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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Veja o seu destino.




Veja o seu destino.


A nossa vida consciente é cheia de incógnitas e de curiosidades e qualquer analogia de suas características com a física quântica não seria mera especulação.  Há quem diga que nosso destino está traçado e quem diga que podemos traçá-lo de forma consciente de forma a atingirmos um ou vários objetivos na vida. Outros dizem ainda que vamos desenhando o nosso destino a cada passo que damos, mesmo sem termos consciência de que queremos atingir algum objetivo. Talvez todos tenham razão.

  1. Os vários caminhos de Feynman (Figura 1)
Feynman - Richard Feynman - dedicou sua vida ao estudo da Física Quântica, foi merecedor de um prêmio Nobel em 1965. Descobriu que partículas, em sua trajetória de um ponto A até um ponto B, se movem segundo uma “onda de probabilidades”, podendo estar em qualquer lugar conforme figura 1. A cada possibilidade chamou de “história” mas há um detalhe: Se imaginarmos que num determinado instante a pudéssemos localizar exatamente, poderíamos marcar sua posição num gráfico. Se, porém, pudéssemos voltar no tempo e repetir – exatamente – a experiência e no mesmo instante pudéssemos voltar a medir a sua posição, muito provavelmente estaria em posição diferente (dentro da tal onda de probabilidades). Isto é tão certo, que muitas das teorias – que já poderiam ter sido chamadas de leis - são utilizadas até hoje demonstrando a sua veracidade e eficácia.

Imaginemos que acreditamos na existência de uma alma pessoal e intransferível, que nos move o corpo, segundo decisões tomadas num computador a que chamamos cérebro. A título de referência, andaram fazendo experiências com pessoas à beira da morte, pesando-as instantes antes de falecerem e logo após o óbito, quando a “alma” abandona o corpo. A diferença de peso representou aproximadamente 23 gramas. Independentemente da credibilidade desta medição, é crença geral que a alma não tem peso, seria apenas energia. Então, para ir de um ponto A até um ponto B, nossa alma poderia tomar vários caminhos, e, se não houvesse interferências, poderia chegar lá em mais ou menos tempo dependendo do caminho que tomasse. Como está presa, amarrada ao corpo, irá muito mais devagar e, salvo engano ou necessidade, escolherá o caminho que lhe parecer mais curto, consumindo menos tempo em seu percurso. Os pontos A e B são aleatórios para cada decisão tomada na vida. Se quiséssemos definir o percurso desde o nascimento (ponto A) até a morte (ponto B), ser-nos-ia impossível pelo simples fato de que vivemos num mundo com “múltiplas” histórias de múltiplos corpos vivos que nos cercam, de múltiplas histórias da natureza que de vez em quando parece enfurecida e se mostra hostil através de desastres naturais, o próprio Sol nos envia tempestades solares que fazem os seus estragos, e nunca podemos negligenciar os raios cósmicos, os raios de tempestades elétricas, meteoros que caem sobre o planeta. Nem bêbados ao volante que nos podem interromper a nossa pacata viagem.

Com um pouco de boa vontade e de imaginação, poderíamos ir ainda mais além e imaginar uma parte da “alma” adiantando-se ao corpo para “ver” o que nos espera lá no ponto B, quer este ponto seja um ponto comum do dia a dia, como por exemplo, o escritório ou o posto de trabalho para onde nos deslocamos, ou o momento da “passagem” desta para a outra vida. Com um pouco mais de imaginação, e em referência à possibilidade de viagens de teletransporte, numa primeira fase se transferiria a alma e só depois se transportaria o corpo. Provisoriamente, a alma poderia habitar um “chip” de uma máquina cibernética. Não fosse nossa imaginação, ainda hoje estaríamos cortando pedaços de lascas de pedra para fazermos machados de mão ou flechas, e viveríamos em tribos em alguma caverna onde continuaríamos a proteger-nos dos animais ainda mais selvagens do que nós próprios, se é que isso é possível... Mas nem só Feynman descobriu essa coisa incrível de algo não estar exatamente num lugar, mas numa “onda” de probabilidades. Um sujeito chamado Schrödinger descobriu algo ainda mais incrível.

  1. O gato de Schrödinger
Erwin Schrödinger foi laureado com o prêmio Nobel de Física em 1933 e até hoje ninguém contestou suas equações, e está provado que elas funcionam pra valer. Também se de dedicou à Física Quântica e ficou famoso por causa de um gato imaginário que colocou numa caixa imaginária com um dispositivo movido ao acaso da emissão de uma partícula. Se a partícula aparecesse acionava um martelo que quebrava uma fina ampola de veneno fortíssimo que mataria o gato. A probabilidade de a partícula aparecer seria de 50%. Se a partícula não aparecesse, o gato continuaria vivo. Ou seja, sempre que abríssemos a caixa para ver se o gato estava vivo ou morto, umas vezes estaria realmente vivo, outras morto. Até aqui todos podemos entender a física quântica. O problema começa a complicar quando Schrödinger descobriu que o gato tanto podia estar vivo como morto, e aqui a maioria de quem tenta entender a física quântica se perde. Um gato ou está vivo ou está morto. Pode até estar meio vivo, meio morto, mas enquanto não morrer, está vivo, e depois de morto não vive mais.

