Notícias dos Fronts.
1. Vietnam e a maconha.
Entre as notícias lidas nos jornais, nas revistas ou assistidas em jornais da mídia televisiva, não há diferença sensível da realidade informada por quem esteve na guerra do Vietnam e com quem tive contato. Um deles era filho do embaixador americano no Rio de Janeiro, por volta de 1969, outro foi um grande amigo meu, engenheiro, já falecido, o John Tankersley, com quem trabalhei em várias empresas e projetos, e alguns amigos de projetos em que participei na Bechtel e na Morrison Knudsen. Não vem isto a propósito de vôos em helicópteros atacados em dia de domingo quando lançavam panfletos, nem de construção de pontes sob ataque, nem de bombas de napalm ou de fósforo, nem uma referência às M-16. Vem a propósito da maconha.
Num ambiente de guerra como aquele, e quem assistiu ao filme MASH pode ter uma idéia dos absurdos, fumar maconha era uma “obrigação” para se manter mentalmente são e aliviar a “barra pesada”. Todos os exércitos são assim. Ou é vinho, ou cerveja, ou maconha ou outras drogas e tudo junto. Guerra é uma situação anormal para ser vivida anormalmente. Mandamos nossos filhos mentalmente saudáveis para a guerra e os recebemos viciados, paranóicos, heróis sem futuro, guerras sem motivo, coisa de loucos, vaidosos, ambiciosos, que as declaram. Mas nem o capelão, lá no Vietnam, desprezava uma bagana da erva.
Juramos juras de amor. Numa noite em que fomos roubar fruta, carro cheio, Luíza (chamemos-lhe assim) no meu colo, fizemos de tudo o que podíamos sem que os demais notassem até ela atingir o orgasmo, as pernas tremendo de prazer. Nunca entendi muito bem porque razão o perigo contribui para o aumento do prazer, mas é assim mesmo. De certa forma a adrenalina deve ser uma potencializadora do prazer. Aconteceu ali pelos lados do castelo de Sesimbra há já muitos anos. Foi a primeira vez que percebi o que é o “amor”, e suas diferenças em relação ao “desejo” e à “vontade”. Primeiro pensei que havia sido pelo meu “abuso” em lhe dar prazer, mas logo abandonei essa hipótese, por uma razão muito simples que havia sido a sua conivência, participação e incentivo, seguido de gozo (havíamos nos conhecido dois dias antes).
Depois pensei que seria por minha situação de dependente financeiro de minha família (eu tinha apenas 15 anos) e ao podia pagar um hotel naquelas férias, nem nos aceitariam por sermos menores de idade, e não tinha onde levá-la para ambiente mais indicado do que aqueles onde a juventude costumava ficar mais á vontade: Ou entre os arbustos do campo, ou nas areias da praia à noite, mas em breve saberia que não foi por isso também que no dia seguinte logo após o almoço, ela subiu na garupa de uma lambreta de um francês que a convidou ali mesmo, perto de mim. Vi-os sumir pela estrada até desaparecerem de vista. Ela era linda, sem dúvida. Soube-o quando eu, chorando o amor perdido de forma tão estúpida, fui confortado pelo pai de dois amigos meus que a conheciam. Eu estava chorando no balaústre de um miradouro sobre o mar, sozinho, quando ele e a esposa passaram. Engoli as lágrimas de repente, sorri o melhor que podia, mas eles viram e me perguntaram. Pela intimidade – nos havíamos conhecido nos corredores do Liceu quando eu como chefe de turma defendi o filho por ter levado um tapa de um padre que nos instruía na cadeira de Religião e Moral - contei-lhes a verdade. Perguntaram-me o nome da moça. E eu disse. Então me disseram que eu não deveria chorar. Ela era assim mesmo, e minha história não era única. Disseram, e ainda me lembro muito bem, que não valia a pena chorar por uma menina como aquela porque eu valia muito mais do que ela.
Mesmo assim ainda continuei frequentado o Chinês (creio que existe até hoje), onde o meu grupo costumava tomar umas cervejas, mas nunca mais passou por lá até o final das férias. Percebi também que o amor é uma coisa muito simples. É familiar. O resto é desejo, vontade. Espero que ela tenha sido muito feliz e que continue sendo. O iludido era eu e chorar por mulher, jamais voltaria a acontecer. Não que não valha a pena chorar por elas quando sentimos a dor de uma perda dessa natureza, mas porque simplesmente temos que entender e respeitar a vontade dos outros e das outras. Tudo dura enquanto dura, e quando acaba... Termina.
