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domingo, 19 de maio de 2019

O Bar do Chopp Grátis reabriu


Antigamente no Rio de Janeiro era costume chamar um padre da paróquia para a inauguração de lojas comerciais, regadas a canapés salgadinhos e bebidas. Como todo mundo se dizia cristão, era um modo de chamar os fiéis a consumir por "identificação cultural-religiosa"...





Numa época em que se idolatra o politicamente correto, religião não se identifica com bebidas. Por isso não convidamos o padre para a inauguração. Nem meninas vestidas de coelhinho, mostrando quase tudo, um pompom no bumbum com muito borogodó e nhéco-nhéco. Não... Para sermos modernos só convidamos homossexuais, transsexuais, drag queens, travestis desmunhecantes e rebolantes, paneleiros portugueses, lésbicas, sapatões, normalmente aceitos pelas sociedades emergentes como politicamente corretos e perseguidos por homofóbicos, misóginos e outros adjetivados.

- Foi um desbunde!

Foi o que disseram as loucas quando a gaiola se fechou no final da festa. Em bares vende-se bebidas para quem bebe e isso que interessa. Temos um pianista à moda do velho oeste que toca baixinho sem querer aparecer. Minha gerente - e sócia - é uma argentina socialista da boca pra fora e capitalista da boca pra dentro, hétero-sexualizada por todo o corpo desde adolescente, tarada por dinheiro, jóias, perfumes, carros e festas de "ráisoçaiti" cada vez mas raras. De vez em quando me olha interessada e me devora como gata assanhada. Tem a decência de não meter vales no caixa.

Nem em mim.

Nossa clientela é um nicho ecológico de gente diferenciada que passa por aqui para se divertir, tomar todas ou só algumas. Temos as portas abertas para todos incluindo pobres, mas estes não frequentam por falta de dinheiro. Em compensação está cheio de gente comunista - que se diz... - da zona sul do Rio e dos Jardins, Morumbi, zonas nobres de S. Paulo... A maioria são "comunistas" gaúchos, boa parte gente do governo estadual e federal viajando "a trabalho". Gostam muito também de ir para Paris. De Paris a Zurich chegam rapidinho nos trens supersônicos. Depois ganham uma bela aposentadoria "limpa" sem despesas...

São esses que nos trazem estórias e causos picantes ou ardentes de envolvimentos em tramas, maracutaias, transas e traições, molecadas, heterofobias, homofobias e todos esses temas modernamente ancestrais que polvilham o nosso imaginário e trazem os sonhos para a realidade do dia a dia... Mas sonhos se evaporam ora ao final do sono, ora quando se tornam realidade.

Desculpem a foto, que foi por engano... De outra inauguração de outro bar, de outros proprietários. Nada a haver, foi a primeira foto boa que encontrei...


Rui Rodrigues

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