Céu nublado, nuvens, mas sem chuva, e pensei em orar a Tlaloc, esgotadas que estavam minhas preces a Odin, Jesus Cristo, Mafamede, Buda que nem são deste continente, Vishnu que é do mesmo continente de Buda, Hórus e Netuno já aposentados, Manitu e a um balaio cheio de antigos e modernos deuses e profetas... Chuva de água nem gota, nem de orvalho matinal, e acabo de lembrar que os profetas sumiram do mundo. Aposentaram-se!
Tlaloc foi um deus Maya, América do Sul, que se aposentou por falta de fiéis. Eles, os Incas e os Aztecas herdaram dos Olmecas e Toltecas o mesmo Deus Sol e deuses menores todos sedentos de sangue. Tlaloc exigia sangue humano em troca de chuva. De uma assentada só, foram mais de 20.000 cidadãos por que ele não sabia do efeito "El niño" que causa secas. Os sacerdotes ficavam com as casas e bens dos sacrificados. Um dia, quando as populações começaram a diminuir drasticamente, os que sobraram as abandonaram. Devem ter matado os sacerdotes.
Para poderem ver como era a aparência dos deuses, os sacerdotes tomavam uma bebida fermentada de milho, a chicha, e o peyote da fermentação de um cactus. Índios da Amazônia lhes traziam sapos, vesículas de baiacu e curare que os faziam ter alucinações e "ver" os deuses. Eu tenho ojeriza a drogas. Uma vez fumei maconha, fui tomado de uma ansiedade que o que eu queria era sair de casa, ir pra bem longe. Por sorte estava acompanhado. Mas antes disso tive um furúnculo que tinha de ser "esgravatado" com uma colher e eu deveria ser anestesiado. Que nada!... Mandei fazer a sangue frio... Doeu um pouco mas pensei: C'os diabos! Ninguém está me matando. Isto vai passar em menos de um minuto. Foi batata! Quem me foi levar no Hospital foi um estagiário que já morreu, atropelado por um caminhão que descia na benguela na Rio Teresópolis, enquanto ele trocava um pneu. Era paraguaio. Um dia me lembrarei do nome dele. Esgravataram rápido mesmo. Mas os sacerdotes e sacerdotisas gregas tomavam ephedrina ou mandrágora, inalavam gases tóxicos de fontes termais, como na ilha de Delphos, os egípcios usavam a papoula e o cânhamo, bem como a flor de Lótus. Os apóstolos entornavam umas boas garrafas de vinho. Não bebiam a popular cerveja, não! E era do tinto, porque naquela época o vinho branco era coisa de mulher... Mas não deixa de ser interessante como Jesus lhes dissera aos apóstolos para tomarem vinho como se fosse seu sangue em sacrifício e comessem pão como se fosse seu corpo, sendo que Tlaloc a milhares de km de distância nem exigia tanto, porque só queria o sangue. Estranhas religiões que exigem sacrifícios ainda que velados, escondidos, gerando sentimentos que quase obrigam a se submeter de boa fé...
Resolvi portanto tomar umas doses de cachaça e uma garrafa de vinho para ver os tão falados "deuses". Poderia até ser o tal Tlaloc porque o que eu queria mesmo era chuva. Queria ver se ele tinha coragem de me pedir sacrifício humano, espicaçar meu pênis para sair sangue, ou furar minhas orelhas e deixar pingar dias a fio, como os sacerdotes Mayas e Incas e Aztecas exigiam até de chefes Incas para os dominar. Uma garrafa de 0,75 e duas gordas doses de cachaça foram suficientes para me deixar em transe... Pra ficar melhor, fechei portas e janelas, apaguei as luzes, acendi uma boca de fogão pra ter o "sol" como testemunha. Acendi uns incensos baratos importados da China. Uma boca de fogão imita direitinho o Sol assim como a hóstia imita a carne de Jesus. Deveriam ser vermelhas. Sinceramente, longe de mim beber o sangue e comer a carne de alguém, mesmo que fosse de mentirinha, mas quando eu era criança ainda comunguei e comi hóstias (mas só o sacerdote bebia o vinho porque era muito caro e não dava pra todos os fiéis) e quando percebi que era um sacrilégio para com o Pai dele, pedi perdão ao Pai e deixei de comer o filho... Ainda mais quando percebi que por questões de economia o padre da freguesia mandou diminuir a espessura e o diâmetro das hóstias.
