Nonsense - ou sem senso, sem noção - costuma distrair, relaxar, lê-se e aprecia-se sem compromisso seja com o que for, embora possa soltar uns lampejos sobre assuntos mais ou menos sem a mínima importância, tendo ou não certa ou incerta substância.
Bem longe, mas não tanto que bala de canhão não pudesse alcançar, assim houvesse um, poderiam ver-se os traseiros, a que chamam popa, de um barco desses que navegam e jamais afundam se quem os enxergasse tivesse tão potente binóculo, telescópio ou luneta. Ou então olhos de falcão, que mal comparando com os de águia nada há de melhor neste planeta. Na proa, no lugar de bandeira, dois lenços brancos adejantes, dizendo adeus ao que ficou para trás, nada como dantes, agora no mar sem ladrões nem meliantes mesmo daqueles, ou daquelas, que se julgam os melhores amantes e tomam pílulas para dormir, como quem se suicida, pra impressionar o financiador de sua vida. Como aquela do caramanchão, baforada sim, baforada não, de amantes ali à mão, como sempre foi desde que ia para o rio, a cavalo, e transava com qualquer um.
O falcão olhou para o caramanchão, viu as névoas de fumaça de cachimbinho fumegante, de gente antes galante, agora apenas aconchegante e viu com aqueles olhos de penetrar em gretas de alma, o que se esconde com a simpatia e os abrir de pernas, e alçou voo. Subiu embalado pelas correntes quentes ascendentes até que esfriassem e começassem a descender, quando viu ao longe os costados de um barco que produzia uma esteira de espuma onde as sereias se vinham banhar.
No convés o comandante dobrou o braço direito e o colocou num plano horizontal paralelo ao piso. Então o falcão que come ratos distraídos, que consegue ver as profundezas da alma e a superficialidade do que dizem as rugas faciais, desceu entre panos de velas, desviou-se de cabos e roldanas, ignorou o ranger dos estais, e foi pousar no braço do comandante. As sereias têm duas pernas disfarçadas de caudas. Quem ensina a olhar a profundidade das almas é a natureza do falcão.
Rui Rodrigues
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