Barman: (Aqui pelo bar do Chopp Grátis passa boi, passa boiada, é um grande movimento, e de vez em quando passam umas “avis raras” que nos contam umas historietas para distrair enquanto pegamos algumas, tomamos umas e largamos outras).
[ii] Não há dicionário que aceite estes dois termos, ressuscitagem e ressuscitamento e nos querem obrigar a usar um monte de palavras para transmitir a ideia fundamental: Ressuscitar... Nossa língua por vezes não ajuda: Atrapalha!
[iii] O barman naquele dia por acaso era eu. Quem sou eu? Eu sou o barman em certos dias. Noutros sou só eu.
[iv] Aquele gorro que os homens judeus usam para cobrir a cabeça e que chegou a ser usado por homens e mulheres. Ver em http://www.igrejadedeusemsaopaulo.org.br/averdadeiraorigemdokipa.htm
[v] Peot em hebraico.
[vi] Em hebraico, Jesus se escreve Yeshua.
[vii] Nome hebraico de Jesus como já devem ter percebido da nota anterior.
[viii] Se a Adega chilena me pagar adequadamente, informo qual a marca do vinho que Yeshua bebeu.
[ix]   Cáfila é um agrupamento de camelos. Vara é de porcos, bando e quadrilha são de políticos que roubam pondo-se de acordo entre si.  

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