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terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Tempo [1], para leigos Quânticos como eu.




O Tempo [1], para leigos Quânticos como eu.


Nada como um grande “desastre” na vida para nos fazer refletir sobre o nosso passado, o presente e o futuro. Nessas horas de apreensão, costumamos pensar no que fizemos durante toda ela para que ocorresse o “sinistro”, o desastre em nossa vida, e pensarmos se tivéssemos agido de modo diferente, se o poderíamos ter evitado. Podemos até pensar se Deus nos castigou, se nos castigamos, ou se foi um acaso que determinou o acontecimento, o fato. Crentes e ateus pensarão de modo diferente, mas não é sobre Deus este tema.

Telmo Lunardi é um grande amigo que conheci há 37 anos atrás, na Tijuca, Rio de Janeiro. Costumávamos tomar nossos chopes nos finais de semana no condomínio onde morávamos, à beira da piscina, ou em saídas com as famílias para distrair. As duas famílias são amigas até hoje. Com minha separação matrimonial, perdi o contacto até porque vivemos em cidades diferentes e Telmo dedica boa parte de sua vida a velejar. Lá por 1996, Telmo teve um problema nos rins e precisou ser operado. Um corte dado de forma deficiente provocou um problema ainda maior e ele necessitou de uma longa recuperação. Quase que Telmo nos deixou caminhando sozinhos no tempo. Recuperou-se, e quando já estava em convalescença, caminhando devagar, empurrando uma mesinha com rodas onde se encontravam o soro pendurado, os remédios, uma bolsa para a urina que lhe saía por uma sonda, rosto meio amarelado, tivemos uma conversa inesquecível: Telmo me dizia, dentre outras coisas, que Deus sabia tudo, que o futuro estava predeterminado, e que, fizéssemos o que fizéssemos, tudo aconteceria como previamente determinado. Mesmo que Deus não existisse, era como se a vida de cada um fosse um filme a que estamos assistindo: Conhecíamos o inicio do filme, o momento atual, mas não conhecíamos o final, embora já estivesse “realizado”, e nada o pudesse alterar. Em tal situação, pedir alguma coisa a Deus, como, por exemplo, a sua própria melhora, de nada adiantaria. O futuro estava traçado.

Minha visão era completamente oposta. Sempre acreditara que poderíamos mudar alguma tendência do futuro de acordo com os nossos atos, o nosso caminhar na vida, isto é, no tempo. Hoje não tenho tanta certeza.  Albert Einstein me deixou em dúvida, mas em compensação, as alternativas são excitantes.

Quando passei no vestibular para a Universidade de exatas, em 1967, escolhi engenharia porque tinha uma enorme vontade de viabilizar enormes projetos, de difícil cálculo, modernizar o presente, e queria ganhar bons salários. Foi nessa época que comecei a me interessar por física, e, em especial, pela física quântica. Minha profissão me empurrou pela vida e só nos tempos vagos continuava lendo alguma coisa a respeito. Meus conhecimentos de matemática ficaram por ali, limitados aos da Universidade de Engenharia, e por isso meu entendimento desta Física tem os seus problemas: Falta-me conhecimento matemático para desenvolver cálculos, mas tenho uma razoável percepção. Com esta percepção, igual á de quase todos nós, três fatos sempre me intrigaram:

1-     Porque razão o tempo parece andar mais devagar quando esperamos que algo de bom, que sabemos irá acontecer aconteça realmente?(como em vésperas de uma festa, de um passeio, receber o salário, esperar que chegue sexta-feira).
2-     Como será possível viajar no tempo de forma “diferente”? (já que viajamos no tempo enquanto estamos vivos, parados ou em movimento).
3-     Porque razão, viajando nós para norte, sul, oeste, ou em qualquer direção tridimensional, o tempo sempre flui, aparentemente, numa só direção, isto é, no sentido do futuro, para frente, sem uma direção fixa?
4-     Haverá um espaço-tempo, ou um tempo que flui continuamente, ou não haverá nenhum tempo, ou, finalmente haverá vários “tempos” em “camadas” ou como vetores?

