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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ensaio sobre o meretrício


Durante milênios a cegueira proposital proporcionou o maior dos enganos da humanidade e criou vários mitos dos quais, bem a propósito, se ressaltam dois: As mulheres não faziam questão de atingir o clímax sexual, prescindindo dele e sendo por isso meramente passivas numa espécie de gozo eminentemente masculino. O outro era a “santidade” de mãe, irmã, prima, avó e todos os familiares em geral. Com tanta santidade apregoada nos templos, logo ficou claro que alguém deveria estar mentindo, porque na prática, a atividade sexual funcionava de outro modo, todos resguardando a honra das santidades.

Exatamente, esses, que liam os livros sagrados, com tantos exemplos falsos e verdadeiros de verdadeiras e falsas santidades, sabiam, mas não admitiam, que essa prática sexual era bem diferente, mas tinham de ser coniventes por receio das conseqüências e apologia de um comportamento que definia os limites da lei.


Esta cegueira proposital permitia que os homens tivessem haréns constituídos de acordo com o seu poder aquisitivo, mas provavam também que uma mulher, aliás, montes, quase todas as mulheres poderiam manter relações sexuais a critério de seu dono e senhor, a qualquer hora, mesmo que o odiasse. Na verdade era uma troca, um negócio: O senhor lhes dava boa vida, e elas retribuíam, gostando dele ou não, atingindo o clímax ou não. Se as mulheres do harém, numa relação perfeitamente legal dentro da lei dos homens e dos livros santos, podiam ter relações dentro destas condições, porque razão uma mulher não poderia agir da mesma forma sendo casada com um único homem? Havia várias formas de transgredir a lei de apenas o senhor do harém poder transar com as concubinas: Os eunucos mãos arriscados, castrados para guardá-las, e não podendo transar, ofereciam seus dotes a guardas bissexuais que em troca  recebiam os favores das concubinas mais espevitadas. Quantas mulheres na idade média ficaram por anos com seu cinto de castidade intacto, esperando os maridos, sem fazer amizade com o chaveiro do reino em troca de facilidades pessoais ou de bens? E podia o chaveiro ser velho, idoso, que isso não importava. Por outros favores, outros mais jovens entravam em seu leito com a conivência do ancião.

E por milênios assim foi e ainda é, porque os haréns ainda existem de forma legal ou sob a forma de “pirataria” onde não se respeitam os “direitos”. Existem também em África algumas tribos em que cada mulher tem vários homens, e um grupo de mulheres divide o mesmo homem ou os mesmos homens. Em outras tribos, o irmão herda a viúva. O amor é diferente por lá, ou não será amor o que vemos por cá, onde ainda estamos cegos, convenientemente cegos. Era preciso manter as aparências para as mulheres não serem apedrejadas ou desmoralizadas, os homens amantes não perderem a vida, a vida continuar como sempre fora, dentro da maior “santidade” e os costumes são a base de qualquer sociedade sobre os quais se constroem as leis. Sendo falsos os costumes, podemos avaliar da justiça das leis que neles se baseiam. Se nos fizermos a pergunta “Vivemos aparentemente num mundo que não é real, um mundo de faz de conta?” Poderemos ter muitas respostas. Todas dependerão de nosso grau de cegueira, conveniente ou não, de nosso apego aos costumes, à tradição.  O que prevalece sempre é a nossa “visão” ou “cegueira” da ou para a, realidade.

Sobre o que é real ou não em nossa existência, já existe um texto adequado neste blog. Mas para os efeitos deste ensaio, realidade é o resultado de nossa percepção isenta de julgamento próprio. Quando julgamos ou nos julgamos vemos que a realidade é diferente, e, ou fechamos os olhos para ela, ou mudamos o nosso comportamento.

Por exemplo, o que sempre definiu o que se entende por prostituição: Uma mulher ser remunerada por suas transas sexuais de forma contumaz com diferentes parceiros, fazendo disso um modo de vida. Ora, a ser assim, conhecem-se muitos homens que atuam da mesma forma para sobreviverem na vida.

O fato de se ter alegria e prazer no trabalho é uma questão que nem merece ser discutida para efeitos de definição de comportamento ou de trabalho. E afinal, o que se entende por “remuneração”, paga, pagamento, compensação? Dinheiro? Bens móveis e imóveis? Carinho? “Amor”? Passar bem e confortavelmente bem na vida?

Parece que as definições que temos disponíveis não nos livram muito da possibilidade de sermos todos – e todas – “meretrizos” e meretrizes, excluindo quem se abstém de qualquer pratica sexual. Seriam os santos, os interlocutores entre deus e a humanidade se não houvesse tantos casos de pederastia. E mesmo quando o prazer é “solitário” troca-se o ato pelo prazer e este é o “pagamento” do ato. Seria como um contrato pessoal particular de “gaveta”, desconhecido para o resto do mundo.

Parece ser que vivemos num mundo de faz de conta, escondendo-nos em banheiros para escondermos os nossos cheiros, transando às escondidas para ocultar a nossa moral, roubando ás escondidas para não sermos apanhados nas malhas da justiça. Estaremos em Sodoma ou em Gomorra? Não... O mundo sempre foi assim, sempre fomos assim. Antes havia repressão. Agora a economia e a política não o permitem. Os estados já não dependem das teologias.

Todos temos o direito de sermos felizes, levando a vida que queremos. As leis nos determinam os limites, e para políticos e para a economia, os limites estão ainda muito longe.

Não nos admiremos deste maravilhoso mundo novo. Ele é velho e só agora está sendo descoberto porque já nada se pode esconder. A luz se fez, finalmente! Por isso, olhe, escute, diga, sinta, e viva!E se alguém tiver a cara de pau de lhe atirar a primeira pedra, revide!

Mas... Sempre há exceções, mas não muitas... 

Rui Rodrigues

PS- A excelente e sensual foto no topo é de Paulo Carvalho, e sobre o assunto pode ser vista no site http://www.luizberto.com/vote-espia-so-paulo-carvalho/alto-meretricio-boemios-bares-e-bordeis-11 ( se houver reclamação desta postagem, mesmo fazendo propaganda do site, retirarei a foto)

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