Deus e o Big-bang – para físicos, religiosos e leigos
“Penso, logo existo”.
Como poderíamos aceitar que alguma entidade nos proíba ou limite o pensar sem que, imediatamente, temermos por nossa existência? Que entidades seriam essas que poderiam pensar em limitar-nos o pensamento se elas também “pensam”?
Não é difícil deduzir que, nesse caso, o que existiria seria uma divergência na forma de pensar. Parece ser isso o que acontece em termos de religiões – todas elas – e a ciência. No entanto, enquanto a ciência se apóia em fatos matemáticos, físicos, químicos, e evidencias, seguindo teorias e abandonando-as quando não explicam a nossa existência, as religiões baseiam-se em livros escritos há milhares de anos por pessoas que, a pretexto de terem tido inspiração divina, não tinham os conhecimentos que temos hoje. Mas está em causa, também, a inspiração divina. Afinal, são tantas as religiões que já imperaram na humanidade no passado e que já jazem no pó, e tantas as que ainda existem, cada qual com seus livros sagrados mostrando deuses que dizem ser “único” mas que se interpreta de forma tão diferente, que, excluindo os aspectos sociais de “ter” que fazer parte de uma religião, fica difícil escolher em qual “deus” acreditar, ou que livro sagrado contém mais verdades sobre seja o que for. De modo geral, cada religião se julga melhor do que a outra, assim como nações, regiões, partidos políticos e torcidas de times de futebol.
Chega a parecer, para não se afirmar, que “religião” é um assunto social idiossincrático, transmitido culturalmente, por tradição, cuja adesão se dá desde criança por ensinamentos, não sendo possível a cada criança negar sua adesão por força das circunstâncias.
Têm sido os nossos cérebros humanos, dos que se têm preocupado ao longo dos séculos de civilização, que descobriram a matemática começando pela soma e subtração, a qual serviu de pilar para a descoberta da física e da química. Descobriu-se, e isto é uma verdade insofismável, que todo o universo conhecido se rege por leis físicas e químicas suportadas pela matemática. Admitindo que não houvesse até hoje nenhuma religião e aparecesse um profeta, possivelmente diria:
- Deus fez o Universo por sua vontade, segundo as suas leis da física, da matemática, da química e da biologia, quando provocou o Big-Bang e nele as imprimiu. Depois, para descansar, foi embora e deixou o mundo entregue às suas Leis.
A tradição levaria essa fé por milhares de anos. Adeptos fundariam uma igreja após a sua morte, por fé ou por ambição, e passados anos haveria dissidências e novas religiões se formariam. Apareceriam novos profetas para novas religiões. Pensando num futuro ainda mais distante, estes novos profetas e aquele primeiro seriam considerados ignorantes pela nova leva de profetas do futuro, agora mais instruídos após novas descobertas da matemática, da física, da química e da biologia. As religiões acompanham a ciência. Os magos (físicos) do faraó conseguiram reproduzir algumas pragas iguais às de Moisés. Sacerdotes judeus fizeram curas iguais às de Jesus. Com 80.000 visitantes por mês à gruta de Lourdes na França, ao longo de décadas, apenas 66 milagres foram confirmados, e nenhum deles ressuscitou alguém, refez uma perna perdida em acidente, regenerou os movimentos de tetraplégicos. Em algumas TVs no Brasil escutam-se notícias de “milagres” todos os dias, mas não de regeneração de membros, como se quem tiver uma perna extirpada não faça parte das atenções de Jesus, sendo, portanto descriminados.
E voltamos ao inicio de raciocinar sobre se o Universo faz parte da Obra de Deus ou apareceu por acaso, mas não podemos raciocinar sobre nenhum dos livros sagrados religiosos, mas sobre todos, porque todos interpretam Deus de forma diferente. Sendo assim, Deus, a ser único, não pode ser nenhum daqueles e tem que ser diferente. Não sendo único, temos um grande problema: Quem os comanda e é o Deus dos deuses?
