Visões modernas do socialismo no Brasil.
Comunismo e socialismo são duas filosofias políticas completamente diferentes, mas um fator as une: ambas eram políticas de “esquerda” pelo menos até o final do século XX, tornadas populares por sua defesa dos interesses dos cidadãos mais fracos ou desprotegidos da “sorte”.
Luis Carlos Prestes fez uma marcha pelo Brasil sem levar a nada. Impressionou bastante a sociedade, mas sempre ficou a dúvida: Porque razão fez a marcha pelo Brasil? Estaria fugindo das forças armadas legais, ou tentando adiantar a “grande marcha” de Mão Tse Tung? E o hino “internacional socialista” cantado por comunistas? Não podemos negar que há e sempre houve uma certa ‘identidade “entre comunistas e socialistas porque simplesmente representavam a oposição aos governos de direita e de extrema direita, além, é claro, da oposição ao demente Adolf Hitler, nazista, e Salazar e Francisco Franco, fascistas. Muitos ”heróis “apareceram na história do século XIX e XX, cercados de quadros bucólicos, músicas e bandeiras de exaltação ao comunismo e ao socialismo. O mundo inteiro chegou a acreditar que talvez a melhor opção para um mundo mais justo fosse ou o comunismo ou o socialismo. Eu era um desses.
Devo provocar risos se disser que um dos melhores socialistas que o Brasil já conheceu foi Getúlio Vargas, um ditador, mas Stalin foi muito mais ditador, e não podemos deixar de considerar os benefícios que este homem levou aos lares menos beneficiados do povo brasileiro, ao instituir as regras para o trabalho e a implantação da “carteira de trabalho”, além de outros benefícios como o estabelecimento do salário mínimo. Na verdade, há sempre uma vertente social na política por pior que seja um “governante”.
No inicio dos anos 60, a esquerda brasileira era eminentemente comunista, embora alguns se dissessem socialistas. A grande verdade é que queriam fazer uma revolução generalizada que acabasse de uma vez por todas com a inércia de manter no topo da pirâmide econômica e do poder, as mesmas famílias tradicionais, e sempre as mesmas dos políticos, a mesma forma colonial de governar o povo. Lembro que o que se discutia era como politizar o povo que não tinha instrução. Ora, na revolução de 1917 na Rússia o povo não era mais instruído do que em 1960 no Brasil. Nem na china quando se fez a revolução comunista. De meus tempos de Lisboa, ficou-me a constatação de alguns “comunistas” que eram loucos por dinheiro, tinham quintas e propriedades. Pensei que essa era a tendência: Ascender ao poder usando a filosofia política em moda, num rasgo de oportunismo. O mundo receoso pelas notícias de privação das liberdades não queria mudar, mas deliciava-se com as bandeiras, os hinos, as notícias do “ballet de bolshoi” e da cultura da URSS e da China... De repente, a China e a URSS tinham resolvido todos os seus problemas e agora eram cultos, todos tinham acesso à cultura e à instrução. Eu não podia acreditar nesse milagre. Havia decorrido muito pouco tempo para todo esse milagre, que muitos dizem ter-se repetido em Cuba.
Uma das mais fortes convicções socialistas e comunistas - há no Brasil uma ligeira confusão popular entre estes dois sistemas políticos que os unem num só – é a de que os fins justificam os meios, o que explicaria toda a prepotência de Stalin e de Mão tse Tung, o julgamento sumário por fantoches do governo que mandavam inocentes para o “paredão” tal como a igreja católica já os tinha mandando par a fogueira. Na verdade, apenas delírios do poder de quem manda. Uma embriaguês solitária, cavernosa e vampírica.
Sabe-se hoje que os grupos revolucionários no Brasil foram financiados pela China e pela Rússia, com pequena participação de dinheiro cubano porque Cuba era por sua vez ajudada pela URSS. Essas duas grandes nações sabiam perfeitamente que a revolução se faz junto às populações, com políticas de convencimento para engrossar as colunas dos insatisfeitos de forma a incluí-los na causa. Mas não se pode fazer isso com um povo satisfeito ou ignorante a ponto de não perceber as diferenças.
