Os movimentos de rua no Brasil, de junho de 2013.
(aos que se movimentaram em paz, com ética, e toda a moral do mundo)
Em 1997 editei, eu mesmo, o livro “Ré-Pública”, ISBN 85-900308-1-4, sob o grande título de “Civilização”, com capa de Adriano Mota e edição de texto de Ângela Portocarrero. Pseudônimo de Rui Nogueira como homenagem a minha mãe de quem, erroneamente não herdei o sobrenome. Meu pai não gostou, mas com todo o carinho e admiração que tenho por ele, eu gostei. Aliás, a mãe dele, minha avó, tinha também o sobrenome de Nogueira, de quem meu pai também não herdou o sobrenome. Coisas de uma aldeia onde grupos buscam sua influência para tecerem suas teias conforme crêem ser mais justos ou injustos. Admirador do povo judeu, de quem sou descendente, não gostei que, à revelia, me tivessem capado o nome de minha mãe, fosse ela o que fosse, quem fosse, onde fosse. Pai é pai e mãe é mãe. Amamos sempre as mães.
Surgiu daí a minha primeira grande indignação: Como ousaram, quando eu tinha sete anos de idade, me escamotear o sobrenome de minha mãe, sem me consultarem, e ainda me trocarem os sobrenomes de tal forma que nem parece, a quem analise, que sou filho do meu pai? Espero que se entenda o que representa para uma criança a perda de sua identidade pelo prazer de um grupo que poderia identificar como qualquer coisa, que, por ser à revelia, nos permite pensar em qualquer coisa: Limpeza étnica de nomes judaicos, rivalidades infantis entre famílias dos Rodrigues e dos Monteiros, ações tomadas depois de uma bebedeira com o excelente vinho de Fornelos que já não tomo há exatos 29 anos... Saudades... Saudades do meu velho e bom pai, dos amigos e amigas de Fornelos, desse Portugal que abandonei por três vezes para voltar, sempre, para o meu amado Brasil. Brasil é tão maravilhoso que se torna um vício. Sou adicto ao Brasil.
No livro “Ré-Pública” reduzo ao pó do tempo as ditaduras, os reinados, os impérios, os sistemas políticos normalmente conhecidos como Comunismo, socialismo ou capitalismo, todos disfarçados de repúblicas representativas: Os cidadãos votam nuns sujeitos que são custosamente promovidos a cada quatro ou cinco canos, e isso é tudo. Já eleitos nunca mais nos consultam e fazem o que querem. Quando alguns deles são descobertos enfiando a mão no saco do dinheiro, são postos no olho da rua e substituídos por outros que continuarão agindo da mesma forma, sem repetir os mesmos erros. Cometem outros diferentes, mais sutis e que demoram mais a serem descobertos. Isto não é política, é comércio. Comércio por dinheiro ou comércio por favores.
Desde 1997 que venho disseminando a idéia da primeira noção de Democracia, a mais pura, nascida na Grécia, quando os cidadãos se reuniam em praça pública e levantavam o braço se votavam a favor ou deixando-o pendente, se não concordavam com alguma lei ou algum projeto. Isto chamou a atenção de um grupo que seguia idéias diferentes: os sofistas. Estes queriam uma representatividade, para “facilitar” e agilizar os processos. Para aquele tempo poderíamos até entender a necessidade: Não tinham celulares, computadores, Internet... E a votação obrigava a conclamar o povo, muitas vezes de emergência. Era realmente uma zona, esse tipo de votação. Mas agora temos à nossa disposição todos os meios para tornar instantânea qualquer votação para qualquer coisa que necessitemos. E não precisamos de ninguém nem para sugeri-las: Os próprios cidadãos propõem projetos, leis e projetos de lei, e eles mesmos votam. Os poderes no governo, que também indicamos, fazem o trabalho de fazer valer o que aprovamos pelo voto. Ponto final, muito simples.
Tive o bom senso de enviar exemplares para Universidades e Escolas quer no Brasil, que em Portugal, Inglaterra, EUA, por correio, à atenção das respectivas bibliotecas. Isto desde 1997. Uso a NET desde que foi criada, e sempre expus estas idéias. Yes, we can... Sim.. Nós podemos votar em tudo o que quisermos. E foi com agrado que passados pouco mais de dez anos, vi novas constituições serem votadas nos países nórdicos, na Islândia e na Suíça, através de votos populares, usando a rede da NET. Foi o primeiro grande passo para a expressão da vontade cidadã sem intermediários que sempre levams a sua parte financeira dos meios disponíveis, e que sempre fará falta para a educação, a segurança, a saúde, os transportes, a vida pública saudável, tal como os cidadãos desejam. Com a crise de 2008, provocada por banqueiros, tal como em 1929, o mundo entrou em parafuso, porque a ambição desmedida fez os cidadãos entrarem num mundo novo de escravidão para pagar juros de incompetência e mancomunação entre capital e política. A política transformou-se num mercado capitalista com um grande sócio: Os governos do mundo, doando verbas públicas que, naturalmente, por sua falta, provocaram o caos nos serviços públicos, nos níveis de desemprego, e acarretam perdas de bens, como se a culpa fosse dos cidadãos.
