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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Malha Indiscreta



Homenagem a Alfred Hitchcock, Reino Unido, Londres Leytonstone, 1899. Nos estúdios de gravação, Alfred, Grace e Stewart. 

Estou em frente a uma janela, num dia de inverno, agosto, 13, sentado numa mesa pequena onde descansa o meu laptop. As cortinas estão afastadas. O céu a parte de cima do mundo, cinza e enevoado, não se parece nada com um paraíso para onde dizem que as almas boas vão e com um céu destes, imagina-se pra onde as almas ruins devem ser empurradas. Olho as casas da rua em frente enquanto descanso os olhos da tela. Lembrei-me do James Stewart com aquela perna engessada, de frente para a janela no filme "Janela Indiscreta" de 1954, dirigido por Alfred Hitchcock. 



Stewart contracenava com a Grace Kelly antes dela casar com o príncipe Ranieri III de Mônaco, a quem pagou "dote" nada simbólico como era de praxe, uma atitude desagradável. Ranieri III poderia ter dispensado o dote. Eu não tenho problema algum de locomoção, nem estamos fisicamente em Mônaco ou nos EUA e não estamos no verão como no filme da janela que era indiscreta.
Mas deixem-me esclarecer-lhes uma situação: Depois que me aposentei tiro boa parte do meu tempo para conhecer o que perdi por ter-me apropriado de minha juventude para estudar, trabalhar, constituir família, educar filhos, e quando me aposentei foi por que resolvi tirar esse tempo para usufruir de uma juventude que perdi enquanto outros a aproveitavam para se divertirem. Aí  que entra a malha, a NET. Talvez hoje Hitchcock, muito provavelmente, não filmasse "Janela Indiscreta". Seria uma grande perda. A paisagem "comum" andava muito deteriorada, o calor aumentara muito, a violência era de outros tipos mais violentos, as artistas e os artistas já não tinham aquele "glamour", alguns cuspiam absurdamente e viviam às custas do governo.  O mundo que entrara numa crise em 2008, em 2016 vivia à beira de um ataque de nervos e depressão, mas poucos imaginam o que existe de gente bonita em lugares que parecem deteriorados ...


Se não quer se incomodar, não  use binóculos para ver a casa dos outros.

O aviso chegara. Notei ao olhar para a tela do laptop.  Nem sei porque escrevo estas coisas que me passam pela NET. Os leitores de hoje não se interessam por sentimentalismos, textos muito extensos, enredos, suspense... Querem tudo mastigado, enxuto, sucinto, resumido, porque... Porque... Aqui ó pra eles. Também não me interessam os seus "porquês"... Não escrevo  para esses, os apressados. Conto o que me contam e me dizem: Pode contar. 

Ah... O aviso... O aviso era dela que há muito deixara de ser o meu quebra-galho e eu o quebra-galho dela.  Queria que lhe quebrasse um galho por que estava sem ficante.  As pessoas por vezes perdem a noção das coisas por causa do desespero, e pensam que os outros também estão desesperados. Águas passadas raramente movem moinhos, a não ser que estejam rio abaixo. Primeiro pensei em dizer que estava ocupado e que tinha viajado. Depois mudei de ideias.  Depois perguntei-lhe porque precisava de mim. Disse-me que uma mão lavava a outra e que queria voltar como nos velhos tempos. Em seguida teclei com uma amiga comum.  Ela me disse que minha amiga quebra-galho andava muito promiscua. Nunca se tinha liberado dos traumas com o marido quando se traíram mutuamente. Ela dava pra todo mundo como se ainda estivesse se vingando dele. Não era por isso. Ela gostava mesmo era de transar, não importava com quem. A vida toda de casada provocava discussões com o marido para poder ter uma desculpa para trai-lo. Fechava os olhos e viajava no trem, por vezes de primeira classe, outras de terceira e por vezes ia sem classe mesmo, no desespero, completamente fissurada, no deita e rola.  O meu problema era que doenças não se passam apenas por não usar camisinha. Passam-se de outros modos, como a sífilis, a hepatite e uma porção de outras mais. Além disso nunca me senti muito bem em transar com mulher que tivesse acabado de sair debaixo de outro macho, assim como quem fizesse sexo indireto com outro homem, lambendo na mulher o que lhe fora penetrado. Lavou está novo, sim, mas quando a gente nem se preocupa se precisava lavar. E nunca se sabe onde vai a tara de alguém. Vai que... Nem pensar nisso, aquilo escorrendo ainda quente... Amigas contam tudo.  Perguntei à amiga quem era o ficante atual dela... Depois de muito insistir  ela disse-me quem era mas com a condição de eu não dizer nada pra ninguém.. E ainda reforçou: Nem pra ele nem pra ela! Ela sabe que minha boca é um tumulo quando se trata de segredos, sai do Off do facebook e em seguida teclei para o Pedro Antonio. Eu conheço o cara. É medico num hospital aqui perto. Ele estava "no ar". Depois dos tudo bem, como vai, perguntei-lhe: Como ia a saúde dele, se havia alguma epidemia viral ou de bactérias no hospital. 
Ele achou estranho e me perguntou porque lhe perguntava tal coisa... Eu disse que pretendia fazer um checape geral no hospital onde ele trabalhava. Ele me disse que estava tudo normal e que ele mesmo tinha feito um na semana passada, que tudo estava nos conformes a 100%. Isso me deixou muito feliz embora não pretendesse ter nenhuma outra aventura com essa minha amiga que queria voltar ao estágio do quebra-galho.  A noite já estava chegando, fazendo escurecer a janela da casa em frente da qual eu fazia minhas indiscrições numa outra janela aberta para o mundo, parte de um aparelho eletrônico que serve para tudo até para telefonar. Voltei a teclar com a minha  amiga.  Disse-lhe que de momento andava sentindo umas esquisitices e que ia fazer um checape geral.  Ela disse que tinha um amigo, um tal de Pedro Antonio que  era médico  num hospital do lugar, e que ela iria comigo, se eu quisesse,  para me darem melhor atendimento... Disse-lhe que agradecia muito e que se precisasse de alguma coisa que lhe ligaria.  Levantei um pouco do teclado e fui até a cozinha...  

Uma das cenas de maior suspense do filme: Grace Kelly na casa do Pedro Antonio. (Oopss. acho que fiz confusão) 

Agora estou aqui com a amiga da amiga, outra carente sexual, a meu lado, eu de perna quebrada, ela com uma enfermeira que me trouxe para me cuidar, olhando para o lado de fora da janela. Peguei uma câmara velha e assestei-a para as janelas em frente.  Chamei minha amiga para olhar e ver se conhecia o casal que discutia na janela do segundo andar, no prédio  da esquerda, no que tinha varanda. Resolvemos chamar a policia. Minha amiga admiradíssima, com a boca em "o" como quando, disse: - Esse que é o tal do Pedro Antonio que... 

®Rui Rodrigues 

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