O corpo, aquela coisa viva e andante, sorridente, com quem falávamos, que se vestia com roupas caras ou de chita, por vezes com cinto outras vezes com guita, tinha vida que se expressava pelo sorriso do rosto, o vibrar das sílabas e o arfar do peito expirando ar dos pulmões, pelas mãos suaves que me acariciavam. Corpos como o dela e o meu, tinham alma, diziam...
A cada morte havia gritos e prantos, desespero e indignação.
Depois veio a política que trouxe as guerras que aproximaram as famílias e os amores, e quando chegou a paz vieram os bandidos, os traficantes e começou a se depravar e a tombar tantos corpos, que um dia nos demos conta de que não poderia haver ódios nem falta de educação... A tal ponto que era como se nos tivéssemos tornado insensíveis, vendo o mundo ruir a nosso lado sem gritos, sem pranto, com desespero e indignação contidos porque isso irrita e deprime certas pessoas, a quem os crimes também afetam, mas que reclamam por palavras sussurrando paz e amor...
Onde e quando paz e amor por acaso venceu o crime, mormente aquele organizado, comandado de cadeias, uns na política educada, outros no crime da bala, porque bandido pode matar com bala gente desarmada... Ou dar facadas...
A impressão que se tem é que nem gente "educada" nem bandidos têm alma...
Veem morrer os corpos e o amor, de forma impávida e educada, pregando beijinhos e afagos. Está lá mais um corpo estendido no chão. E outro... E outro... O Brasil é uma plantação de corpos "sem alma".
Rui Rodrigues
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