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domingo, 7 de abril de 2013

Coisas de bares no Rio de Janeiro.



Coisas de bares no Rio de Janeiro.


(De coisas que contam ou se ouve pelas mesas de bares. Qualquer semelhança com qualquer figura pública ou com a realidade, é mera perda de tempo)

Aqui pelo Bar do Chopp Grátis, como é costume, passam tipos de todas as cores, gêneros, idiossincrasias, nacionalidades, credos, estados de espírito, mais ou menos vestidos, mais ou menos duros. Hoje estou quase de pileque, desanimado por alguns problemas, e resolvi abrir o verbo, conjugar no passado, sem medo do pretérito futuro. O Ex-Prefeito ainda é amigo do Bar. É cumpincha! Já fez muitos negócios por aqui, já carregou muita marmita para casa.

Mas todos os clientes chegam com vontade de bater um papo, confessar o que não confessam em casa nem para o padre, certos da confidencialidade que a convivência com desconhecidos proporciona. Falam tudo em voz alta porque sempre apostam que ninguém presta atenção. Eles é que não prestam atenção a nada. Se vejo alguém caladão, com olhar circunspeto, posso assegurar que estão no conluio, na maracutaia, e que são figurões da política. A ultima vez que fizeram um negócio desses, os caras levaram a grana dentro das marmitas de alumínio, daquelas que servem para levar os restos para o “cachorro”.

Depois que entram pela porta do Bar todos os fregueses e freguesas são desconhecidos “amigos”. A casa, pelo sim, pelo não, tem o seu sistema de segurança muito próprio: Um chip debaixo de cada mesa, ligado a um auricular do respectivo garçom (eles são “túmulos” e guardam todos os segredos) para evitar que alguns fregueses nos queiram deixar sem pagar, e, lá do lado de fora, também com um auricular, um guarda que faz o seu serviço e está sempre por perto nos acode quando o chamamos para alguma emergência. Nunca precisamos chamar o guarda Abraão, com seus noventa e sete quilos de músculo, um cassetete que em cada paulada aplica uma carga de setecentos quilos nas costelas de belicosos descomprimidos. Ele tem curso de respiração boca a boca e de reanimação cardíaca para recuperar suas vítimas. Aqui é assim. O prefeito é freguês da casa!

Alguns fregueses entram armados. Sabemos disso porque logo na entrada temos um detector de metais, como aqueles dos aeroportos, e que emoldura a entrada. Parece uma esquadria de metal, mas é um detector. Quando o cliente está armado, acende uma luz no painel do computador de controle, e uma câmara o segue até sentar-se à mesa. Fica identificado sem ninguém saber. Quando um cliente entra armado, fazemos o possível para “aliviar” a carga alcoólica de seus drinques, e os garçons vão até o vestiário e vestem seus coletes à prova de bala. Nunca se sabe. Por precaução adicional, todos os quitutes que pedirem, são servidos quase sem sal para não provocarem sede e o cliente vir a pedir mais bebida. Junto ao portal de entrada, perto do detector, há uma câmara de raios-X. Dá até para ver o que ainda digerem em seus estômagos antes de chegarem ao Bar, tão eficiente é a carga. Sabemos se têm cartões de crédito nas bolsas e bolsos, talão de cheques, documentos. O programa de computador identifica as informações contidas nos documentos, e pode até ler-se o canhoto dos cheques, e qual o valor de cada um. Mas a principal função é saber se levam alguma arma escondida em bolsas, pastas ou mochilas. Nossa segurança está de acordo com os princípios de segurança, e o prefeito, amigo de três juízes, é cumpincha. Quem pode, pode, e quem não pode se sacode. Nosso Bar é três estrelas, e os jornalistas que o freqüentam dão cobertura.  Nenhum cliente morreu até hoje. Até agradecemos à lei seca.  Vendemos menos drinques, mas temos motoristas que nos faturam uma baba só para levar madame em casa. Sem pagar imposto porque motorista não emite fatura. Madames, madamos, monsieurs e monsieuras se servem destes nossos serviços preferenciais...

Há câmaras escondidas nos banheiros. Os banheiros femininos são controlados por nossas empregadas, que fizeram testes psicotécnicos para evitar admissão de taradas sexuais. Já pegamos uma freguesa guardando um copo de cristal na vagina. No banheiro dos homens, o nosso vigilante já pegou um sujeito se masturbando com uma argola de enrolar guardanapo. Passamos um perrengue danado. O “negócio” do cara inchou, a argola trancou o fluir do sangue no pênis dele, e tivemos que chamar os bombeiros, porque os enfermeiros da ambulância disseram que não tinham condições de retirar a argola. Os bombeiros fizeram a operação lá mesmo, no banheiro, com um alicate que estraçalhou a argola. Mas como não podia deixar de ser, o estrago no pênis dele foi tão grande, que saiu de maca a caminho do hospital. Tudo por causa de uma loura de perna aberta e sem calcinha, que ele vira na mesa em frente à dele. Homens e mulheres provocam-se uns aos outros fazendo “charme” e depois vem a encrenca. O pior é quando as namoradas ou os namorados estão presentes. Ainda muitíssimo pior é quando são casados e cada um se julga dono do outro. Enquanto estão juntos até pode ser, mas depois que saem de casa para trabalhar, a coisa complica. Quase que tivemos que chamar o Abraão, o policial parrudo, quando um sujeito que costumava vir com a mulher e sempre fazia cenas de ciúmes, a pegou com outra no banheiro. Era a amante dela há muitos anos, como só então, no acalorado da discussão, ele ficou sabendo. Nós também ficamos sabendo. Aos gritos, ele dizia-lhe com os punhos cerrados, no melhor estilo Mike Tyson:

 - Vem se tu é homem... Vem... 

Mas ela não foi. Com toda a classe, empinou o nariz, deu-lhe uma banana e saiu sorrindo do Bar. O casal saiu logo em seguida, depois que ele tomou mais duas Marguerita, dois Bourbon e um Bloody Mary para arrematar. Na saída ainda ouvimos o cara dizer para ela:

- Sorte tua e dela que ela não era homem...

Pareciam um par matemático de zero vírgula um, ele à esquerda dela.
Agora ele vem aqui de vez em quando, sempre com um cara meio fortão, de sobrancelhas aparadas, unhas cuidadas e pintadas com verniz incolor, gravata cor de rosa combinando com as meias da mesma cor e um leve bamboleado quando caminha. Um casal interessante. A ex-esposa dele também, mas a mulher dela é muito mais bonita. As câmaras registram tudo. Ninguém escapa de ser vigiado em nome da segurança. Mas daqui do Bar não sai nada, nenhuma fofoca. Fico imaginando se tudo se soubesse. Não sobraria quase ninguém no Bairro e arredores. Aquela franzina do 21 é uma desgraça. Nem loura ela é, porque quando as câmaras mostram no detalhe, lá embaixo é cinza escuro e o cara do 32, do outro lado da rua, quase não tem nada para segurar quando urina, mas vira trabuco quando encosta a morenaça na parede, e ela tem que levantar a perna e apoiar o pé no vaso sanitário. Êta morenaça... Um dia o pé escorregou e entrou todo. Quando ela voltou para a mesa onde estava com outro pessoal, o sapato assobiava toda vez que dava um passo. Mas todo mundo está seguro aqui no Bar. Cuidamos de tudo com a máxima segurança.

O belo de tudo isto é a representação do “angelicalismo”. Trai-se em cinco minutos, e ninguém repara nisso. O bar só por si nem é trabalho. É diversão!

Rui Rodrigues
   

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