A princesa Maya e os duendes Gorubos .
Os duendes gorubos viviam na
terceira gaveta do terceiro armário da terceira sala do terceiro prédio da
terceira transversal da terceira rua depois da casa da princesa Maya. Era lá
que ficava a creche aonde ela ia todo o dia da semana - menos sábado e domingo
– para se encontrar com seus irmãos de creche.
Os gorubos eram
pequenininhos e só apareciam quando queriam. Eram muito brincalhões e usavam
uns chapéus verdes, pontudos, e tinham orelhas muito grandes. Todo dia quando
as tias não estavam na sala de aula os gorubos saiam das gavetas e gritavam:
- Pocupagaruba...
Pocupagaruba!
E a as crianças começavam a
fazer bagunça. Não ouviam nada, mas os gorubos tinham o poder de se comunicar
com as crianças dizendo aquelas palavras mágicas. Às vezes a bagunça era muito
grande, e a tia entrava na sala dizendo:
- Ai, ai, ai... Que é que
houve aqui? Parece que passou um furacão... Comportem-se e toca a arrumar
tudo... Quem começou esta bagunça?
E as crianças olhavam sempre
umas para as outras, sem saber quem tinha começado. Elas nem conheciam os
gorubos. Nunca os tinham visto. Não sabiam que eram os gorubos. Mas cada uma das
crianças sabia que todas eram muito bem comportadas e que alguma coisa as tinha
levado a fazer aquela bagunça toda. Todas reconheciam que a sala estava
bagunçada, tudo fora do lugar. Então elas fizeram uma reunião para tentar descobrir
o que as fizera mudar de comportamento.
Armaram um esquema: quando a
tia saísse da sala, ficariam quietas, e cada criança procuraria num lugar para
ver se viam alguma coisa. Procuraram no saco de brinquedos, abriram todas as
gavetas, mas nada. Quando olharam à volta, estava tudo desarrumado. Claro!
Tinham mexido em tudo e tinha que estar desarrumado. Então arrumaram tudo outra
vez e ficaram quietas esperando a tia. Quando viu tudo arrumado a tia disse:
- Olha só...Que lindo.. Tudo arrumado.. Vou dar-lhes um presente. Vamos fazer uma festa ! Vocês querem?
Ouviu-se uma algazarra, as crianças gritando, ao mesmo tempo, que queriam, perguntando se tinha bolo, bolo de quê, quantos pedaços para cada uma, se tinha refrigerante e qual era.
Enquanto comia um pedaço de
bolo de chocolate, a princesa Maya disse para a tia:
- Sabe, tia, nós não sabemos
porque bagunçamos a sala quando a senhora sai da sala, mas estamos pensando que
pode ser alguma coisa que nos faz fazer isso, mas só faz isso conosco, porque
quando a tia está, não há bagunça.
- E o que você acha que é? –
Perguntou a tia.
-Não sei! Respondeu a
princesa Maya, mas vamos descobrir.
Muitos dias se passaram, com
as crianças cuidando da sala para ver se viam alguma coisa que as fizesse fazer
bagunça, mas não descobriram nada, até que certo dia...
Foi depois de um trabalho
que tiveram que fazer em grupo, depois do recreio, e que a tia tinha passado
para fazerem. Ficaram ainda mais cansadas e a tia lhes perguntou se queriam dormir
um pouco para descansar. E as crianças se deitaram, e se prepararam para
dormir, mas a princesa Maya lembrou-se de continuar a procurar o que é que
fazia as crianças fazerem bagunça. E ficou atenta entre um cochilo e outro.
Ficou com os olhos quase fechados, olhando à volta, escutando tudo, até
mosquito voando ao longe. De repente, olhou para um raio de luz que passava por
debaixo da fresta da janela. Havia algo estranho no raio de luz. Ele tremia e
os raios de luz não tremem. Passam retos, sempre na mesma direção. Concentrou o
olhar, levantou-se devagarzinho e foi olhar. Mas ao tocar no raio de luz, sem
querer, ficou pequenininha de repente, e então levou um tremendo susto ao ouvir
uma grande gargalhada.
Na frente dela estava um ser
enorme que a olhava com curiosidade, Tinha um chapéu verde, pontudo, e as
orelhas muito grandes.
- Quem é você? – perguntou
séria a princesa Maya, logo que o susto passou.
- Eu sou um gorubo. Vivo
aqui com meus irmãos e irmãs e viajamos a uma velocidade muito grande, á
velocidade da luz, que é o que se move à maior velocidade no Universo...
Universo é esse espaço imenso onde vivem todas as estrelas e planetas. Agora
estamos neste seu planeta, que é a Terra. Como se chama?- perguntou o gorubo.
- Chamo princesa Maya, tenho
três anos, olha – e mostrou três dedinhos para o gorubo - e sei contar até um
dois três quarenta cem. Em inglês também! Conhece minha mãe?
- Conheço – disse o gorubo.
E continuou... Como vivemos em raios de luz que correm todo o universo, e
iluminam tudo quando se encostam nas pessoas e nas coisas, conhecemos tudo e
todos do Universo. Estamos presos nesta gaveta porque há poucos raios de luz. E
este raio de luz que agora está batendo em nós é muito pequeno para podermos
sair daqui...
- São vocês que nos fazem
fazer essa bagunça toda quando a tia não está na sala?
O gorubo foi apanhado de
surpresa. Não contava com aquela pergunta... E respondeu: - É... É... Quando
estamos tristes, na escuridão da gaveta, gritamos - Pocupagaruba...
Pocupagaruba! Para nos alegrarmos...
(Ao pronunciar as palavras,
os outros gorubos acordaram e começaram a gritar - Pocupagaruba...
Pocupagaruba! As crianças da creche acordaram e começaram a fazer bagunça. Não
viram a princesa Maya e começaram a chamar a tia)
Entretanto, um dos gorubos
perguntou para aquele que estava falando com a princesa Maya, o gorubão: - É
esta princesa que nos vai tirar da gaveta? E o gorubo chefe disse: Não sei, mas
ela pode.
- Eu acho que posso, disse a
princesa Maya, mas primeiro tenho que voltar a ser grande. Como faço?
-Isso é simples... Disse o
gorubão, basta sair deste raio de luz.
A princesa Maya então se
afastou do raio de luz e logo começou a crescer rapidamente. Com a mão, abriu
um pouco a janela e a sala foi inundada pela luz. A princesa Maya ainda pôde
ver os gorubos sendo levados muito velozmente pelos raios de luz a caminho do
Universo ou de outra creche. Diziam adeus à princesa Maya, agradecidos e
felizes.
Quando os amiguinhos da
princesa Maya a viram, disseram:
- Olha... Olha... A princesa
Maya está aqui... Onde estava você, que ninguém viu?
E a princesa Maya disse:
- Eu estava num raio de luz
salvando os gorubos da escuridão da gaveta, mas acho que vocês não vão
acreditar...
(E contou para eles e para a
tia que estava chegando toda preocupada, o que lhe acontecera... Mas parece que
não acreditaram)
Rui Rodrigues
(É bom nunca parar de
sonhar. São sempre os sonhos que se transformam em realidades, jamais as
realidades em sonhos...)
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