Sendo assim, temos o Big-Bang e um Deus Único – que tem interpretação diferente das que conhecemos – e precisamos definir se o Big-Bang foi ou não uma conseqüência divina ou se poderia ter aparecido por acaso. Não que realmente precisemos, mas acreditamos que seria bom se tivéssemos uma definição. Somos uma humanidade curiosa que gostamos de pensar e, logo, de existir. Se não pensarmos, acreditamos que seriamos iguais aos outros animais que conhecemos, os quais não parecem estar preocupados com a existência e suas causas.
Sendo assim, temos o Big-Bang e um Deus Único – que tem interpretação diferente das que conhecemos – e precisamos definir se o Big-Bang foi ou não uma conseqüência divina ou se poderia ter aparecido por acaso. Não que realmente precisemos, mas acreditamos que seria bom se tivéssemos uma definição. Somos uma humanidade curiosa que gostamos de pensar e, logo, de existir. Se não pensarmos, acreditamos que seriamos iguais aos outros animais que conhecemos, os quais não parecem estar preocupados com a existência e suas causas.
É fato que as leis da física que conhecemos não se aplicam ao primeiro instante do Big-bang. Aplicam-se apenas a partir de algo como 10 elevado a -37 segundos, ou seja, 0,00000000000000000000000000000000000001 segundos. Entre 0 (zero) segundos e este tempo, ou há leis da física que não conhecemos ainda, ou foi nesse período, ou antes, que Deus teria dado origem ao Big-bang ou o adaptado para que pudesse conter vida tal como a conhecemos. Se o Universo não tivesse sido criado para a vida, seríamos uma conseqüência aleatória de suas leis, e teríamos outro grande problema: Deus existiria, mas nossa existência não teria sido por sua opção determinada. Deus teria intervido na formação do Universo e depois se teria retirado, deixando-o entregue a suas próprias leis que tudo comandam por si só.
Mas apenas esta forma simplista de analise não basta para definir se Deus interferiu ou não no Big-bang, ou para determinar se Deus existe ou não. Temos que nos debruçar sobre as leis da física, da matemática, da química, da biologia, e, principalmente, nos fixarmos na quantidade de leis que sabemos hoje serem absolutamente válidas neste universo.
A pergunta é: Que fatores determinariam um universo com tantas leis interligadas, que explicam, definitivamente, o Universo em que vivemos? O que a teoria das probabilidades nos diz é que, quer em função da “densidade crítica” do universo que no inicio do Big-Bang se aproximou de 1 (um) com incríveis 15 casas decimais, quer pela totalidade daquelas leis existir e interagirem de forma a explicar este universo, a probabilidade de existir o Universo e conter a vida que contém, seria como tentar equilibrar um lápis apontado em pé sem o segurar. Poderíamos ficar a vida inteira tentando e não conseguiríamos.
Diz a Física quântica que o falso vácuo – de onde surgem os universos - é metastável, isto é, seu tempo médio de vida é tão curto, que se esperarmos alguns segundos veremos um big-bang aparecer, mas isto nos remete exatamente para o ponto original com umas perguntas adicionais:
Diz a Física quântica que o falso vácuo – de onde surgem os universos - é metastável, isto é, seu tempo médio de vida é tão curto, que se esperarmos alguns segundos veremos um big-bang aparecer, mas isto nos remete exatamente para o ponto original com umas perguntas adicionais:
- Estaria Deus no falso vácuo, teria Deus feito o falso vácuo, ou o falso vácuo é parte de algo ainda muito maior?
Ainda que não tenhamos a certeza da existência de Deus – afinal ainda não O vimos ou ouvimos – acreditar em sua existência é absolutamente plausível. Mas já podemos ter certeza, também absoluta, que somente por acaso alguma das religiões que conhecemos O tenham descrito como realmente deve ser. E a probabilidade de o ter descrito exatamente é tão pequena ou ainda menor do que a probabilidade de um big-bang dar origem à vida tal como a conhecemos.
Rui Rodrigues
Parabéns pelo excelente artigo. Para uma agnóstica como eu ou ateia, isso dependendo da interpretação de cada um, ter gostado do artigo já é um avanço.
ResponderExcluirAbs