Um olhar cidadão sobre a greve dos policiais
Até
um sacerdote é, antes disso, um cidadão perante o Estado e a Nação. Muitos
acham que Estado e nação são a mesma coisa. Seria, sim, se o governo da nação
representasse os cidadãos. No entanto, atuam sem consultar os cidadãos, porque crêem
ou pressupõem que têm o poder de pensar, adivinhar, julgar, saber ou inventar o
que o povo deseja. Na minha modesta opinião somente pode haver certeza de saber
o que os cidadãos desejam, perguntando a todos, um a um. Como não se pergunta
aos cidadãos, a Nação é o conjunto dos cidadãos, e o Estado, é a Nação
acrescida dos governantes e terceirizados, e de todos os que dependem de
pagamentos ou favores do governo.
Sacerdotes,
médicos, dentistas, engenheiros, fiscais, bombeiros, garimpeiros, atacadistas,
comerciantes, embarcados, militares, encanadores, carpinteiros, varredores de
ruas, empregadas domésticas, doutores, juízes, vereadores, senadores, deputados,
presidentes da república, vice-presidentes, governadores e ministros... E todo
e qualquer ser humano que viva no país e dele faça parte, é um cidadão, parte
da nação, com os mesmos direitos, ou quase... Há restrições...
Policiais
e membros das forças armadas não podem fazer greve...
Então,
já não são cidadãos por completo... Falta-lhes algo: O direito de proclamarem
sua insatisfação, por exemplo, com os salários.
Vemos vereadores, deputados, senadores... Juízes... Imaginem!... Aqueles que estão no topo da lei, fazendo e aprovando leis, dizendo-nos o que é moral e imoral... Votando os próprios salários... E como votaram!
Pelo
amor de Deus... SE não tivessem esses cargos tão altos, poderíamos jurar que
não sabem nada de matemática, porque se deram aumentos de centenas por cento e
ganham hoje fábulas de dinheiro, mensalmente, dignas de contos das mil e uma
noites...
Que
dispositivo legal se implementará para que policiais e membros das forças
armadas possam reivindicar melhorias de qualquer espécie, como qualquer
cidadão?
Com
que moral se pode exigir de um militar ou membro das forças armadas que engula
o salário que lhes dão e os benefícios que lhes dão, e fiquem calados, inertes,
obedientes, e sobretudo dedicados com prazer às suas funções ?
Pra
nós cidadãos, como nos sentiremos com uma força policial e militares que estão
insatisfeitos com a vida?
Inseguros!
Se
todos nós estivéssemos insatisfeitos, diríamos a esses militares para se
calarem e pararem de fazer greve porque todos nós estaríamos também no mesmo
barco, sofrendo do mesmo mal que enfrentaríamos como nação...
Mas
como sabemos, há gente, toda ela do governo, que não está no mesmo barco.
Esses, não têm o salário que merecem.
Esses têm o salário que querem!.
Temos
duas nações convivendo na mesma nação: a Nação dos que governam, e a grande
nação do povo brasileiro, que assiste à deterioração cada vez maior da ética,
da moral e do conceito de democracia.
A ditadura voltou. Não aquela das velhas ideologias, mas a que busca lucros, boa vida, prazer, poder...
Bem
a propósito, onde anda o ministro das forças armadas que até agora não apareceu
na cena? Aquele que se veste com gravatinha borboleta, como os dandys nos anos
60, época de revoluções socialistas, pregando a igualdade e a liberdade para os
cidadãos, além de uma vida melhor?
Rui
Rodrigues