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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Brasil de hoje - Uma opinião sem muita filosofia




Jogando com o mundo

O Brasil de hoje - Uma opinião sem muita filosofia

Nunca esperei que me dessem alguma coisa, mas sempre desejei que me dessem algo, porém desconfiando sempre de quem me oferecesse algo sem que eu tivesse demonstrado o correspondente desejo. Por isso vi passar o tempo da vida ao lado do meu tempo de vida. Caminhos paralelos, mas sempre que possível, independentes. Por isso nunca dependi muito dos outros. Vi no mundo erguer-se a cortina de ferro e a cortina de bambu, e vi quando se fecharam. Vi levantarem o muro de Berlim e vi quando foi derrubado. A guerra do Vietnam começou e acabou. Cuba fez uma revolução que dura até hoje  e implantou o comunismo, mas vi que dos sessenta países que se tornaram comunistas, restam dois ou três e não se tem a certeza do quanto são realmente comunistas. Alguns anos depois da revolução cubana e das barricadas de Paris, quando o mundo se deslumbrava com a férrea vontade da juventude de mudar o mundo, assisti a uma revolução no Brasil, esta montada para libertar o Brasil daqueles que também o queriam libertar. Vi que tanto os libertadores de um lado quanto do outro, tentavam pela força – e sem perguntar ao povo se queria ser libertado ou que tipo de liberdade queria – atingir os seus objetivos. Eram objetivos deles, certamente, como se a sociedade brasileira, perfeitamente capaz não pudesse ou não fosse digna de ter opinião. Diziam de ambos os lados que os fins justificavam os meios. Poucos anos depois assisti ao 25 de abril em Portugal: “Estava bonita a festa, pá”, mas José Saramago já pensava em largar Portugal e ir-se embora da Pátria madrasta. Tanto de um lado do Atlântico quanto do outro, alguns “sempre os mesmos” alçaram-se aos mais altos postos do poder e, sensivelmente não mudaram nada de essencial. Quando caiu o muro de Berlim, pensei que o comunismo tinha acabado, mas veria mais tarde que, já bastante deturpado e sem aquele aparato dos dias da guerra fria, ainda existia no ânimo de alguns a vontade de nivelar as sociedades até uma pretensa linha de igualdade em que não haja diferenças sociais. Esqueceram-se que nestes casos o nível de vida tem que cair de forma abrupta e que logo o dinheiro se troca por “influências”, como em cadeias ao redor do mundo: Sem dinheiro, onde todos os presos são “iguais”, uns têm mais influência do que outros e passam “melhor” a vida na prisão. Qual não foi a minha surpresa quando ao final de um processo que durou quase cem anos – de 1917, ano da revolução russa, até os dias atuais – constato que o mundo mudou para o que o ocidente desejava, o capitalismo, mas que, a exemplo do comunismo e do socialismo, não libertaram ninguém, e mantiveram as populações no desconforto multimilenar de se verem angustiadas porque lhes falta dinheiro, empregos, saúde publica, segurança, ensino adequado, bons salários, razoáveis aposentadorias, infra-estruturas, mas, sobretudo dinheiro, por causa de estratosféricas porcentagens de juros sobre o capital, impostos sobre os ganhos, e em muitos países por filosofias religiosas que diferenciam de forma abismal a vida das mulheres da vida dos homens. Surgira o neoliberalismo econômico, a primavera árabe, o FMI, a crise de 2008.

E voltamos ao começo, à necessidade de mudar o mundo. O arrocho está muito grande, insuportável. Há riscos de revoluções populares, instabilidade política de Portugal à China, do Canadá á Argentina. Do Egito à África do Sul. Nossa humanidade é como um bando de crianças que acreditam em Papai Noel, em duendes, que no final do arco-íris há um pote cheio de ouro que não é guardado por exércitos bem armados, mas por inocentes, bobos e avaros duendes.

