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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Os Bairros do Rio de Janeiro que eu amo... (ensaio de Besteirol)

Os Bairros do Rio de Janeiro que eu amo...
(ensaio de Besteirol)



O Rio que aprendi a amar é alegre, bem humorado, irreverente desde quando começou a gozar com as gentes da corte do rei D. João VI quando chegaram das Orópa numa manobra política que logo foi recebida na gozação como uma fuga aos exércitos de Napoleão.  O povo esperava muito mais do que aqueles fidalgos da corte Portuguesa todos vestidos de preto, suando em bicas, morrendo de febre amarela, depressão, dengue, gordura exagerada e sezões. Logo descobriram que se poderiam tornar independentes deles, e que nobreza em termos de vida dava no mesmo. Rio de Janeiro, Cidade de Deus! Dizem até que Dom João VI não era muito Realengo por que comia frango com as mãos. E franguinhas também...Por isso que a mulher dele o traía...


E os Bairros do Rio de Janeiro são a sua própria expressão que o define muito bem.  

Dizem que Nero incendiou Roma. No Rio não se Botafogo... De jeito nenhum. Não teria a menor Maria da Graça, e embora haja muita gente erudita, sempre aparece alguém de Casca (mais) Dura. Faz parte da miscigenação genética e cultural. É uma pena que tenham perseguido tanto o Jacaré, principalmente o de papo amarelo, por que agora só se vê Jacarezinho e Jacarepaguá...Mas foi o preço pago pelo progresso: Os europeus chegaram para construir um Jardim (na) América. Sem se questionar se era uma ação irrefletida ou bem Madureira. E sempre um estado dos mais Progressistas, haja vista que nem o avião de Santos Dumont havia ainda decolado e já se sabia que era do Alto que se tinha a Boa Vista, a melhor! E não era tão perigoso como hoje Andaraí... Tanto progresso que hoje se lava roupa em máquina de lavar e muito pouca em Tanque. Valha-nos o Santíssimo!


Meu Ti’juca adora futebol. Futebol e uma cerveja. Sempre que o Flamengo joga vai ao Maracanã. A mulher dele torce pelo Bangu, e quando perde é preciso dar-lhe chá de flor de Laranjeiras para acalmá-la e é preciso ter muita Paciência com ela. Uma das coisas que ela reclama muito, agora com os juros tão altos é que antes, quando ia orar a São Cristóvão, no Bairro Imperial, via a cidade cheia de portuários e atualmente só de Bancários. Nem lá a Praça é Seca. O Rio é muito úmido! Uma cidade onde todo mundo Pechincha. No tempo do Império olhava-se o lugar e via-se um Campo Grande, imenso... Hoje nem importa se é Várzea Grande ou Várzea Pequena, ou um simples Campinho, uma Rocinha... Porque já não se cultiva quase nada por aqui. Só Mangueira e Pitangueiras. 


Dizia Camões que para tudo é preciso ter engenho e arte. Vão ver lá no Engenho de Dentro, no Engenho da Rainha, Engenho Novo, mesmo que não se fabrique mais cachaça nem se produza mais açúcar, no que pese o Engenheiro Leal, que esse sim, entendia de engenhocas. Era de se ficar Encantado! Não há gente com complexos por aqui, nem com o Complexo do Alemão.  Colégio há por toda a parte. Infelizmente, se chamar ambulância ou polícia, alguém dirá: Irajá! Mas não acredite: Os políticos são de safra tão ruim que tudo demora muito. Acreditar em políticos é como acreditar no conto do Vigário Geral, embora a democracia tenha sido sempre um dos Pilares de nossa nação. Esses políticos me dão Penha. Penha Circular, de todos os tipos... Por vezes esta cidade parece uma batalha do Riachuelo. Valha-nos S. Francisco Xavier, valham-nos Todos os Santos. Eles se aproveitam muito das verbas públicas. Sempre foi assim. Dizia-se até “aproveita enquanto o Brás é tesoureiro”, mas não era o Brás de Pina. Esse era um homem de Bonsucesso, não era dessas coisas. Brincava-se muito perguntando “qual é a cor do cavalo branco de Napoleão”, e se dizia que de noite todos os gatos são pardos. Mas nunca ninguém descobriu qual é a Cordovil.  E como a religiosidade é muito grande nesta cidade, não se dispensa uma Água Santa, mesmo que não venha de um Bento Ribeiro, ou da Ribeira, mas certamente santificada por Anchieta, ou Padre Miguel - lá no Parque Anchieta - totalmente livre de qualquer Zumbi. Ainda há procissões em domingos de Ramos, carregando a Santa Cruz!


