A ilha de Páscoa, um exemplo da sustentabilidade na Terra.
Uma ilha é uma porção de terra cercada de mar por todos os lados. A ilha de Páscoa é isso mesmo: Uma pequena ilha cercada de mar imenso, nada à vista no horizonte. Quem tivesse nascido lá há milhares de anos não veria nada mais a não ser o mar até os confins do horizonte. Seus habitantes, os Rapanui, julgavam-se sós no mundo. Sós, não. Sabiam por tradição oral de seus ancestrais que havia terras para lá, bem longe, da ilha. Mas era-lhes impossível navegar. As pirogas que possuíam só serviam para a pesca. Seus ancestrais tinham vindo para a ilha, de forma determinada, carregando mudas de bananas, cães, porcos, galinhas, entre 300 DC e 400 DC.
Em algum momento descobriram a religiosidade e perceberam que alguém deveria ter “feito” a ilha. Chamaram-lhe de Hotu Matu’a, e o entenderam como um deus. Olhavam o horizonte e desejaram voar como os pássaros da ilha, e rezavam a um outro deus, a quem chamaram de Tangata Manu para que lhes dessem asas, mas este deus nunca os ouviu, e os rapanui nunca tiveram asas. Então descobriram que deveria haver uma “entidade” superior, misteriosa, a quem deveriam rezar para que os outros dois deuses os ouvissem, não fossem ficar mal vistos perante uma entidade que não conheciam. Chamaram-lhe de Make-Make.
A ilha, quando a descobriram os Rapanui, era coberta de florestas. Sua população aumentou. Passaram a temer que fossem invadidos antes que pudessem atravessar o mar oceano, a que chamamos Pacífico, ou antes que Tangata manu lhes desse asas. Então, como lhes sobrava tempo, construíram enormes estátuas de pedra para afugentar os possíveis inimigos que, tal como eles, poderiam chegar navegando pelo mar. Mas para construir essas estátuas, os Moais, e transportá-las para lugares estratégicos da ilha era necessário cortar as árvores. Sabiam que existiam correntes marítimas, porque elas haviam trazido seus ancestrais até a ilha mas não de seus efeitos sobre o clima, e quando no domingo de páscoa do ano de 1722 o navegador holandês Jacob Roggeveen chegou na ilha, viu os gigantes de pedra, uma população decadente e em vias de extinção, subnutrida, que vivia essencialmente da pesca. Já não havia bananeiras, nem porcos, nem cães, nem galinhas, nem árvores.
Em grutas da ilha viram ossadas humanas com evidência de canibalismo. Talvez por adoração a seus deuses, ou por necessidade de se alimentarem. Nos cento e cinqüenta anos seguintes 53 expedições foram mandadas á ilha. A cada uma cada vez mais havia estátuas destruídas pelos rapanui, tombadas sobre a grama da ilha. Os rapanui abandonavam os seus deuses nos quais haviam confiado tanto e com tanta devoção. Foi um curto percurso, na escala do tempo, desde que haviam deixado suas origens na ilha de Mangareva, usando as de Pitcaim e Henderson como trampolim usando suas pirogas de navegação à vela: Uma viagem de apenas 17 dias.
Em 1888 o governo chileno concedeu a exploração a uma empresa escocesa que introduziu gado ovino na ilha. Os rapanui passaram então à condição de escravos que trabalhavam em troca de bens e víveres que recolhiam no barracão da empresa, em vez de dinheiro. Em 1914 revoltaram-se. Somente em 1966 foram reconhecidos como cidadãos chilenos. A ilha é formada pela junção de três vulcões adormecidos. Reza-se para que não eclodam, mas as preces já não são dirigidas a Hotu Matu’a, nem a Tangata Manu, e muito menos a Make-Make.
Nosso planeta é uma ilha na imensidão do cosmos. Temos nossos deuses, mas já nos restam poucas florestas. Poluímos as águas, infestamos os ares, conspurcamos a terra com radioatividade. Olhamos para o Cosmos e não vemos outras ilhas de onde possam vir a tempo de salvar-nos. Muitos deuses já foram abandonados e jazem no esquecimento. Somos os Rapanui do Cosmos, divididos em partidos políticos e religiões, cada um arrecadando o máximo que pode de dinheiro no barracão dos cofres públicos: O canibalismo humano moderno.
Rui Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário