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quinta-feira, 26 de março de 2015

Há que entender Maquiavel...


... Não basta ter o livro na cabeceira e acordar um dia dizendo: Tenho inimigos no palácio!


Circula em todo mundo um livro com o título “O príncipe” de Niccoló Maquiavel, porém com uma particularidade: Contém notas á margem de páginas escritas nada mais nada menos que por Napoleão, que, se formos a olhar sob o olhar perspicaz de Maquiavel foi um príncipe que se deu mal e, portanto perdeu. Não ganhou nada! Porque o “ganhar” não é coisa de um momento, mas um resultado de uma soma de momentos. As batalhas que Napoleão ganhou são de somenos importância se confrontadas com as suas duas prisões, a perda em duas batalhas finais, e seus dois desterros, vindo a falecer no ultimo deles, sob suspeitas de envenenamento. Enquanto a França o vê como herói, o mundo está cheio de locais onde o vêem como acabou seus dias: Um apostador em si mesmo, demasiadamente vaidoso e confiante e acabou com perda total de tudo o que tinha conquistado. Ficou-lhe a fama de caudilho. Napoleão foi um caudilho assim como Zapata, Perón, Che Guevara, Fidel Castro, Chávez, Lula, Dilma...

O bom [1] príncipe, que sabe governar, não pode chegar a ponto de acordar um dia e dizer-se a si mesmo de frente para o espelho enquanto escova os dentes, pra depois contar aos outros: Temos inimigos em palácio! É sinal que falhou muito. Pior ainda quando os inimigos já confabulam abertamente entre si, nas fileiras de seus próprios aliados que esperam apenas alguns detalhes para depô-lo. Isso já lhe quita o significado de príncipe, o adjetivo de bom, e o que é ainda mais deprimente, o re-qualificam como simplesmente um idiota que não se sabe como chegou ao poder.

É que “se chegar ao poder” nem sempre é por méritos, senão por interesses daqueles que querem um príncipe sem qualidades e tonto o suficiente para que o possam manusear, manipular, dirigir. Ricardo III de Inglaterra pertence ao vasto rol de príncipes falidos da História Universal eleito sem méritos. Ele tinha um irmão que era rei: Eduardo IV que morreu em abril de 1483 e deixou um filho, também Eduardo que seria seu sucessor como Eduardo V. Por seu grau de parentesco, forças políticas o nomearam Lorde Protetor de Eduardo V que só tinha 12 anos de idade. Enquanto o jovem promissor rei viajava de Ludlow a Londres, o Lorde Ricardo se encontrou com ele e seu irmão Ricardo de Shrewsbury no caminho e os levou á Torre de Londres. Em Junho do mesmo ano as forças políticas que ajudavam Ricardo declararam o casamento dos pais de Eduardo V como inválido e as cortes corroboraram esta afirmativa. Foi um pretexto para declarar os dois filhos inelegíveis e logo em seguida, em Agosto, Ricardo, o tio das crianças, se faz coroar Rei: O Rei Ricardo III. Gerou-se uma Lenda, a Lenda dos Príncipes da Torre, porque nunca mais apareceram, embora corresse á boca pequena, a do povo, que Ricardo III as teria mandado assassinar.

