Como se começa uma guerra mundial –
Sinais
Uma visão da atualidade com foco na segunda guerra mundial.
Somos uma humanidade muito
complexa. Entre nós temos pessoas que por falta de oportunidade ou interesse
não acompanham as notícias diárias; outras que acompanham mas não lêem as
entrelinhas das notícias nem o que deveria ter sido dito e não foi; outras que
sabem de tudo porque estão nos bastidores do teatro da política mas não dizem
nada. Neste último caso, para nós, cidadãos comuns, é como estar sendo representada
uma peça no teatro e não termos bilhetes para entrar. Por outro lado, e da
mesma forma, ns oficinas bélicas constroem-se e projetam-se equipamentos,
ferramentas, das quais não temos a mínima notícia, e quando aparecem num
cenário de guerra nos admiramos dos enormes progressos.
Vivemos num mundo sempre
atrasado em relação às invenções, inovações, e principalmente em relação à
política. “Experts” formados em ciências políticas normalmente discutem sobre
os fatos consumados e quando fazem previsões estão normalmente longe da
realidade. Da mesma forma os futurólogos, principalmente os de desenhos
animados, que sempre vêm o progresso num futuro muito perto no tempo.
Pra começar pelos sinais de
inicio de guerras, começaremos por 1918 para tentar explicar o que poderia ter
sido notado e foi negligenciado. Por causa disso, a guerra foi uma surpresa, e
o mundo virou do avesso em busca do tempo e do progresso perdido. A guerra
poderia ter sido evitada, mas aparentemente havia quem tivesse muito interesse
nela. Se você, leitor(a) reparar em sinais semelhantes ou em outros, não se
apavore. O mundo progrediu muito para permitir uma nova guerra mundial, mas
pelo sim, pelo não, caldinho de cautela não faz mal a ninguém.
O tratado de Versailles[1].
A idiossincrasia alemã, ou
parte dela é de conhecimento de um bom público. Caracteriza-se pelo
empreendedorismo, povo alegre para a vida, silencioso para os negócios. Pensam
constantemente no dia de amanhã. Podem ir para o abismo, mas vão juntos, unidos,
e a hierarquia é absolutamente importante. O povo inteiro é um enorme exército
da vida civil. Quando perdem numa negociação ou em qualquer aspecto da vida,
não podem ser tratados como perdedores comuns. Devem ser tratados com todo o
respeito e consideração.
Não foi isto que se viu
quando a Alemanha assinou o tratado de Versailles em 1919 após ser derrotada na
primeira grande guerra mundial[2].
O tratado de Versailles
assinado em 28 de junho de 1919 estabeleceu:
- Perda de parte do território para as nações
fronteiriças.
- Perda de todas as colônias sobre os oceanos e
sobre o continente africano
- Reconhecimento da Independência da Áustria (ela,
a Hungria e a Alemanha faziam parte do Império austro-húngaro, uma
reminiscência do Sacro Império Romano Germânico)
- Restrições ao tamanho do exército alemão.
- A Alemanha reconhecia sua culpa pelo início das
hostilidades que originaram a primeira guerra mundial.
- Pesada indenização de guerra. O tratado foi
ratificado em janeiro de 1920 pela Liga das Nações que correspondia às
Nações Unidas de hoje, e que esta substituiu, e finalmente em 1921 foi
estabelecido o valor da indenização: 33 milhões de dólares ou 132 bilhões
de marcos alemães. Parece pouco, mas era extremamente excessivo para a
época. A França, por a guerra ter sido realizada em maior parte em
território francês era a nação mais intransigente com a Alemanha. Era tão
excessivo que China e os EUA de Woodrow Wilson negociaram a paz em
separado com a Alemanha e não entraram para a Liga de Nações.
As terras perdidas pela
Alemanha foram as seguintes[3]:
- Alsácia-Lorena, os territórios cedidos a Alemanha no
acordo de Paz assinado em Versalhes em 26 de Janeiro de 1871 e oTratado de Frankfurt em 10 de Maio de 1871, seriam devolvidos a França (área 14 522 km²,
1 815 000 habitantes, 1905).
- A Sonderjutlândia seria devolvida a Dinamarca se assim fosse decidido por um plebiscito na região (toda a região da Schleswig-Holstein teve o plebiscito,
sendo a Sonderjutlândia a única região a se decidir
separar)(3984 km², 163 600 habitantes, 1920).
- As províncias de Posen e Prússia
Oriental, que a Prússia Ocidental tinha conquistado nas Partições da Polônia eram devolvidas após a população local
ter ganho a liberdade na Revolução da Grande Polônia (área 53 800 km²,
4 224 000 habitantes, 1931).
- Hlučínsko, região da Alta Silésia,
para a Checoslováquia (316 ou 330 km² e 49 000 habitantes)
- Parte leste da Alta Silésia para a Polônia (área 3214 km², 965 000
habitantes) apesar do plebiscito ter apontado que 60% população preferia
ficar sob domínio da Alemanha.