Desde os tempos da ditadura de Vargas que o Brasil vem desenvolvendo a sua industria, melhorando as leis, e para quem vê do lado de dentro e do lado de fora, está tudo arrumadinho, somos a quinta economia do mundo, tudo no seu lugar, exceto quando se sobem morros e se visitam cidades do interior, quando vamos na periferia das cidades e vemos esgotos a céu aberto, ou quando enfrentamos filas da saúde pública onde gente se amontoa pelos corredores, faltam remédios, morre gente na fila por falta de atendimento, transportes públicos antigos, decadentes, perigosos, polícia sem recursos e que não pode conter a contravenção nem os crimes, reservas florestais invadidas sem recursos para conter as invasões.  E medito sobre o que foi feito, com tantos trilhões recolhidos em impostos, ano após ano.  Não há como entender o fato de sermos a quinta ou sexta economia do mundo... Nem a Venezuela como o país de maior equilíbrio social, Cuba onde tudo são “maravilhas” desde a educação à saúde, ao esporte. Fico com a impressão de que tem alguém mentido, ou todos estão mentindo. Não posso entender a pasmaceira Argentina em torno da bela Cristina Kirshner, que controla saques em Bancos, países visitados por seus cidadãos, uma economia decrescente, visões delirantes de ingerência inglesa nas Malvinas. A América latina e estes paises não terão sucesso onde URSS e China falharam porque o mundo mudou, as sociedades mudaram, os anos 60 e seus ideais acabaram.

Vi ministros milagrosos da economia dizerem aos quatros ventos que o Brasil ia muito bem, como Delfim Neto, Roberto Campos, Funaro, Mantega, mas sempre com muitas dores de “crescimento”: Se num faltou mercadorias nos supermercados, noutro a inflação foi galopante na casa dos três dígitos, no outro confiscaram a poupança pública, no outro subiram os juros tão altos que 40% da população está inadimplente ou nos Bancos, ou na vida. Num governo em particular reduziram os salários ou impediram que fossem reajustados como sacrifício para o crescimento do Brasil. O Brasil cresceu, as crianças cresceram, mas come-se menos para economizar, os aposentados ajudam os filhos, os filhos ajudam os aposentados, quem não tem ajuda assalta, a China ainda vende barato, mas os comerciantes vendem como se comprassem quase caro. O Brasil vende as suas terras em forma de minérios, mas continua sem expressão de prêmios Nobel, de produtos manufaturados de alta tecnologia própria, e depende de pagar royalties para fabricar dentro das próprias fronteiras. Recentes fiascos de corrupção a nível de Congresso seriam motivos para reflexão e movimentos populares, mas sofre-se em casa, reclama-se nas redes da Internet e não passa disso: O povo está inebriado, anestesiado com o ”partidarismo fiel” como gambá que acabou de chupar o sangue do pescoço de uma galinha gorda. A propaganda do governo continua fazendo o seu papel, através de reportagens onde se usam palavras como ‘otimismo “, ‘desenvolvimento” e se dão notícias de pouca expressão que não causem impactos negativos sobre o moral da população. Medidas Provisórias a titulo de nada, restringem a transparência governamental para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos onde se investem trilhões de reais quando o pressuposto era de alguns bilhões. Com um mundo em recessão, incentiva-se a gastar, a aumentar produções e safras. Depois os produtores choram a perda dos investimentos por falta de mercado devido à recessão . Informaram que a nação estava cheia de vagas de trabalho, mas logo informaram que o nível nacional era baixo, calando qualquer reclamação de falta de empregos por sentimento de culpa, como se a culpa fosse do cidadão candidato a uma vaga de trabalho. Nunca a mídia teve papel tão importante na história da humanidade para solapar as reivindicações cidadãs. O Tsunami da crise de 2008 ainda não chegou ao Brasil e não há país algum aonde ela já chegou que possa afirmar que esteja controlada. O Brasil verá nos próximos anos o preço amargo da corrupção.

Na Grécia, Espanha, França, Portugal, e em todos os países da Europa há movimentos nas ruas, mas não têm nem meta nem rumo[1]. Sabem porque reclamam, mas não têm uma meta para dizer: Queremos esta filosofia de governo, porque todas as que conhecem já falharam.

Num mundo que parece sofrer de apatia cidadã, fico preocupado com os “rompantes” da humanidade, quando suporta tudo o que pode suportar dos governos e de repente, estoura como vulcão, inundando o mundo de artefatos bélicos, sangue pelas ruas, assim como acontece a quem vai ao baile na carruagem de abóbora e quando dá meia noite repara que está pobre, com roupas sujas e resolve, horrorizado, mudar a vida.

Rui Rodrigues


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