Foi a Princesa Isabel que lutou pela Abolição lá em Vila Isabel. Grande mulher para a época que assumiu o que os homens da época tinham medo de assumir? Libertar os escravos, para não se comprometerem. Hoje é uma cidade onde se Estácio muito bem mesmo que falte lugar para se estacionar veículos quer tenham motor da Ford, quer da Renault ou até do mui honorável Honório Gurgel.


Houve um tempo em que se usavam colchões de sumaúma... Eu ria muito com um amigo meu que dizia que os colchões eram de Inhaúma. Bem... Lá também se fabricavam colchões que eram usados pelos Cavalcante, pelo Marechal Hermes, Pelos Lins de Vasconcelos, Quintino Bocaiúva, Ricardo de Albuquerque, Tomás Coelho, Rocha Miranda, Vicente de Carvalho, Magalhães Bastos, até o Oswaldo Cruz, o Coelho Neto, o Del Castilho, Barros Filho e o Costa Barros. O senador Camará e o Senador Vasconcelos, além do Marechal Deodoro menos toda a Vila Militar, onde os colchões eram feitos de Taquara mesmo! Tropa é para dormir em colchão duro e desfilar na Praça da Bandeira. É de se rezar ao Cosmos numa pedra como altar: Uma Pedra de Guaratiba, em Guaratiba, que Guaratuba fica em São Paulo!


Sabemos que este imenso País foi aumentado pelo esforço de bandeirantes, e como somos um povo muito alegre, como não imaginar um Recreio dos Bandeirantes? Também tinham o direito de se divertirem. Saíram por aí carregando bandeiras, cortando o território à Bangu, levando uma vida que era uma Barra da Tijuca, uma Barra de Guaratiba... Deviam rezar muito à Virgem de Guadalupe, evitando os Manguinhos por causa da mosquitada. Quando os mosquitos apareciam pela tarde, diziam que estavam em Maré de azar e como a cidade está à beira-mar, de vez em quando pinta uma maré braba que nos deixa numa Pindotiba e não há Méier de sair disso. Cidade construída com tijolos, um em cima do outro, ao lado do outro como em imensa Olaria.  Aqui nada vai para as cucuias.  Quer quiser que vá à Cacuia ou a Cocotá, e se de madrugada encontrar alguém gritando Moneró, não pense que está pedindo esmola, grana, “mónei”... Cantores têm sua Freguesia cativa, e nem pense em se pavonear, muito menos na Pavuna. Quem quer aparecer ou “se achar” não pega bem. Contudo, o pessoal se cuida muito, sabe tomar o Leme da vida, e embora pareça o Cosme Velho, não é não... Está sempre renovado.


Já no tempo dos descobrimentos havia Caravelas (que fica lá na Bahia) e Galeão que fica no Rio, com a Gávea bem visível. Viajar é a Glória! E com tanto cadete da Marinha, o presidente se matou no Catete. Outra grande Penha que nem o Santo Cristo nem a Santa Teresa nem o São Conrado conseguiram evitar. Dizem que o presidente tinha pavio curto, e por isso não aconteceu no Rio Comprido.  Mas... Paquetá tanta preocupação? Foi só mais um que se foi sem explicação numa Cidade Nova. E tem cada Lapa de mulher, de boa Saúde, de se ficar tonto. Já não usam perfumes de Gardênia Azul... Para uns, saudosistas, outra grande Penha! Uma metrópole muito higiênica que se poderia chamar de Higienópolis de uma ponta á outra: De Acari a Cachambi, do Joá ao Tauá, passando por Turiaçu, Gericinó e Grajaú...

Céu de Anil Benfica sobre a cidade, e até na Praia da Bandeira, uma batidinha de Caju é sempre o Centro das atenções. Vão lá no Catumbi para ver se é Gamboa ou se é ruim... No tempo do Vasco da Gama não havia dessas batidinhas... Dizem que o que refresca bunda de pato é Lagoa... (Urca, que esta foi do Catete!... ). Criança que se perde nunca pergunta onde o Pai tá... Quando muito pergunta onde Humaitá...  

Há outros bairros no Rio de Janeiro, em todos eles apartamentos com copa-cozinha e só um é Copacabana, o que é muito Leblon. Se houvessem Hipopótamos no Rio de Janeiro o bairro da série especial com direito a proteção especial de polícia especialmente educada não se chamaria Ipanema. O Rio é uma imensa Cidade Universitária onde todo o dia se aprende mais um jeitinho de sermos levados na vida. Sempre com muito humor e alegria, sem gritar para não incomodar o juiz que condena a passar uns tempos na prisão para receber salários maiores do que os percebidos por professores. Afinal preso também é gente, gente também é professor. Professor já leu muito e ensina. Preso se ler ainda recebe mais grana por mês. O Rio não é uma pirâmide social. É um lápis em pé pela ponta.

® Rui Rodrigues

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