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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Breve explicação do Brasil para ignorantes como eu [i].

Breve explicação do Brasil para ignorantes como eu [i].

Eis senhoras e senhores a linda história que tenho para vos contar a propósito do reino do Brasil e de sua idiossincrasia, moldada a beijos, tapas, pescoções e chibatadas, na senzala, no trabalho, nas forças armadas e nas igrejas, quando de repente o Brasil se viu simultaneamente invadido e livre de coisas estranhas.


O Brasil é um caso absolutamente único na História Mundial: Foi o único reino europeu com capital fora do continente. Dom João VI não fugiu da Europa para se salvar das tropas de Napoleão que afinal derrotou com a ajuda da Inglaterra. Foi uma retirada estratégica do reino principal para um reino associado de escravos. Ele era rei de Portugal, Brasil e Algarves. O ser rei de Portugal e Algarves, já mostrava certa discriminação, porque Algarve é uma parte continental de Portugal, mas como tinha pertencido a um reino mouro, isso se explica, assim como as piadas de alentejanos, mais geneticamente mouros do que os portugueses do norte, com 47% de sangue judeu.


Então imagine-se o acolhimento quando, assim do nada, porque era sigilo absoluto, surge na baía de Guanabara uma frota de naus, fragatas e galeões, com bandeiras inglesas e portuguesas... Imaginem o rebuliço.



Primeiro foi o espanto, o burburinho, costureiras e alfaiates preparando vestidos e roupas para agradar à corte, mas sentindo falta de teares mais equipados, gente apanhando as naus que voltariam para ir à Europa importar teares, outros indo para os EUA para importar o melhor algodão e as melhores tinturas. Gente rica vestindo seus escravos com roupas novas, todos de ouvidos atentos aos trejeitos e modo de falar da corte. O governador Geral e seus amigos perderam sua força política porque agora era o rei quem mandava e sua corte escolhia o melhor, o mais conveniente. Artistas se prepararam, deram tudo de si. Nas ruas os cariocas adquiriram o “chiado” das ruas de Lisboa, exagerando nos “esses” da língua, um sussurro agradável de confidências de amor. O povo estava preparado para agradar.  


Povo, indústria, comércio, forças armadas, tudo em geral se preparou para agradar à Corte. Por sua parte e mostrando sua superioridade por ter chegado recentemente do centro cultural europeu esta se preparava de forma condescendente para “perdoar” as pequenas falhas: Brasil era reino mas não era Europa, assim como Algarves era Portugal, mas um Portugal menos “Portus Cale” [ii].  Desta forma, entendia-se que as panelas não tivessem aquele requinte europeu, que as ferraduras não tivessem forma tão perfeita, que os panos tivessem uma ou outra linha embolada da tessitura. O mais complicado de fazer ou produzir importava-se da Europa.

Na Europa, a igreja cuidava da moral em perfeita cooperação com a corte e o Estado. No Brasil, logo nas primeiras semanas, também. Por isso, enquanto na Europa se impunha a moral rígida, aqui, para mitigar as saudades da pátria longínqua, a permissividade começou a mostrar seus frutos: Havia sempre uma escrava linda e sedutora para emprestar, vender ou doar aos senhores poderosos, coisa que na Europa nem pensar. Lá não havia escravos. Mas havia muita corrupção, e podemos imaginar como teria sido por aqui, que senhores de terras comerciavam o pau-brasil com frotas de piratas que invadiam as suas costas, que o preferiam a comerciar no próprio reino, coletor de altos impostos para garantir a ajuda inglesa do reino português e do Brasil, agora por extrema necessidade. Na própria igreja, o termo “santo de pau oco” advém do fato de fazerem estátuas em tamanho um pouco maior do que o normal, ocas, onde padres se ocultavam para pregar aos índios, mostrando que santos falavam. Quer na metrópole quer no Brasil, o povo era fácil de enganar porque educação era coisa de senhores poderosos, nobreza, comerciantes, eclesiásticos. Os níveis de deseducação eram praticamente iguais nos dois reinos.


No fundo se contentavam com pouco porque isso lhes dava muito. Aos poderosos. Dava exatamente dinheiro, sexo e poder. Abriram-se os portos até então fechados. 
Quando instalaram os primeiros transportes públicos, encheram-se de usuários. Então alguém perguntou: - Vamos encher o Brasil destas conduções para que o pessoal possa produzir mais? E alguém respondeu: Para quê? Então não está na cara que o que esse pessoal quer é passear, que a produção está lá fora no campo e que tanto o poder como os produtores têm suas próprias carruagens? E quando chegou o automóvel, aconteceu exatamente a mesma coisa, com uma resposta diferente: - fabricar motores próprios? Mas vocês estão loucos, por acaso? Com tanto ouro, compramos até a fábrica deles. Não vamos gastar dinheiro à toa. Vamos passear na Europa para ver onde param as modas.
Quando se inaugurou a primeira linha férrea, o reino ficou satisfeito e disse: Temos linhas férreas. Alguém perguntou: - Vamos encher o Brasil de linhas férreas? E alguém respondeu: Com escravos e burros, vamos precisar de linhas férreas para quê?
Quando instalaram as primeiras linhas de telefone, alguém perguntou: - Vamos encher o Brasil de linhas de telefone? E alguém respondeu: Para quê? Instalem apenas onde houver instituições, indústrias, comércio e gente importante...


Passados quatrocentos anos continuamos como estávamos: Importamos tudo, não fabricamos quase nada, ou nada inventado aqui, somos um povo sempre preocupado em agradar à corte, não temos vias férreas, compramos telefones importados, não temos ainda o nosso primeiro motor a explosão, vendemos nossa terra, o que ela produz e reclamamos de espionagem... Por Deus... Espionar o quê se até eles sabem dos poços de petróleo do pré-sal que não dão mais de 20 mililitros de petróleo em cada barril extraído [iii]?
Somos ainda um povo que se julga rico, desejando agradar a uma corte, que tendo um cesto achamos que já temos um cento. O calor apela a um banho molhado em agradável companhia, sendo que a porcentagem de calcinhas e cuecas, embora se mantendo a mesma, aparentemente, o gênio dos gêneros nos possa demonstrar haver controvérsias.


Ordem e Progresso sempre... Um dia saberemos onde iremos parar. Mas tenho como certo que precisamos de novo Tiradentes, alguns inconfidentes e um rei que mesmo devasso possa gritar novamente: “Libertas Que Sera Tamen, Mantenham os laços verde e amarelos, joguem fora as estrelas”. Eles não estavam preocupados em agradar à Corte.
A corte hoje é vermelha e não é de vergonha. 

A corte já se foi e os impostos para nada são ainda mais elevados do que antanho até para fazer mais do que hoje. Continuamos a contentar-nos com o pouco que nos dão. 

© Rui Rodrigues
http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

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