- A região de Soldau da Prússia
Oriental a Polônia (área de 492 km²).
- Parte setentrional da Prússia
Ocidental, Klaipėda,
sob o controle francês,
depois transferida para a Lituânia.
- Na parte oriental da Prússia
Ocidental e na parte
sul da Prússia
Oriental, Vármia e Masúria,
pequenas partes para a Polônia.
- A província de Sarre para o comando da Liga das Nações durante 15 anos.
- A cidade de Danzig (hoje Gdańsk, Polônia com o delta do Rio Vístula foi transformada na Cidade Livre de Danzig sobre o controlo da Liga das Nações (área de 1893 km², 408 000
habitantes, 1929).
- O artigo 156 do tratado transferiu as
concessões de Shandong, da China para o Japão ao invés de retornar
a região à soberaniachinesa. O
país considerou tal decisão ultrajante o que levou a movimentos como o Movimento de Quatro de Maio, que influenciou a decisão final chinesa de não
aderir ao Tratado de Versalhes.
Os reflexos imediatos do tratado de Versailles
O povo alemão sentiu-se ultrajado
não tanto pela perda dos territórios, mas principalmente pela pesada
indenização, praticamente impagável. Os EUA e a China atestavam tal
exorbitância. Como principal reflexo, cai a república alemã de Weimar em 1933 e
Hitler sobe ao poder. Embora seja questionável se Hitler subiria ao poder mesmo
sem a pesada indenização, o certo é que se referiu ao tratado em sua campanha e
denunciou as causas da humilhação. Mas o certo é que a política internacional
de Hitler, logo que assumiu o governo, foi reaver, um a um, os itens cedidos no
Tratado de Versailles.
Para piorar a situação, em 1923,
o governo francês avaliou mal as dificuldades alemãs para pagar a indenização
de guerra e invade o Rhur com numeroso exército disposto a aumentar o valor. A
Grã Bretanha foi contra esta atitude e este aumento. A França, também com
graves problemas econômicos – imagine-se a Alemanha - retira-se em 1925,
reconhecendo o seu fracasso.
A truculência da primeira
guerra mundial estava ainda presente no espírito de toda a Europa e faziam-se
acordos para evitar novos conflitos tendo a Alemanha como ponto principal.
Assim, em 16 de outubro de
1925 assinou-se o tratado de Locarno [4] na
Suíça, com o nome de “pacto de Estabilidade”, a zona da Renânia passaria a ser
desmilitarizada dando os aliados em troca a garantia de que a Alemanha não
seria invadida. Quiseram os aliados (Alemanha,
Bélgica, França, Reino Unido e Itália) fazer um tratado semelhante em
territórios orientais alemães, mas sem êxito. De qualquer forma, para mostrar boas intenções
sob o espírito do pato de Locarno, a Alemanha foi admitida na liga das Nações
em 1926. A França e a Tchecoslováquia firmam tratado em separado para o caso de
invasão por parte da Alemanha. Em 1930, os aliados saem da Renânia Ocidental. Justamente
neste ano, Hitler assume o governo da Alemanha.
Em 07 de março de 1936, a Alemanha de Hitler com um pequeno exército invade a Renânia. Outros indícios de transgressão do Tratado de Versailles, por parte da Alemanha, vinham sendo observados desde 1930, tal como manobras com tanques de madeira, construção de navios de guerra de última geração, treinamento de aviadores em Portugal, projetos de fabricação de novos tanques (Panzer). Mas quem acreditaria que a Alemanha iniciaria uma nova guerra 20 anos depois de perder a primeira?
Em 1939, a Alemanha começou a invasão da Europa rumo a Paris, depois de reaver territórios que havia perdido pelo Tratado de Versailles, começando pela Polônia. A impressão que se tem é a de que a Primeira Guerra Mundial passou do campo de batalha - pelo tratado de Versailles, para o campo de batalha dos acordos e dos papéis dos tratados, recomeçando em 1936.
Mas como dissemos no inicio, há quem não veja porque não pode, porque não quer, porque não se interessa, ou vêm e “deixam pra lá”. Outros estão interessados, participam dos preparativos e os cidadãos nem sabem. É o que chamam de "segredos de Estado". Quando nos damos conta, nosso governo invadiu outro país - dizendo que nos representam - e estamos em guerra mesmo sem concordarmos. Dizem que é para o bem da nação. Imaginem se não fosse ...
E por vezes nem se trata de guerra mundial. Pode ser uma simples revolução interna. Basta olhar para os indícios.
Rui Rodrigues
[2] Aliás, esta guerra deveria ter sido
a II Guerra mundial, e a primeira, a Guerra dos 30 anos, que envolveu, além de
boa parte da Europa, também a Alemanha. Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_dos_Trinta_Anos
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