As notícias correm mais rapidamente entre grandes populações do que em populações isoladas campesinas, do interior do Brasil. A “operação Araguaia” era um centro de treinamento de guerrilha. Nas grandes cidades, guerrilheiros faziam assaltos a Bancos e raptavam pessoas “importantes” do cenário nacional e internacional. A impressão que se tinha na época, mesmo entre os simpatizantes do comunismo e do socialismo, era que os envolvidos eram “sonhadores”, com cabeça de vento, coisa da juventude e de “estudantes”. As barricadas de Paris eram ainda recentes e os franceses tinham mudado algumas coisas no ensino da França, o mais relevante deles o acesso a ambos os sexos às mesmas escolas e universidades. Até essa época até em Portugal havia escolas para meninos separadas das escolas para meninas. Era realmente um absurdo, coisas da falsa moral que queria preservar o hímen das mocinhas longe dos pretendentes ocasionais e “não qualificados” na assembléia familiar... Época em que os pais se julgavam “donos” dos filhos. O resultado disso foi exatamente o contrário. Um hímen hoje não vale nada no mercado nacional nem no mercado internacional, nem no mercado da prostituição.
Então, num trabalho de longos anos, Lula assumiu o poder no Brasil. Até alguns anos antes de sua posse, havia cerca de 50 nações assumidamente comunistas no mundo, mas criou-se um vácuo político depois da queda do muro de Berlim e da virada da URSS para a nova Rússia. Esta virada russa deu-se por falta de capital para financiar os seus “programs”. Um país comunista que deixa de o ser por falta de capital parece piada. O enorme vácuo do fim do comunismo na URSS e na China, e nesses 50 países, foi preenchido por Lula no Brasil: Por falta de um comunismo e de um socialismo que representasse o interesse dos trabalhadores, lá estava o papai Lula para defendê-los. Mas Lula não os defendia, porque negociava com o poder a tal ponto que os sindicatos perderam a força. A ascensão de Lula ao poder não é um mérito de Lula: É uma conseqüência do vácuo deixado pelos países comunistas que se foram voltando para o capitalismo. O mundo concluíra que era melhor sofrer falando num país capitalista onde haveria sempre oportunidades para mudar de vida e melhorar o salário, do que viver calado, preso na Sibéria ou fuzilado em paredes esburacadas por balas, trocando eternamente os seus cupons de racionamento para alimentação.
Mas então, ao ver as atitudes de Lula ao fim de quatro anos de governo, e as de sua sucessora Dilma, por ele indicada, comecei a lembrar-me daqueles comunistas que eu tinha conhecido em Portugal e que tinham quintas e propriedades. Lula hoje está rico, aliou-se ao Maluf, que já esteve preso por corrupção, e as CPIs transformam-se em mesas de pizzarias.
Realmente Lula chegou lá, como gritavam nas ruas os seus simpatizantes (Lula Lá) – eu era um deles e ajudava a abrir portas de lojas em Cubatão, à noite, com a aquiescência dos comerciantes, para que Lula efetuasse seus mini-comícios voltados para a sua eleição, em 1980 – Mas transformou-se no meu vilão.
Lula é um ser humano como outro qualquer, que não tem instrução, mas se cercou de antigos guerrilheiros, advogados, cientistas políticos, professores universitários, e que, com o seu dom de líder sindical, sabia falar ao “coração” dos seus ouvintes. Falar, chegando ao cérebro de seus ouvintes, foi impossível. Quem tem um mínimo de conhecimento sabe perfeitamente que Lula não trouxe nada de novo. O Brasil continua com os mesmos problemas ligeiramente aliviados com bolsas família doadas pelo governo.
Os governos de Lula e Dilma dão peixe, mas não ensinam a pescar. Eles são agora donos das frotas de”pesca”. O socialismo é hoje uma balela, e o capitalismo está mais selvagem do que nunca, duas enormes desgraças para esta linda nação.
Rui Rodrigues
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