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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Trabalho pra caramba! ... Onde anda minha caixa de etiquetas?

Trabalho pra caramba! ... Onde anda minha caixa de etiquetas?

Moro sozinho 99% do meu tempo ocupado. Tempo livre é só 1% de meu tempo total (é quando vou no banheiro, porque quando durmo estou trabalhando em silêncio)... E faço tudo o que é necessário, por que a mão de obra é cara, displicente, ambiciosa e, sobretudo, socialista “modernosa”: Acham que eu sempre lhes devo alguma coisa, que me fazem um favor, e que a lei os beneficia... Ta!... Então não contrato ninguém e eu mesmo faço tudo. Há inúmeras vantagens... Uma delas é que não pago INSS, nem férias, nem impostos. Eu mesmo me aproveito dessa grana que só serve para políticos distribuírem verbas públicas entre amigos. Amigos por amigos, meu maior amigo sou eu mesmo!

Vendi minha camioneta S-10... Não gasto gasolina, não dou gorjeta para o guardinha safado que anda sempre procurando sarna para eu me coçar, nem multas extorsivas, nem uma fortuna que custa manter um veículo nos dias de hoje. Nem passo pelo sofrimento de filas imensas de trânsito, filas no Detran, filas, filas e filas, busca incessante de estacionamentos que quando pagos custam uma meia dúzia de sorvetes, uma janta em restaurante de classe, um par de caças jeans, uma camiseta de marca, uma camiseta oficial do Flamengo, um mês de Internet ou de canal de filmes e programas via antena mirim e decodificador!

Sou o meu cozinheiro com vantagens de ter um particular: Meu colesterol não sobe, minha comida tem sempre o mínimo de sal para não subir a pressão, não corro o risco de ser envenenado e não sofro de azia. Nenhum cozinheiro me cospe no prato quando acha que trabalhou demais ou não foi devidamente apreciado. A comissão pela compra de alimentos no açougue, na peixaria ou no hortifrúti, eu mesmo recebo. Serve para despesas extras, como pagar táxi, comprar um par de sapatos novos, dar um presente para a Afonsina, que tem um nome horrível (e até é meio feia), mas é nota dez nos quitutes dos carinhos, e não fala demais da conta nem cria problemas. Olha só quanto economizo...


Sou minha própria empregada: lavo, passo, costuro, arrumo, limpo, do andar de cima até a área da churrasqueira e do jardim com a garagem. A garagem é para a Afonsina que tem carro e ainda não descobriu as vantagens de usar ônibus com motorista particular, umas enormes limusines com seis rodas, muitas de marca “Mercedes” ou “Volvo”... Não é pouca coisa não... Só não faço renda nem crochê porque seria muita sacanagem e a Afonsina ia me mandar tomar... Banho! Ela gosta de macho, macho do tipo que parece frouxo e faz comida e uns cafunés para ela. É uma gata de duas pernas, mas não “ronroneia”... Se ronronasse eu a mandaria procurar outro gato.  Já imaginou quanto economizo, sendo minha própria empregada? Só não ponho lenço na cabeça. Seria muita sacanagem comigo mesmo!


Motorista já tenho. Anda sempre de calça preta e camisa azul. Uma grande vantagem é não ser sempre o mesmo. Depende da placa do ônibus. E seguindo a minha linha de conduta face às vicissitudes da vida e do mercado, sou meu próprio zelador. Abro a porta de minha casa para os amigos e amigas, arrumo a entrada da casa, a garagem, recebo a correspondência na caixa de correio instalada no muro da casa, abro o portão, e tenho sempre as respostas certas quando me pergunto alguma coisa sobre a vizinhança. Sei perfeitamente que a mulher de um dos vizinhos come fora quando ele viaja. É uma festa gastronômica!
Sou o meu próprio carpinteiro especializado. Faço meus móveis, como mesas, aparadores, armários até de cozinha, usando madeira de construção, tratando para não dar cupim, lixando, cortando, pregando, aparafusando, pintando... Instalando. Quando a Afonsina não gosta, é tarde... O móvel já está pronto e instalado e ela sabe que se eu gostasse de atender reclamações contínuas eu seria atendente de postos de Órgãos Públicos.