No fundo, o que Schrödinger quis dizer é que existe um fator que complica a realidade: a observação. Todas as vezes que abríssemos a caixa estaríamos influenciando nos resultados. É esta relação que fica difícil entender. Um resumo deste fenômeno poderia ser descrito da seguinte forma:

Seria indistinguível, lá dentro, na privacidade da caixa, o estado do gato que seria o resultado de uma onda com dois estados: o de 50% de gato vivo e outros 50% de gato morto, resultando num terceiro estado em que o gato estaria – simultaneamente-vivo e morto! Ao abrir a caixa, interferiríamos neste estado e o veríamos ora morto, ora vivo a cada vez que a abríssemos.

Voltemos então ao começo de nosso artigo para seguirmos as histórias múltiplas de Feynman, agora sob o ponto de vista das probabilidades de Schrödinger, no âmbito de um futuro dependente ou não de um destino prefixado.


  1. O meu, o seu, o nosso destino...

(... E porque este mundo nos parece simultaneamente tão extremamente simples e ao mesmo tempo tão complicado).

Ao caminharmos por uma rua, despreocupadamente, nosso planeta também gira, o Sol está lá em cima, em seus movimentos, pessoas a pé ou em veículos se movem, e nós, olhando as pedras da calçada não os vemos não reparamos. Qualquer coisa pode estar acontecendo, mas não temos a mínima idéia. Só temos uma idéia muito vaga de que o “mundo continua” como se fosse uma enorme onda, resultado da soma de uma imensidão de outras ondas, em que pessoas conhecidas ou não estarão tomando esta ou aquela atitude, direção, movimento. Ao levantarmos os olhos das pedras da calçada enfrentamos a realidade – pelo menos é o que nos parece – e podemos ver um ciclista quase colidindo conosco. Fixemo-nos neste detalhe: O ciclista que quase colide conosco.

Umas vezes colidirá. Mas não segundo a porcentagem de Schrödinger dos 50%. Schrödinger escolheu propositalmente a porcentagem de 50% porque contava a historia de apenas um gato com duas opções: ou vivo ou morto. Nossas opções na vida real são infinitamente menores, porque pode não ser uma bicicleta, podendo ser algo mais leve, como um garoto de skate, um árvore parada no meio do caminho, um pequeno poste de sinal de trânsito, um caminhão, um automóvel, ou absolutamente nada... Pode não haver nada nem ninguém à nossa frente em nosso caminho... 

Nosso futuro depende de observarmos ou não o que se passa à nossa volta, porque interagimos com tudo e tudo interage conosco, mesmo que não olhemos à nossa volta. Mortos ou de olhos e ouvidos fechados, é como se não existíssemos. Nossos atos se refletem nos atos dos outros e de volta, em nós mesmos. Com tantos fatores interferindo em nossa vida – e cada um de nós conhece os principais em sua vida – prever o futuro, e dizer que já está montado, não faz o mínimo sentido. Mas imaginemos que sim... Que o futuro já esteja traçado. Que computador fantástico seria capaz de, a cada instante, registrar tudo o que acontece no universo para reprogramar tudo para o instante seguinte?

Isto merece uma reflexão bem demorada... Que computador seria esse, tendo que rever tudo a cada instante, para o instante seguinte em todo o universo?

Simplesmente não faz sentido. O futuro não pode estar traçado.


Tanto que não está, que se em vez de olharmos as pedras da calçada, estivéssemos olhando em frente, veríamos o garoto da bicicleta vindo em nossa direção e nos afastaríamos evitando o choque. O que não impediria o garoto de nos aparecer de repente, vindo por detrás, mas não será por isso que andaremos todos com espelhos retrovisores para nos cuidarmos do que nos vem pelas costas. Afinal, também poderia ser um vaso caindo de uma varanda de um prédio, ou um bueiro da Light ou da Ampla explodindo no solo...

Por isso, estar atento á vida é muito importante, desde que não nos impeça de viver ou nos limite esse prazer.

Não estive em Woodstock e por isso ninguém que foi se lembrará de mim. A maioria dos que estiveram lá, já não se lembram dos que por lá estiveram também. Quem foi, achará hoje que foi sozinho, ou com uma meia dúzia de amigos. Dizem que foi uma “congregação”. Mas que congregação foi essa que ninguém se lembra de quem esteve lá? O evento Woodstock existiu mesmo? 

E quanto ao computador que tudo prevê para nos recompensar ou castigar ainda neste planeta (muitos pensam que doenças são castigos de Deus), esse computador poderia ser um computador de Deus, ou ele mesmo? Será esse um seu passatempo, ou Deus não interfere em nossas vidas e entregou esse trabalho à Física Quântica, uma de suas leis, e às nossas opções de estarmos ou não atentos, de seguirmos ou não um determinado caminho, uma opção na vida ?

Rui Rodrigues

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