Esta crise ficará na história como a crise que fez mudar a forma de enfocar a política. Nos governos atuais, com os partidos políticos fazendo eleger seus próprios membros para postos de governo, mancomunados com as empresas, num entorno de ambição desmedida, nada se mudará. É necessário que o sistema mude para abraçar a participação cidadã, pública. Pública, isto é de República.. A coisa pública, e não a coisa particular, que foi no que os governos se transformam desde a nascença, por opção forçada.
Que visão política pode ter um torneiro mecânico, um militar, um motorista de caminhão, uma viúva de político que fez plástica, sem instrução e sem nunca terem trabalhado ou participado em cargos de governo? Que visão política interna ou externa poderão ter?
Nenhuma...
Mas se, pelo contrário, colocarmos nossas vidas na mão de sujeitos com diploma e instrução que fizeram carreira política, que podem fazer o que quiserem ao abrigo de leis que eles mesmo votam, qual a diferença?
Nenhuma...
Ambos têm em comum a ambição, a vaidade.
Nós somos cidadãos. Não podemos depender da vaidade nem da ambição de terceiros que não nos representam.
Parabéns Brasil pelos movimentos em todo o País que levou centenas de milhares de jovens, novos e velhos na idade, em junho de 2013, para as ruas desta nação maravilhosa querendo mudar o que tem – necessariamente - de ser mudado.
Mas não esqueçam que, discutir o sistema dentro do próprio sistema, é como tomar aspirina para um ataque de AVC... Morre-se com um pouco menos de dor de cabeça. E nunca é demais lembrar que os políticos não nos dão nada. Nossos impostos pagam tudo. O problema é que pagamos muito e não recebemos quase nada. Perguntem pelas ruas, casas, shoppings, armazéns, campos, praças, mares, ares, aeroportos, prisões, lares, transportes públicos, hospitais, postos de polícia, forças armadas, se estou mentindo...
Rui Rodrigues
ESCLARECIMENTO:
O que os políticos contumazes – porque não é profissão nem deveria ser – Ainda não entendem
O povo foi definitivamente para as ruas. Não têm partido. Têm necessidades que nenhum partido político tem conseguido prover com o dinheiro dos impostos que pagam, há séculos... O mundo está farto de ver políticos contumazes, eventuais, se embrulharem em custosos ternos, se enlatarem em carros caros, desprezando as necessidades cidadãs.
Os impostos não são estabelecidos anualmente em função de um orçamento, mas são fixos, sem dar folga aos cidadãos. É tanto dinheiro arrecadado, à disposição desses políticos contumazes, sem responsabilidade financeira sobre seus atos, que não há como resistirem à tentação de morder uma parte.
O povo que foi para as ruas não tem partido político, nem precisa que nenhum político contumaz, eventual, oportunista, lhe venha dizer o que necessita nem o que quer, nem como “deveria ser”. O povo sabe. Sempre soube.
O povo quer participar dos atos de governo. O povo quer ser ouvido. O povo quer governar-se, longe desses políticos oportunistas e contumazes, os quais, em vez de atender o povo, exige por leis que o povo os atenda.
É tão simples, que os gordos e ambiciosos olhos mentirosos dos políticos não conseguem enxergar. São politicamente vesgos, estrábicos, estronchos e não pressentem sequer os ventos da história.
Então, face aos justos movimentos em toda a sociedade e em todas as cidades brasileiras, somos obrigados a pagar as propagandas de partidos oportunistas que agora aparecem em massa na mídia querendo encampar o movimento a seu favor. É mentira... O movimento das ruas não partiu de qualquer partido político, de qualquer político...
Entendam isto, senhores políticos que fizeram da política seu modo de vida, seu ganha pão, seu ganha carro, seu ganha tudo... Exageraram na dose na Espanha, nos EUA, na Grécia, na Inglaterra, na França, em Portugal, e em outros países incluindo o nosso Brasil, porque confundiram política com economia, política com interesses pessoais e de apoiantes.
Não fizeram o seu trabalho de casa, que é saber, dia a dia, e atender, às necessidades do povo, não como façanha, ou benemerência de partidos ou políticos, mas como OBRIGAÇÃO.
Obriguem-se, senhores políticos. O movimento que corre mundo não tem bandeiras vermelhas, não se fala em filosofias nem cores ou símbolos políticos. Para o movimento, os políticos têm a obrigação de atender a coisa pública, a velha “res pública”, e é para isso, somente para isso que lhes pagamos, de forma tão exagerada, com retorno tão infimamente desproporcional, que o movimento ganhou as ruas. E delas não sairá tão cedo. A simples redução das passagens é um grão de areia num deserto de atendimento à nação.
Rui Rodrigues