A tragédia portuguesa – A verdade
A revolução dos cravos pretendia-se ser uma revolução socialista. Punha fim a uma ditadura de extrema direita. Era compreensível. Porém, em 1975 as economias da URSS e da china já davam mostras de fraqueza. O comunismo em geral já não era tão forte como antes da “guerra dos mísseis” envolvendo Cuba, URSS e EUA. Fidel Castro sofreu um bloqueio do qual não se livrou até hoje. O bloqueio não é contra o povo cubano. È contra Fidel Castro. Mas há um agravante que contribuiu imensamente para o declínio do espírito socialista da revolução dos cravos: A corrupção dos governantes portugueses, tradicional, endêmica. Não se aprova nada na junta sem uma “propina”, não se tem bom tratamento hospitalar se não se der uma propina para a enfermeira chefe, não se consegue um bom trabalho sem um “padrinho”. Obtém-se passaporte falso pelas esquinas, o contrabando vindo de Espanha ainda não acabou, governos sucessivos fazem contratos com empresas estrangeiras pela simples troca por empregos, as contas de telefone vêm com valores de chamadas que nunca foram dadas e com duração de chamadas que em muito ultrapassam a realidade. O governo não vê nada, não escuta ninguém, não se manifesta em nada. O presidente da República é um pequeno rei que desfila nu cheio de sorrisos de artista de cinema e quando fala, não diz nada de interessante. Podia passar os dias na casa de banho que ninguém notaria sua falta.
O mal de tudo? A Constituição e as leis decorrentes herdadas da ditadura de Salazar, a falta de educação cidadã do povo, que, por mais instruído que seja não tem educação suficiente para reclamar: Fazer-se de “não afetado pela situação” dá status, coloca os indivíduos numa situação de nata sobre o leite azedo. Mas como alterar a Constituição se os políticos, confortavelmente instalados no governo nem por hipótese consideram essa possibilidade? Indo para as ruas e pedindo uma para ser aprovada pelos cidadãos a exemplo do que fizeram alguns países do norte da Europa (o que pode facilmente ser encontrado na net em detalhes). Neste link pode ser encontrado um modelo baseado na constituição suíça - http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/index.php?pagina=1290597993
Mas a que propósito vem tudo isto se o povo está calmo, tranqüilo, vendendo tudo o que economizou para poder sobreviver e manter as aparências – outra característica idiossincrática mórbida de nossa tradição secular?
Porque nada se modifica neste mundo, nem em nenhuma sociedade, sem atuação explícita que demonstre a insatisfação, e porque não é possível que os cidadãos portugueses estejam satisfeitos ou minimamente confortáveis devendo a bagatela de 346,8% do PIB[1]. Provavelmente não têm noção de quantos anos serão necessários para pagar esta dívida que mede grosseiramente o desperdício da administração pública de todos os governos desde a revolução de abril. Não têm noção de como “sair dessa crise”. Há túnel, sombrio, sem a mínima luz ao seu final. Nem de mera e simples vela. Somos um povo obediente, orgulhoso, inteligente, instruído, exemplo da classe trabalhadora e empreendedora em todo mundo, infelizmente carentes de determinação para contestar. Somos capazes de morrer secos e tísicos se precisarmos “pedir” algo a alguém, e levamos 48 anos para nos livrarmos da ditadura de Salazar. Somos muito lentos. Não acredita? Então lembremo-nos da Inquisição que durou “apenas” 285 anos: Desde 1536 quando o rei D.Manuel a pediu nas Cortes, até terminar em 1821 em sessão das Cortes Gerais. Somos lentos e tempo é dinheiro. Perdemos dinheiro que é do que todos precisamos.
Nossa tragédia é moral, financeira, política, industrial, comercial, institucional. Poderíamos pagar a dívida contraída por nossos governantes e instituições em uns dez anos, mas temos que levar em conta a situação econômica internacional, e com um mundo entre a recessão e o insipiente crescimento, não o poderemos fazer em menos de vinte. Nossos filhos herdarão a dívida e já se prevê o decréscimo da população portuguesa para a casa dos sete milhões e meio para os próximos anos. Nunca se vendeu tanto ouro como nos últimos três anos. Ouro particular, das economias pessoais. O sinal foi dado quando uma ministra, para encobrir o sol com uma peneira e manter os privilégios dos políticos vendeu da noite para o dia, no mercado internacional toneladas de ouro. No tempo do “bochechas”. Não foi a única[2]. Nem nas pesquisas podemos acreditar: Somente trinta e seis por cento dos portugueses disseram ter preocupações com a situação econômica, mas 51 por cento disseram que temem a falta de emprego. Ora como se pode ter preocupação com o emprego e não com a situação econômica se esta depende do emprego? O povo português volta a emigrar em massa. Importamos quase tudo. Somos auto-insuficientes. Os preços das mercadorias não dependem da nossa produção. Atravessam-se as fronteiras para nos abasteceremos em Espanha onde os impostos são menores: Ajudamos a melhorar as condições econômicas de Espanha e prejudicamos as nossas porque o governo é estupidamente insistente em manter altos impostos em relação aos nossos vizinhos. O governo quer dinheiro não importa como, mas sem se importar com o “como”, arrecada cada vez menos.
Como mudar esta tragédia, em que carecemos de saúde pública, empregos, desenvolvimento, auto-suficiência?
Os que estão no governo não permitirão mudar nada. Mudarão o que desejarem porque lhes demos permissão para tal. Dizem eles que nos representam. A solução estará, sempre, nos cidadãos agindo em uníssono, sem a presença de Partidos políticos: São estes que orientam, treinam os políticos que temos para que se elejam e depois lhes cobrem as atitudes. Veja como em
Governo que não cuida dos cidadãos não serve para nada!
Rui Rodrigues
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