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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Cronicas do Peró - siris,toco e pimenta rosa

Hoje saí para pescar siri, mas só colhi um ramo de pimenta rosa e coletei um toco.



Saí de casa em dia de sol e céu de brigadeiro, e caminhei 150 metros até a borda da areia da praia. Depois mais 500 metros até as pedras do Pontal, e fiz o percurso de volta. Levei meu puçá de cabo para apanhar uns siris. Estava com vontade de fazer um espaguete de siri com queijo ralado e molho de pimenta rosa. Logo na areia da praia me deparei com uma “poluição” saudável: Restos de  algas, pedaços de vegetais empurrados pelas marés, trazidos das ilhas em frente. São bastantes ilhas que compõem a paisagem.  Hoje havia uns dois ou três tarrafeiros tentando pescar umas tainhas ou paratis distraídos. Não tem sido grande a pesca artesanal e de subsistência por aqui porque o barco de arrasto passou antes da páscoa para limpar a área de peixes e tudo o que vem no arrasto. A ultima maré trouxe também um lindo tênis branco solitário da direita, cordões ainda amarrados, um par desencontrado de sandálias tipo hawaianas, uma profusão de tampas plásticas de garrafas pet, pedaços de isopor e de cordas. Marés já trouxeram até coisas bem maiores, como um cadáver de baleia que tresandou a praia por uns bons quinze dias, imobilizado nas pedras. Hoje a água estava morna.



Mas hoje não havia siris. Não vi nenhum. Devem andar assustados como tudo o que vive em Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil e arredores. Há bastante tempo que não vejo siris por aqui. Há muito tempo mesmo, quase um ano. Nem as conchas, difíceis de coletar, enterradas na areia. Mas a natureza sempre nos compensa, e hoje fui compensado com três coisas: Uma revoada de centenas de andorinhas percorrendo as dunas, um toco para a minha churrasqueira para dar sabor ao churrasco, e um ramo de sementes de aroeira, a famosa pimenta rosa.

A pimenta rosa é coletada de forma extrativista na região. O que mais existe por aqui são aroeiras, mexilhão nas pedras do Pontal, pitangas selvagens, paratis nas ondas e gente que chega em caminhões e ônibus e enchem a praia de sujeira que é recolhida como se pode. Os papagaios passam sem parar a caminho das ilhas para pernoitarem fazendo uma chilreada alegre. Os pica-paus não se misturam com os quero-queros senão o cantar dos filhotes seria meio estranho e misturado.
A coleta permite que empresas revendedoras vendam, a granel, o quilo dos grãos de pimenta rosa entre  49,00  e 100,00 reais. Para um custo de matéria prima igual a zero, por ser uma dádiva da natureza pródiga, é um custo muito alto. Ainda mais quando se sabe que os coletores a vendem aos atravessadores a 1,50 reais o quilo.  Mas quando chega à Europa, por exemplo, é vendida a 4,00 euros, ou 15 reais o sache de 40 gramas. Isto resulta num preço de quilo de 375 reais o quilo. Realmente a economia mundial padece de alguns controles para evitar o excesso de lucros tão gritantes. Algo que custa 1,50 na colheita não deveria ser vendido a 375,00. Isto é uma loucura e impede o largo consumo por economia de escala.

A fábrica de refrigerantes da Shweeps fabrica uma especialidade à base de pimenta rosa, alguns perfumes franceses têm como matéria prima a pimenta rosa, condimentos e até sardinhas são fabricados com pimenta rosa. Quanto ao sabor não há nada comparável. Em lugar algum. O sabor e o cheiro são únicos. Ainda me lembro de meus passeios pelo campo nas fazendas do Rio Grande do Sul, quando me diziam que ao passar perto de uma aroeira a teria que cumprimentar humildemente, dizendo: Bom dia ou boa tarde senhora aroeira, para não sentir alergia que poderia até fechar a garganta. Sou alérgico a muitas coisas, inclusive à incompetência, mas à senhora aroeira, não.



® Rui Rodrigues 

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