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sábado, 21 de outubro de 2017

Crônicas d' El Rei, sobre o cinto de castidade

Da moral e dos costumes quando a moralidade não é costumeira e os costumes são amorais ou imorais. 


(Do livro das Cantilenas de amor de El-Rei Sorumbático Tronchudo, do Reino de Curral dos Eunucos Capados) 


Imagem relacionada- Dizei-me meu Rei, que alvíssaras me daríeis se por bem vos dissesse quem é o arrombador de cintos de castidade que assola os bons costumes deste reino e deixa os corações das donzelas em polvorosa por um sabonete ???
- Por Deus que te mando cortar o pescoço, menestrel insolente. Acaso insinuais que minha polícia de punhaleiros é ineficaz e não me informou quem seja ???
- Perdão, mil vezes perdão, vossa Majestade me perdoe que jamais desejaria dizer tal coisa....
- Então dizei-me célere como raio que caia mais rápido sobre a verdade do que minha espada veloz feita do melhor aço de Toledo com o ferro roubado das Minas de Samarcava
- Pois vossa majestade me perdoe mais uma vez, posto que o sabonete, vil desejo de consumo das donzelas, se deve ao fato de se, por eventual desgraça vierem a ter seus cintos de castidade arrombados, que pelo menos fiquem cheirosas e não com o cheiro de bedum de múmias egípcias por se encontrar vedado o caminho da limpeza por tão vil instrumento de preservação do controle da natalidade...
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- Mas de que controle de natalidade falais vós, menestrel???
- De forma tal que se garanta que o pai seja sempre o dono do cinto de castidade. 
- Ah ... Bom... Bom Menestrel. Isso explica o desejo do sabonete, e a paternidade, mas elas ficam sujas de propósito para provocar repulsa mesmo, e afastar os indesejados. Principalmente os velhinhos da Corte e as beatas de sacristia ainda jovens e fogosas, que têm os lábios da vagina assanhados, batendo um contra o outro, rezando para conhecer um bom chaveiro discreto e fiel que em  troca de uma ou duas penetrações as deixem livres dessas geringonças torturantes. Escute, meu bom menestrel... Só tenho estas conversas com vossa mercê, por atrair com vossos cantares as mais belas mulheres do reino a meu castelo. Caso contrário já estaríeis cantando pra Belzebu no inferno, e sem cabeça, vagando entre labaredas... Mas  dizei-me que estou muito curioso, quem seria o arrombador de cintos de castidade do meu Reino...
Imagem relacionada- Com o maior prazer vos contarei, mas não  estaria Vossa Alteza se esquecendo de alvíssaras, ou estará ???
- Não...Não..Contai-me tudo, não me  escondeis nada.
- Então, Alteza... Eu soube pelo abade do Condado vizinho ao vosso, o de Traquitanas, para quem escrevo "cantares de amigo" em festas que ocultamente leva em sua casa em outro condado daqui distante onde o conhecem como nobre e valente cavaleiro das damas  desamparadas. Como confessor, as damas o  informaram de chaveiros que fazem sempre duas cópias a mais de cada cinto de castidade, e que guardam para o caso de o dono do cinto e da mulher perderem a sua, e para venderem uma cópia para as donzelas e mulheres que estejam dispostas a comprar uma. 
- Então meu reino está podre... Moralmente podre... Poucas devem ser as virgens e as prendadas e do lar.
- Alteza... Perdão, majestade, mas  ouso dizer que vosso, nosso reino, é de bastardos e alegres bastardinhos e bastardinhas, mas feliz, porque as mulheres vivem felizes e o que os olhos cegos não enxergam, os corações não sentem. 
- E como eu, Rei, não sei de nada que se passa no Reino ??? 
- Perdão majestade, seja benevolente com este vosso pobre servo menestrel, que faz cantares de tantos andares neste mundo, mas Reis nunca sabem de nada, nunca se lembram de nada. Se soubessem não seriam reis. 
- Que provas posso ter do que acabais de me contar, menestrel ??? 
- E que alvíssaras me daríeis, alteza???
- Dou-te um dote anual de boas verbas públicas, tilintantes e sonantes, a título cultural, nada de chaparia, mas puro vil metal, uma casa com tudo montado a teu prazer, e até 3 virgens que escolhas de meu reino para te servir. 
- É pouco... Tereis, majestade, que deixar  isso por escrito com uma condição especial que não serei preso nem sentenciado a  qualquer pena nos próximos cinquenta anos.
- Feito! Tendes a minha palavra por escrito em papiro sem rasuras nem interrupções pra não dizerem que foi copicola, a nova mania do reino.Resultado de imagem para sexo na idade média
- Então dizei-me logo, apressuradamente e sem rodeios, de forma  cristalina e clara quem se atreve a rasgar as leis deste meu Reino.
- Pergunte a vossos pares do Reino, majestade, que sentam em vossa mesa quadrada, depois de terem tomado uns bons litros de vinho carrascão batizado com aguardente de grainha de uva trincadeira, onde satisfazem seus desejos, se no Reino os prostíbulos são proibidos e cada penetração pode significar a morte pela sífilis ou outra doença qualquer que tal como lepra faz a linguiça sexual pendurucalha apodrecer e as vaginas se desfazerem em pus.
- Poupe-me dessas imagens arrepiantes, meu caro menestrel e dizei-me a quem devo perguntar se vós não sabeis da história amém. 
-Meu bom e inocente rei... Conheceis o vosso torneiro mecânico, a quem lhe falta um dedo ??? 
- Sim.. O que tem ele ??? 
- Ele diz que não sabe mas leva uma comissão em todas os cintos de castidade, todos os sabonetes, e tem uma rede que faz parte de seus "inimigos" só pra despistar. Foi ensinado e formado na escola de um cão sarnento famoso no reino há décadas decadentes. Até diplomas de engenharia de mecanismos de fechaduras ele arranja.

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- E quem são os comparsas dele ???
- Estão todos espalhados por aí. O vosso primeiro ministro, todos eles ganham com a indústria dos cintos de castidade, acessórios, propaganda... Mas sempre tem  gente inocente que conta tudo aos abades, como as ratas de sacristia que não largam a batina dos padres mais moçoilos. Alguns cantam salmos de louvor.
-Sim..Sim... Já percebi...Mas quem é o  cabeça ???
- Marechalla, a Rainha sabe... 
- Aqui entre nós majestade... Com a vossa idade... Essas mãozinhas irrequietas de fada, esse andar empertigado... E muito ausente... Só pensa em reunião com seus ministros, maletas, baús, e não percebe o que se passa em casa... A rainha sabe...

- Não... Não... Não... 
- Ah sim.. sim... sim... 
- Eu não vos assinei o acordo..
- E eu ainda não vos disse quem é o arrombador dos cintos de castidade... 
- No próximo capítulo...
Resultado de imagem para ratas de sacristia idade média- Então no próximo capítulo...
- Dê-me uma pista pelo menos...
- Tem bigode!

(Fecha o pano do teatro, as atrizes de corpo quase nu usam grampos de cabelo para abrir seus cintos de castidade e desde padeiros a  noivos casamenteiros, amantes corriqueiros, almocreves de almotolias sedas e couros de todas as  partes do reino, iam um a um  satisfazendo as belas donzelas que pariam em pé como era costume. O rei tinha direito sempre a ser o primeiro em seu reino na primeira noite de núpcias mas não reconhecia a paternidade.

O sexo sempre moveu o mundo. Não a religião nem a  moral dos costumes e muito menos as leis.   

Rui Rodrigues

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