Sou meu próprio garçom. Sirvo-me a mim mesmo e não perco tempo escrevendo o pedido. No dia em que eu me perguntar: “É servido de mais alguma coisa? Temos uns...”, vou jantar fora e procurar um psicanalista! E faço minha própria segurança pessoal. Até hoje não fui assaltado. Postei duas placas no portão. Uma diz: “Se quiser dinheiro, assalte um banco como fez a Dilma Roussseff quando era assaltante de bancos, porque eu não tenho porra nenhuma” (agora assalta outras coisas dentre elas a Petrobrás). A outra diz: “Sorria a afaste-se: Você está sendo filmado e a imagem instantaneamente transmitida via net”. Ou seja, não adiantaria ao bandido safado assaltar com esperanças de destruir meu computador para apagar as imagens: A Inês estaria morta e ele preso! A Afonsina ri sempre quando olha as placas e eu também. Casal que ri junto permanece junto. Ainda bem que ela só passa aqui de vez em quando. Não agüento rir o tempo inteiro.

Sou o meu pastor!... Não pago essa coisa chata e extorsiva de dízimos e víntimos. Quando preciso falar com Deus ou que Ele fale comigo, cozinho um pão cuja massa eu mesmo faço, retiro da geladeira um bom naco de queijo Roquefort e abro uma garrafa de Cabernet Sauvignon. E então chamo Deus para a comunhão, aproveitando a boa hora para lhe fazer umas confissões e um ou outro pedido. Uma das coisas que lhe venho pedindo há anos é uma outra Afonsina, mais jovem um pouco, que não seja traíra e me avise antes de me largar e arranjar outro, mas ou eu ou Deus somos teimosos: Ele porque não me arruma uma dessas, e eu porque continuo tentando! Mas apesar disso, nos empanturramos de pão estaladiço acabado de sair do forno, queijinho Roquefort e vinho Cabernet Sauvignon. De vez em quando vai um “Santa Helena”, que “Casillero Del Diablo” é bem melhor, mas mais caro, e Deus não gosta muito desse. Esse eu tomo quando acho que Deus não anda por perto. Depois Lhe confesso, e Ele sempre faz aquele gesto de “deixa pra lá...”.

Como aparentemente não sofro de nenhuma doença, sou o meu próprio médico (tomo uns chás com porradas de vez em quando com a Afonsina), e também o meu próprio engenheiro (nesta especialidade me formei mesmo, pra valer), e sou meu consultor econômico. Para presidente da República votarei em mim mesmo. A minha república fica aqui mesmo em casa, e não acredito em políticos. Sou também o meu pintor de paredes e de quadros. Já imaginou quanto custa um Picasso, um Van Gogh, um Monet? Um absurdo! Assim, pinto os meus próprios quadros, penduro na parede e quando alguém visita minha casa diz logo: Não é do Picasso, mas parece... De quem é?  Se a visita é legal digo que é meu. Se não é digo que comprei numa loja de Monmartre em Paris, da ultima vez que fui lá, e depois navego na conversa a remos ou com motor de popa. A propósito... Sou meu próprio pescador e proprietário da peixaria: Pesco por aqui mesmo, na praia. Só uso peixarias para poder comer os famosos peixes “Scapô” [1] ...

Por isso economizo o dinheiro que não tenho e me divirto pra caramba... Por exemplo, com o rabino que sabe perfeitamente que não misturo carne com leite, nem manga com leite e que carne, só Kosher. Amo os animais. O padre já nem passa aqui em casa porque sabe que não tenho pecados nem dinheiro para as esmolas. O pastor ri comigo. Já viu por várias vezes que aqui em casa não há capeta nenhum, e nem um por cento posso dispor do que tenho, quanto mais 10%... O sacerdote muçulmano passou direto quando viu que me ajoelhei no chão, sobre um “quilim”, coisa que sempre faço quando sinto a presença de Deus e para não sujar os joelhos, mas como ele não andava com bússola (nem eu sei em que direção fica Meca) não se precisou sobre se a direção de minhas orações estavam corretas (para ele) ou não. Ficou por isso mesmo. Como tenho umas galinhas no meu galinheiro, umas garrafas de cachaça e uns charutos cubanos, o pai de santo já me convidou para passar lá no terreiro, e um hindu dos bons, daqueles que usam fralda conversível em turbante, sabe que medito muito e faço Ioga plantando bananeira sempre que preciso irrigar o meu cérebro.

Ora vejam só como não se pode dizer que não trabalho mesmo não fazendo porra nenhuma na vida! Mas sempre fica aquele gostinho de despedir todo o mundo no dia em que eu me for. E não precisarei dar baixa na carteira de trabalho de ninguém! Minha conta bancária? Que conta? Os Bancos que me peçam consultoria e se necessário que abram uma conta em meu “banco”. Ah! E evidentemente tive que esquecer minha caixa de etiquetas em algum lugar que já não me lembro onde. Houve tempo em que as usava, mas atualmente com tanto trabalho, e com a caixa esquecida, algumas já devem estar coladas outras grampeadas e algumas as traças já traçaram.

® Rui Rodrigues

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