A matéria tal como a conhecemos se comporta fisicamente de dois modos: No microcosmo das partículas, o da física quântica, elétrons dão saltos quânticos, mudando de uma órbita para outra sem percorrerem o espaço entre elas; não se pode determinar a posição exata de um elétron, mas o local onde “provavelmente” está, um mundo louco do qual sabemos quase tudo e não sabemos quase nada. No macrocosmo da força de gravidade, para moléculas e massas maiores, tudo parece resolvido e determinado. Se a gravidade somente se apresenta mensurável em grandes massas – relativamente às partículas – o que dizer do tempo em relação às partículas atômicas? Estará o lugar entre as camadas de elétrons não sujeito ao tempo e espaço?  

Isto me parece fazer sentido (a mim que sou leigo) porque não havendo espaço a percorrer entre camadas de elétrons, também não existe tempo, e o elétron pode dar o seu salto quântico quando desejar ou se sentir “excitado” energeticamente, Mesmo embora sabendo que, onde não há espaço nem tempo teríamos uma singularidade, ou seja algo parecido com um buraco negro, mas a física quântica é louca, maluca e fora de nossa capacidade – ainda – de dominá-la.  

Se tivéssemos um aparelho capaz de medir o tempo decorrido entre o momento em que um neutrino começa a atravessar um átomo, fazendo-o obrigatoriamente pelo “espaço” entre camadas de elétrons, talvez se chegasse à conclusão que o tempo gasto seria de exatamente zero, com pelo menos quinze ou vinte casas decimais.

Nossos telescópios são cada dia mais potentes. Vêem estrelas e plantas como eram até há bilhões de anos, e um dia chegarão até o momento em que nosso universo tinha cerca de 300.000 anos e aí irão parar porque nessa oportunidade o universo não era transparente e a luz ainda não existia. Se tivéssemos telescópios ainda mais potentes poderíamos ver o que acontece na superfície dos planetas e estrelas que estão a apenas alguns milhares de anos-luz, e se neles houver vida, o que estiver acontecendo por lá – naquele tempo – e se tivéssemos naves que viajassem acima da velocidade da luz, poderíamos ir lá, intervir na evolução a fim de preparar uma ocupação futura e voltar a tempo de assistir ao ultimo documentário na International Geographic. Era disso que meu amigo precisaria quando foi operado. Não creio que isso seja possível, porque a velocidade da luz não pode ser ultrapassada, mas para quem acredita, já poderiam ter feito isso com nosso planeta.

Ao nível de partículas, o entrelaçamento quântico (quando duas partículas se aproximam e ficam “dependentes” uma da outra mesmo que depois sejam afastadas a longas distâncias), permitiria o “teletransporte”, e já se fazem experiências nas ilhas espanholas de La Palma e Tenerife. Extrapolando, uma partícula poderia ter sido deixada em Alpha de Centauri e sua entrelaçada viajado até nós, depois de quatro anos de viagem.  Se um dia se puder fazer isto com equipamentos humanos, ou com pessoas, nos permitiria fazer o caminho inverso de forma instantânea través de teletransporte quântico. .


O problema é que ao se criar uma “cópia” real, idêntica, o original se destrói. Há vertentes filosóficas a respeito, tema que já se discute desde as discussões entre Albert Einstein e Niels Bohr, e que podem levar a uma revisão das leis da física, ou ao seu desenvolvimento em mais um grande passo da ciência.  Mas repare-se que, ao se destruir o original, isto é como a nossa morte. Morremos, mas a nossa outra parte continua viva no tempo. É a esta segunda parte nossa que chamamos de alma, e que não julgamos ser material porque ainda não a identificamos nem medimos (como o gato de Schrödinger).
Curiosamente, a grande questão que ainda persiste, tal como no tempo de Einstein e de Bohr, em 1935, é que ao medirmos uma partícula, ao analisá-la, ela se comportaria como se tivesse “vontade” e quebraria o encanto. Em outras palavras, só haveria uma forma de  saber se temos alma: Seria ir até onde ela provavelmente estaria, mas ao fazermos isso, e então voltarmos, poderíamos encontrar o morto, absolutamente vivo ou seu cadáver destruído como se nunca tivesse existido...


Física Quântica e tempo são coisas para loucos, mas funcionam perfeitamente e as interpretamos corretamente com as equações que já possuímos.

Rui Rodrigues.

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