Ainda agora ao anoitecer se fazia dia bem claro, com gotas de chocolate em vez de lágrimas de chuva caindo dos céus. O maná não era marrom nem melhor que o chocolate, e muitos se perguntaram porque não teria Deus feito cair chocolate em vez de maná... Um palhaço de boca alegre saiu das espumas das areias da praia e nos deu as boas-vindas brandindo em suas mãos com luvas brancas, um cachalote enorme com a boca cheia de camarões vermelhos, um pinguim se equilibrando em seu jato de ar esguichado sobre a cabeça. Ele ria o cachalote, ele ria o palhaço, ele ria o pinguim. Ouviu-se o som repetido de ondas e mais ondas umas atras das outras, como se o mar tivesse ritmo, e sons de gaivotas disputando pequenos peixes quase desmiolados entre as ondas. Um neném largado sozinho nas areias olhava contemplativamente para tudo aquilo como se fosse um ecrã de televisão, mas não sabia o que era televisão nem o que era ecrã, e então ficava ali, olhando tudo como se entendesse, sem saber o que era mãe nem se tinha uma.
Acerquei-me dele e disse-lhe:
- Papá.. Papá...
O neném me olhou e repetiu:
- Mamãe... Mamãe... E olhou para o meu peito. Onde lhe poderia arranjar uma mãe e um peito gordo para mamar?
Quando o sino tocou nenhum órgão de Igreja se ouviu tocando Bach. O que se ouviu foi um apito da marinha de guerra dando sinal de "oficial a bordo" e os panos das velas batendo "estalos" ao ritmo das lufadas de vento trazidas pelas brisas do mar, muito alegres, em seus vestidos de nuvens brancas rendadas sobre céu de anil sem caída de maná. Não se via nem um egípcio sequer. E lá se foi o navio, uma fragata, mar a dentro, cheio de gaivotas esvoaçantes, empurrado por cachalotes esguichantes e barulhentos, velas bejes e surradas desfraldadas a caminho não se sabe de onde.
Tocava no rádio uma canção de tribo africana cantando em coro ao som de batuques, e da luneta do comandante se via uma linda sereia numa praia distante com um lindo rabo e fartos peitos, sem cauda de peixe. Tinha duas pernas, lábios, olhos, tudo em seu lugar muito ajustado e bem dimensionado.
Um ponto final não acaba com nada, e o neném ainda teve tempo de dizer alegremente:
- Mamãe... Mamãe...
Ponto final
Rui Rodrigues
Acerquei-me dele e disse-lhe:
- Papá.. Papá...
O neném me olhou e repetiu:
- Mamãe... Mamãe... E olhou para o meu peito. Onde lhe poderia arranjar uma mãe e um peito gordo para mamar?
Quando o sino tocou nenhum órgão de Igreja se ouviu tocando Bach. O que se ouviu foi um apito da marinha de guerra dando sinal de "oficial a bordo" e os panos das velas batendo "estalos" ao ritmo das lufadas de vento trazidas pelas brisas do mar, muito alegres, em seus vestidos de nuvens brancas rendadas sobre céu de anil sem caída de maná. Não se via nem um egípcio sequer. E lá se foi o navio, uma fragata, mar a dentro, cheio de gaivotas esvoaçantes, empurrado por cachalotes esguichantes e barulhentos, velas bejes e surradas desfraldadas a caminho não se sabe de onde.
Tocava no rádio uma canção de tribo africana cantando em coro ao som de batuques, e da luneta do comandante se via uma linda sereia numa praia distante com um lindo rabo e fartos peitos, sem cauda de peixe. Tinha duas pernas, lábios, olhos, tudo em seu lugar muito ajustado e bem dimensionado.
Um ponto final não acaba com nada, e o neném ainda teve tempo de dizer alegremente:
- Mamãe... Mamãe...
Ponto final
Rui Rodrigues
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