E vi um panteão de deuses com estes olhos que a terra não há-de comer porque pretendo ser cremado com gás de bujão... Um bujão chega porque não sou tão gordo nem tão alto como o Golias, aquele que levou com uma pedrada na testa, bem mandada pelo David, aquele de pau pequeno que o Michelangelo esculpiu em mármore de Carrara, coisa fina de se ver.
Toutatis que era francês e Celta, disse-me:
- Olha meu filho... Se eu no meu tempo servisse um vinho desses, ia sentir a maior vergonha do mundo. E essa cachaça parece mais com mijo de lula. O povo da floresta dos Carnutes ia me xingar até a ultima geração se lhes servisse uma coisa horrorosa dessas ... "Ce vin est fait avec un marteau. Il est martelée", que traduzido significa "vinho feito a martelo". E foi-se embora não sei pra onde.
Então apareceu uma perna de um deus. Sabia que era de um deus porque era de mulher, grega, muito bem feita, aquele vestido de seda subindo a barra pela perna, eu ia ficando doido... Ela me disse:
- Eu sou Ártemis, deusa grega... Para os amigos, sou Têtê, da Ilha de Delfos! Conhece o Alexandre o Grande, o que conquistou o mundo todo depois de matar o pai???? (Eu aquiesci com a cabeça e ela continuou subindo cada vez mais a barra do vestido). Quando eu soube que ele ia consultar a pitonisa antes de iniciar as conquistas dele, eu fiquei no lugar dela e me fiz de doidona. Pois olha... Ele conquistou nada. Foram os generais dele a quem dava territórios, jóias, títulos. Ele não gostava de mulheres. Gostava de generais e moçoilos. Ele saiu do Templo de Delphos rindo e sabia porquê!... Devia ser chamado de "Alexandre o minúsculo". Disse-lhe e ameacei-o. Pedi-lhe um território em troca, em Atenas, pra ficar calada. Ele mandou matar a pitonisa, mas claro, nunca foi encontrada. (A barra da saia já estava pela cintura... Me chamou: - Vem cá, vem!!!
(Não fui. Mania de deuses transarem com terrestres fugidos do paraíso. Quase todos transaram com terrestres. Não queria meus genes metidos nisso)
- Olá! Sou o deus Éolo. O dos ventos e da Rosa. Sopro quando quero encapelar os mares, afundar navios, levantar as saias das meninas, jogar areia nos olhos de praianos, mas pra limpar os céus, uso vassoura.
- (Eu respondi-lhe)- Mas os céus estão sempre limpos... Sempre dizemos que deuses estão no céu...
- Que nada, menino!... Então e as nuvens? Acaso não pensas que se eu soprar as nuvens para um lado, chegam outras de outro lado? Nuvens devem ser cuidadosamente varridas para que não sobre nenhuma sobre o azul imaculado.
- Tá!... Mas os deuses estão no céu, não estão????
- Quéqué isso, menino!!! Imagina... Deuses também respiram e sentem frio, senão não seriam feitos à imagem dos homens... Aquilo lá em cima só com traje espacial e olhe lá ... Sabe aqueles que disseram que viram subir aos céus? Alguém bebeu muito goró ou cheirou algum gás de vulcão pra ver uma coisa dessas,que nem morto ressuscitar, ver a virgem em Fátima... Levou-me a pé até a base do Everest e começamos a subir... A cada 100 metros ficava mais frio e havia menos oxigênio... Em meia hora chegou a ambulância. Eu estava azul!
Apareceu mais um: Tlaloc, da América central... Veio todo emplumado. Bufava. Disse-me: Não brinco mais de ser deus da chuva. Fiz um estágio em Bangladesh, aquilo fica alagado, entra peixe dentro de casa junto com fezes, morre gente sem ser sacrificada. Ninguém quer ser sacrificado. Nem vacas comem. Em lugar nenhum do mundo fazem sacrifícios de humanos, mas fazem sacrifícios com todos os humanos. Os impostos muito altos tornam a vida deles um inferno todos os dias, pior ainda quando não há retorno em conforto público. Morre gente, muita gente por isso. Gente que é sacrificada por outra gente. Tchau... Me aposentei quando um sujeito atarracado, barbudo, ambicioso como ele só, falando tudo errado, enganou o mundo inteirinho dizendo mentiras atrás de mentiras e a última, que era o sujeito mais honesto do mundo, julgando-se candidato a Deus!... Estou preocupado porque ninguém o prende com medo dos poderes que tem. Deuses como antigamente, nunca mais.
Rui Rodrigues