Isto é política e há muitos tipos de política. Umas são terrivelmente sujas, outras mais inteligentes e limpas, mas há sempre interesses sendo defendidos e outros atacados. Somos uma humanidade com este tipo de comportamento. Ricardo III foi enterrado em local desconhecido após ter perdido uma batalha, a de Bosworth em 1485. De nada lhe valeu nem a seus apoiadores terem matado as duas crianças. Ricardo poderia ter “reinado” como tutor das crianças até sua maioridade, mas não foi inteligente para isso. Queria muito mais. Napoleão também. Hitler também. Lula também. Não sabem de seus limites, até onde podem ir. Provavelmente nenhum deles leu Maquiavel com aquela inteligência necessária para que se entenda o que um gênio escreve. O corpo de Ricardo III foi finalmente encontrado sob as antigas fundações do Mosteiro de Greyfriars. Os restos mortais mostram que foi ferido com espadas, facas e punhais, e seu estômago estava cheio de vermes (lombrigas). Ele foi certamente trucidado com raiva. Não foi um bom final para o seu orgulho em ter conquistado o posto de Rei, embora por modos escusos e de má índole. Che Guevara virou peneira de tantas balas que levou, depois de uma vida de mortes e assassinatos. Ele dizia que “havia que endurecer sem perder a ternura”, frase que só se usa quando se está orgulhosamente por cima no poder. Há caudilhos mais espertos e que nunca falam o que pensam, embora não tenham também o menor mérito. Che Guevara já foi enterrado, Fidel assiste ao reatamento de relações entre Cuba e EUA, Hitler suicidou-se, Mussolini foi dependurado de cabeça para baixo, Napoleão morreu melancolicamente no degredo em uma ilha, dizem que envenenado, Chávez morreu repentinamente e ainda jovem de câncer na maravilhosa ilha de Cuba onde a medicina era das mais adiantadas do mundo, assim diziam, e Dilma, Lula e Cristina que também tiveram câncer, mas não foram se tratar em Cuba, ainda vivem de boa saúde, tratados que foram nos melhores hospitais do continente, jamais na instituição chamada SUS onde se morre até em fila. O povo se revolta contra as atitudes que não coincidem com as prédicas. 


Há sempre uma hora de pararem o que sabem fazer de melhor, para que fiquem na boa lembrança da posteridade as “conquistas” que fizeram, quer na luta por territórios, quer nas ciências, quer nas conquistas sociais. Quando na verdade nada disto importa e o poder, como reduto de segurança para os erros dos príncipes, passa a ser o mais importante, eles não param. Não perceberam quando deveriam ter parado e seguem agora no poder por simples defesa, porque as forças armadas devem defender as Instituições e a integridade dos príncipes, embora esses mesmos príncipes as tenham destroçado, vilipendiado, de forma a serem irreconhecíveis. Costumam dizer que lutam pela democracia, usando papel e caneta para as transformarem em Associação Comercial de Ministérios, Supremos Tribunais de Defesa de Corruptos, aumentando impostos e gerando inflação para recolherem verbas que possam cobrir os desvios que fizeram. Príncipes que se transformam em chefes de bando, só um é bem visto na história universal. Era chefiado por um sujeito que roubava dos ricos para dar aos pobres, em plena floresta de Sherwood onde hoje é um jardim na cidade de Londres. O nome dele era Robin Wood [2] e tudo leva a crer que se trata de uma outra lenda.

Como política nada mais é do que uma série de medidas que se tomam para alcançar determinados fins onde o mérito nem sempre é necessário, temos visto ao longo da história uma repetição de fatos: Príncipes conseguem alcançar o poder, mas como não têm capacidade gerencial nem conhecimentos, acabam por levar a nação ao caos comercial, científico, político, industrial, financeiro, e continuam mentindo para se segurarem no poder com medo de terem um fim semelhante ao do rei Ricardo III da Inglaterra, enterrado recentemente em um simples e bege caixão de madeira sem pintar e sem polir, porque além de seu passado histórico de assassinato de duas crianças que nem se chamavam Celso Daniel, pertencia a uma dinastia que nunca mais subiu ao poder. Aliás, em tempos modernos de república, não há lugar para reis, rainhas, governantas, caudilhos e mentirosos corruptos no poder.



O poder é do povo, exercido pelo povo para o povo. Não se pode roubar nem mentir impunemente à sombra desta lei maior. Somente esta frase já é uma constituição por si mesma. Se esses caudilhos se cercam de "juizes" para dizerem que suas alterações à constituição são legais, ou compram deputados para as aprovarem, a Constituição passa a ser apenas papel higiênico escrito com letras desencontradas. Maquiavel ainda existe em seu livro. Os que o não entenderam, acabaram muito mal.

® Rui Rodrigues.   



[1] Bom, no sentido de eficiente.
[2] Wood significa madeira, não bosque. Hood é capô em inglês. 

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