(Conto erótico, do Bar do Chopp Grátis,
contado por um cachorro)
De mundo
cão já ouvimos falar e de cadelas também. Mas cadelas são as fêmeas dos cães, e
se sabemos que cães transam até uns com os outros, o que dizer das cadelas, que
nem transam umas com as outras? Mas chamar uma mulher de cadela é demais. Não
existe nenhum ser humano melhor do que uma mulher. Pelo menos para mim. Sou
tarado por elas, por um motivo simples: Tornam tudo mais fácil, dão-nos prazer
e quando começam a competir conosco, dividimos os bens, mas não permitimos que
continuem a nos dividir a vida em pedacinhos. É simples assim. De outro modo é
complicado!
Aí ouvi o
cara chamar a mulher de cadela, quando estava - ela- fazendo pole no meio da rua! Uma violência! Fui até o cara e dei-lhe um par
de sopapos, tabefes ou que raios fossem aqueles tapas que lhe dei. Apanhei em
dobro da mulher, a tal da “cadela”, que avançou sobre mim como uma loba que
defendesse os filhotes e até me mordeu na orelha esquerda com a boca cheia de
dentes. O policial salvou-me da raiva dos dois. Dela e do cara. Regra número um para defendermos o próximo, no caso a próxima, é saber
antecipadamente se a próxima precisa de ou quer ajuda. Se disser que algumas
mulheres gostam de certos “maus tratos” ainda que verbais, as outras me atacam
e me batem. Mas para você que é novato nestas coisas de “amar a próxima”, tenha
muito cuidado. Assista primeiro ao filme ou leia o livro “50 tons de cinza”, ou
melhor “50 tons do Grey” – Grey é cinza e Grey é o nome do “dominador” do filme
– para entender o que estou dizendo. Juca Chaves dizia nos idos dos anos 70:
“Mulher tem que ser uma dama na sociedade e uma puta na cama”. Ele estava
certo. Um sujeito decente trata a mulher como uma dama e vem o “Robertão” e a
trata como uma puta. Aí o bicho pega porque o bom da fita passa a ser o
Robertão por quem a mulher tara. Solução? Fora de casa você tem que ser o
Robertão. Quando a mulher descobrir, divida os bens e saia de casa. Mau
conselho este? Então siga outro melhor.
Um dia a
tal mulher cruzou comigo no caminho, lá no centro da cidade do Rio.
Reconheceu-me e se aproximou. Eu já me protegi com as mãos em volta do rosto.
Percebi que não era uma boa estratégia e peguei o celular para discar 190, mas
parei um instante para ouvi-la. Ela estava tentando falar comigo.
-Me
desculpe daquele dia – disse ela com um sorriso – Só depois que reconheci meu
erro, mas você saiu correndo e não tive tempo de lhe agradecer. Aquele cara que
me chamou de cadela era meu marido. Ele chegou a achar que você era meu amante.
Olhei a
mulher de alto a baixo. Não era grosseira. Tinha um pouco de classe, tinha seus
quarenta e poucos anos, bem vestida sem exageros, a pele diáfana bem tratada,
cheirava muito bem, preencheria muito bem uma cama que sem ela não teria o
menor uso para mim. Quase não durmo. Sim... O que mais interessa, tinha olhos verdes,
uma bundinha um pouco cheia e arrebitada, peitos fartos sem exagero, uma
cinturinha de filão como cantaria o Luiz Gonzaga pai ao som de sacolejante
acordeão. Ela estendeu-me a mão.
Saímos pela
rua caminhando a esmo porque perdi a noção de meu rumo. Lembro que ia para a
Candelária e de repente estava caminhando para a Sete de Setembro viajando numa
imaginária cama onde eu e ela estávamos confortavelmente agarrados,
completamente nus, nos beijando adoidadamente. Contou-me tudo o que eu não queria saber
porque não tinha a mínima importância, nem eu ouvia realmente, e não me disse
nada daquilo que mais me interessava. E continuamos conversando sobre assuntos
que nem me lembro, porque minha cabeça rodava, ainda que não tivesse tomado o
mínimo pingo de álcool. Aliás, tenho que mandar um e-mail ao Lula avisando que
a 51- Ouro, tem o mesmo sabor da 51-comum, e que a cor deve ser “artificial”,
para agregar custo ao produto. Se quiser fazer 51-Ouro em casa, muito mais
barata, junte à cachaça normal umas gotas de café ou desses sabores artificiais
que tenham cor marrom. Stalin também tomava uns copos fenomenais. Morreu porque
os médicos não quiseram interferir em sua doença com medo dele se salvar e por
qualquer errinho os mandar para o paredão ou enforcar.
Ao
passarmos por um hotel, desses para executivos, ela olhou para a tabuleta que
balançava ao vento, e olhou para mim. Aí convidei discretamente:
- Quer
entrar para descansar um pouco da caminhada?
Ela sorriu
e abanou afirmativamente os cabelos que emolduravam os olhos verdes. Foi o que
eu vi e mais me chamou a atenção. Quase não escutei quando ela me disse: - Você deve dizer isso para todas...E também não vou contar o que aconteceu no Hotel,
porque seria muito sórdido. Mas lembro perfeitamente dela, da cama, do quarto e
daquelas frases que nos fazem ir aos céus: - Assim, até o talo... Mais...
Mais... Mais... Ai... Ai... Quero mais... Ó deus... Vem... Vem... Nada
comparado com o “estou-me a vir” que se deve dizer em Lisboa quando se está
gozando.
Aí que
entendi a história toda daquele momento em que a vi pela primeira vez, quando
ela me disse:
- Seu
cachorro... Quero ser sua cadela... Vem... Assim... Vem por trás...Ela deveria
dizer isso para todos.
Cinqüenta tons de bege são muito melhores que 50 tons de
cinza porque destes últimos nunca provei. Não sou dominador. Já o Grey deve
saber como é. Ou a autora do livro. Como o motel não tinha elevador, não foi
possível dizer-lhe Hanna! Enquanto ela me chamava pelo nome, sem sabermos se
nos voltaríamos a ver ou não. Cinqüenta tons de cinza também foram cinqüenta
tons de voz com direito a choro. Uma cachorrada do Grey.
Saí catando
marca de batom na minha camisa branca. Passei no bar e joguei umas gotas de
cachaça na camisa enquanto o parceiro do bar jogava uns goles para o santo. Me
mostrem um santo que lhes mostrarei um cachorro. Mostrem-me uma santa que lhes
mostrarei uma cadela.
® Rui
Rodrigues
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