Depois pensei que seria por minha situação de dependente financeiro de minha família (eu tinha apenas 15 anos) e ao podia pagar um hotel naquelas férias, nem nos aceitariam por sermos menores de idade, e não tinha onde levá-la para ambiente mais indicado do que aqueles onde a juventude costumava ficar mais á vontade: Ou entre os arbustos do campo, ou nas areias da praia à noite, mas em breve saberia que não foi por isso também que no dia seguinte logo após o almoço, ela subiu na garupa de uma lambreta de um francês que a convidou ali mesmo, perto de mim. Vi-os sumir pela estrada até desaparecerem de vista. Ela era linda, sem dúvida. Soube-o quando eu, chorando o amor perdido de forma tão estúpida, fui confortado pelo pai de dois amigos meus que a conheciam. Eu estava chorando no balaústre de um miradouro sobre o mar, sozinho, quando ele e a esposa passaram. Engoli as lágrimas de repente, sorri o melhor que podia, mas eles viram e me perguntaram. Pela intimidade – nos havíamos conhecido nos corredores do Liceu quando eu como chefe de turma defendi o filho por ter levado um tapa de um padre que nos instruía na cadeira de Religião e Moral - contei-lhes a verdade. Perguntaram-me o nome da moça. E eu disse. Então me disseram que eu não deveria chorar. Ela era assim mesmo, e minha história não era única. Disseram, e ainda me lembro muito bem, que não valia a pena chorar por uma menina como aquela porque eu valia muito mais do que ela.
Mesmo assim ainda continuei frequentado o Chinês (creio que existe até hoje), onde o meu grupo costumava tomar umas cervejas, mas nunca mais passou por lá até o final das férias. Percebi também que o amor é uma coisa muito simples. É familiar. O resto é desejo, vontade. Espero que ela tenha sido muito feliz e que continue sendo. O iludido era eu e chorar por mulher, jamais voltaria a acontecer. Não que não valha a pena chorar por elas quando sentimos a dor de uma perda dessa natureza, mas porque simplesmente temos que entender e respeitar a vontade dos outros e das outras. Tudo dura enquanto dura, e quando acaba... Termina.
3. As tralhas, o Betamax, a Super-8 e o Projetor.
Juntamos tralhas a vida inteira: Brinquedos de criança, fotos, cartas, e uma parafernália de bugigangas à espera de um uso tardio ou que alguém se interesse por nossos bric-a-braques. Mães sempre guardam o vestido de noiva para a filha, mas pais não guardam os ternos para os filhos, e se perguntarem a razão, tenho que chamar por Freud para ajudar. Talvez ele dissesse que nenhum pai incentiva o filho a casar e por isso não lhe guarda os ternos, com a alternativa de que os pais têm a certeza de que quando casarem a moda já terá passado e nem adianta reformar o terno. Talvez até Freud tivesse outra explicação: Se o filho quer casar, que compre seu próprio terno quando estiver bem de vida e possa casar, porque papai não incentiva uma coisa dessas. Mas então lançaram o Betamax. Enfiava-se um “cassete” grosso no meio, e na TV se assistia a filmes pré-gravados. Comprei o meu novinho em folha em Barranquilla, como sempre acompanhado de uma fita de instalação. A imagem era deslumbrante e uma voz dizia: Itz ei Beramax, itz ei a sôni! (It’s a Betamax, it's a Sony)... Dois anos depois virou tralha. Tinha sido suplantado por um outro tipo de equipamento similar e deixou de ser fabricado. Guardei-o enquanto havia fitas cassete de férias para ver. Depois foi para o lixo porque ninguém queria um Betamax.
A câmara de Super-8 e o projetor que tanta alegria me tinham dado, e estavam com o fim anunciado pela mídia, foram parar nas mãos de um amigo meu. Chamei-o no escritório, o Rafael Borda, e disse-lhe: -Te dou um presente que não vale nada por 2000 pesos. Isso eram mais ou menos 60 dólares. Topou e me perguntou se eu não ficaria no prejuízo. Claro que não. Eu não queria era jogar no lixo. Outros que os jogassem. Minha ultima declaração de amor a equipamento que dera tão boas alegrias á família.
A câmara de Super-8 e o projetor que tanta alegria me tinham dado, e estavam com o fim anunciado pela mídia, foram parar nas mãos de um amigo meu. Chamei-o no escritório, o Rafael Borda, e disse-lhe: -Te dou um presente que não vale nada por 2000 pesos. Isso eram mais ou menos 60 dólares. Topou e me perguntou se eu não ficaria no prejuízo. Claro que não. Eu não queria era jogar no lixo. Outros que os jogassem. Minha ultima declaração de amor a equipamento que dera tão boas alegrias á família.
Não guardo mais tralhas, e aprendi a viajar com uma mochila para qualquer lugar do mundo. Cabe tudo o necessário para passar pelo menos uns 15 dias limpo, lavado, cheiroso, barbeado, arrumado. Tralhas só ocupam lugar, atrapalham-nos a vida, e não servem para nada. Casa “clean” sem muitos móveis, de modo geral só o necessário, dão menos trabalho.
Um dia conto outras notícias de vários "fronts".
® Rui Rodrigues
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